.

Panama, Spitisbergen, Nova Zemblaya
1996. Escultura, 600X210X370 cm

 


Bernouilli
1995. Escultura, 230X600X300 cm


Das Flugzeug
1967. Instalação, 150X700X1600 cm

 



Panamarenko

Texto de Michel Baudson, in Panamarenko (Paris, Flammarion,1996)


A Ética da Utopia

"Só me interesso pela consciência divergente, pois somente nela podemos encontrar as energias utópicas."
Harald Szeeman

A utopia vivida como experiência pura, como pesquisa básica paralela, livre da obrigação de ser eficiente, une o possível ao impossível por meio da prática de técnicas e de cálculos, paralelos ou não, cuja soma poética permite o reencontro da ciência e da arte como uma `travessia dos conhecimentos´.

Graças à energia de sua diferença, a utopia gera a beleza, amplia a dimensão artística, revitaliza a emoção. Como apontou Jean-Christophe Aeschlimann, "desenha-se aí a forma de uma resposta sem precedentes, desmotivada e atravessada por sua possibilidade de questionar", uma resposta sem precedentes, onde os princípios do conhecimento e os projetos de mudança são desviados das formas estabelecidas e das conclusões redundantes que procedem de referências antagônicas da arte/ciência, ultrapassando a constatação de Merleau-Ponty segundo a qual "a ciência manipula as coisas e renuncia a habitá-las". A `racionalidade impensável´ - definição heideggeriana da arte - tornou-se uma prática ética que permite ultrapassar seus conhecimentos enganosos recíprocos depois de ter denunciado a dicotomia `protocolar´ sem sentido.

A utopia torna-se então uma racionalidade que pode ser pensada, liberta do peso das impossibilidades inculcadas e das alienações aceitas, mas também "isenta de qualquer tensão trágica" como justamente observou Hans Theys.

E, na realidade, desde Flugzeug, Panamarenko alçou vôo alcançando uma altura bem acima do peso da tragédia. Sentado na sela - símbolo por excelência do movimento libertário - ele já dialoga com seus cálculos que elevam. Ele recusa, portanto, a onipotência do cavalo a vapor inventado por uma revolução industrial que dera preferência aos discursos sobre a liberdade codificada à linguagem do homem autônomo. Sua primeira pedalada deu curso livre a esse `saber alegre´ que ele amplia a partir de então, na diversão de sua gravitação individual, para nunca mais utilizar nem a iconografia estabelecida - aquela do status quo, da repetição, da cópia ou da imitação - nem a tecnologia primária que tem por único objetivo a busca do poder e da violência que se segue.

Já que o jogo artístico situa-se depois da liberdade permitida pela utopia, Panamarenko pode, de fato, `se divertir´ à medida que sua prática da experiência continua interessada unicamente nas respostas imprevisíveis, sabendo que sem jogo ou risco da fortuna só podem existir experiências autônomas. É vivendo o aleatório, fora do programa, que ele pode responder ao que é imprevisível no mundo, recusando-se a colocar o conhecimento nos trilhos ou a seguir os códigos das auto-estradas da informação.

Sem dúvida não é sem motivo que Panamarenko não se interessou até agora pelos trens como meio de locomoção que programa o espaço-tempo fora de qualquer gravitação individual: pensar que precisa descarrilhar para salvaguardar sua liberdade seria para ele um contrasenso demasiadamente violento.

Assim, a deriva do sonho se conduziu a uma ética da autonomia e o projeto pessoal a uma interrogação universal.

É aí que encontramos aquilo que nos apaixona hoje, e essa diferença continua - mais de 30 anos depois de suas primeiras experimentações - a se acentuar em relação aos sistemas e conseqüências do mundo da arte estabelecido e aceito como tal.

Panamarenko pensa e age de outra maneira para desenvolver uma anarquia mais positiva do que perversa, que recusa todas as diferenças qualitativas entre a intuição poética, a pesquisa científica, a prática técnica e o sonho irônico. Com sua irreverência fundamental, sua gravitação individual se eleva para além da alienação de uma sociedade onde a inteligência, a sensibilidade e a riqueza onírica são geralmente reduzidas a mercadorias-padrão que nivelam a necessidade de status intelectual. Com sua prática de evidenciar a diferença, Panamarenko faz do conjunto de sua obra uma parábola de sua liberdade, propondo àqueles que queiram ver e ouvir os fundamentos necessários para um novo Éloge de la folie.

