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Frágeis
1995. Nanquim e pigmento ouro s/ papel de seda, 75X50 cm cada (série de 20). Foto: Romulo Fialdini

 


Floribus Explere (detalhe)
1995/96. Técnica mista s/ papel, 0,70X0,65 cm. Foto: Romulo Fialdini


Dislocatum
1994. Látex e talco, 80X340 cm. Foto: Eduardo Ortega

 



Flávia Ribeiro

Por Rafael Vogt Maia Rosa, 1996


Corpo Soluto

Ao olhar seus trabalhos sente-se quebrar a distância fria que se manteria de um quadro. O tecido treme com o vento, a superfície com marcas orgânicas é familiar, de cor alterada como a de tudo que é vivo. Com incerteza e reverência, tem-se a impressão de que é outro ser que está ali.

A seiva que transitava por dentro de um tronco escorreu para fora ocupando um novo espaço em que está vívida, com cheiro fresco. Fez-se um corpo sem interior que agoniza mudo a dor de permanecer vivo, de reencontrar o movimento, nu, provando o ar pela primeira vez.

Carregam a re-criação do que os seres vivos nos deixariam em sua ausência. Parece ter-se dado uma condição física para o que não era puramente físico, um sentido presente para o inapreensível, o que se manipulou uma vez e se perdeu no esquecimento, o testemunho insatisfeito de uma caminhada em que se tem certeza da vida ao redor, mas se duvida do tempo agindo nela.

Na técnica derivada da gravura, em que se molda algo para imprimi-lo, há uma transgressão que evidencia não se querer reproduzir nada. O que possibilitava conservar pela impressão é, ao contrário, um instrumento para denunciar a impermanência, o momento breve em que corpos se desfiguram no contato entre si. Pela prensa passam vegetais inteiros que se fixam em metamorfose e a estabilidade anterior das imagens reverte-se num fóssil recente e convulsionado. Novos membros, a flor como um sexo, uma folha como uma mão sem o peso dos ossos, das articulações, somente com o sentido de tudo o que tocou. Perde-se o que era reconhecido e vislumbra-se o oculto no secar, dilatar, oxidar, em uma conjunção de tempos que presentifica a afinidade entre todas as formas enquanto se desfazem.

Diante da profusão de perguntas sobre o que resistiria à aparência das coisas, à sua desintegração - em lugar de se esconder em uma resolução mental que ordene a matéria para apontar uma resposta definida -, aceita-se a precariedade da ação do artista que trabalha em vigília, confirmando transformações lentas e invisíveis, que espera paciente a vivência dos fatos, alimentando seus mistérios até re-criar a ação do meio e do tempo em seus trabalhos.

O botânico trabalha coletando provas da ação da natureza, nomeando-a. A poética do trabalho pediu que se fundisse no próprio processo de criação a dúvida de haver ou não uma ação que nomeie. Revela-se um momento em que acreditamos, não pela análise, mas por uma respiração fraca, na força da luz que no brilho irmana tudo.



Cronologia


Nasceu em 1954 em São Paulo. Freqüentou a Escola Brasil entre 1970 e 1974, em São Paulo. Foi aluna dos artistas Carlos Fajardo 1975 e Dudi Maia