"Ele nunca está atrasado para nada.
Seu coração está liberto de qualquer movimento;
Ele é dono de seu futuro, nenhum resíduo se deteriora."
Nataumé Sôseki



Cronologia


Nasceu em 1940, na Antuérpia, Bélgica, onde vive e trabalha. Estudou na Academia Real de Belas-Artes da Antuérpia. Em 1963, expôs suas primeiras obras: Cooper Plates with Bullet-Holes. Em 1965 fez as colagens para os Happening News e os primeiros happenings na Antuérpia. Em 1966, criou a Galeria Wide White Space, na Antuérpia, onde expôs seus primeiros `objetos poéticos´. Em 1967 construiu seu avião Flugzeug. Foi convidado em 1968 pela Académie de Düsseldorf, por Joseph Beuys, que ele reencontrara na Galeria Wide White Space e aí expôs, entre outras obras, L´Avion e Prova Car. Entre 1969 e 1971, construiu L´Aeromodeller. Mudou-se para a casa onde ainda vive com sua mãe, que o ajudou a trançar a cabine de seu balão dirigível. Realizou a primeira tentativa de vôo com hidrogênio, mas a abandonou por questões de segurança. A maioria de suas obras se encontra guardada em um hangar construído especialmente por ele em Bergeijk, pelos colecionadores Mia e Martin Visser. Em 1972 foi convidado por Harald Szeemann para a Documenta 5, e L´Aeromodeller foi armado na grande sala do Fredericianum. Passou três meses no Cranfield Institute of Technology, Grã-Bretanha, onde construiu e testou o U-Kontrol III. Em 1975 publicou The mechanism of gravity, closed systems of speed alterations e outros textos pela Marzona, de Bielefeld, Alemanha. Em 1984, iniciou uma série de viagens que muito influenciaram suas obras: "Até a idade de 45 anos eu nunca havia colocado os pés fora de meu país, exceto quando fui a Nova York e Berlim: mesmo assim, ficava sempre no local da exposição, nunca viajando fora desse circuito". Nas montanhas Furka, na Suíça, fez seu primeiro Rugzak, sua biga de montanha, e o automóvel voador K2; no Egito, no Mar Vermelho, descobriu a fauna submarina; nas ilhas Maldivas experimentou seu escafandro The Portuguese Man of War; na Amazônia, procurou o hoazin, pássaro pré-histórico; em 1992 e 1993, no Japão, realizou diversas exposições. Em 1994, construiu seu camelo de duas patas, Knikkebeen. Atualmente trabalha em um projeto submarino.


Exposições individuais

1995
Bernouilli, Galerie Christine e Isy Brachot, Bruxelas, Bélgica. Become form, Kunsthalle, Berna, Suíça; Expérimentations, Centre de Création Contemporaine, Tours, França.
1993
Toymodel of Space et de Flip die Obstfliege, Europaisches Patentamt, Munique, Alemanha.
1992/93
Exposição itinerante em cinco locais: Tóquio, Japão; Osaka, Japão; Fukuyama, Japão; Toyama, Japão; Kamakura, Japão.
1991
Kunstverein, Hannover, Alemanha.
1990
L´Avion, Musée des Beaux-Arts, Chapelle de l´Oratoire, Nantes, França.
1989
Rétrospective 1965-1985, Museum van Hedendaagse Kunst, Antuérpia, Bélgica.
1987
Cité des Sciences et Industries, Parc de la Villette, Paris, França.
1986
Kunstverein, Ulm, Alemanha; Le Voyage aux Étoiles, Galerie Christine e Isy Brachot, Bruxelas, Bélgica.
1985
Vleeshal, Middelburg, Holanda.
1983
Musée de Villeneuve-d´Ascq, França.
1982
Haus der Kunst, Munique, Alemanha.
1981
L´Aeromodeller, Centre Georges Pompidou, Paris, França.
1978
Nationalgalerie, Berlim, Alemanha; Rijksmuseum Kröller-Müller, Otterlo, Holanda; Palais des Beaux-Arts, Bruxelas, Bélgica.
1974
Hangar de Panamarenko, exposição organizada por Stedelijk Van Abbe Museum d´Eindhoven, Bergeijk, Holanda.
1973
Kunstmuseum, Lucerna, Suíça; Kunsthalle, Düsseldorf, Alemanha; Kunstverein de Stuttgart, Alemanha; Museé d´Art Moderne de la Ville de Paris, França.
1972
L´Aeromodeller, Documenta 5, Grande Sala do Fredericianum, Kassel, Alemanha.
1969
Closed System Power, Nova York, Estados Unidos; Galeria René Block, Museu de Mönchengladbach, Berlim, Alemanha; Galeria Konrad Fischer, Düsseldorf, Alemanha; Galeria Rudolf Zwirner, Colônia, Alemanha; When Attitudes Become Form, Kuntshalle, Berna, Suíça; Het geheim der specialisten, de fijne vliegtuigmecanica, P.A.T. Portable Air Transport, Galeria Wide White Space, Antuérpia, Bélgica.
1968
Galeria Wide White Space, Antuérpia, Bélgica.
1967
Galeria Orez, Haia, Holanda; Opgepast! Bochten! Blijf op Het Voetpad!, Galeria Wide White Space, Antuérpia, Bélgica.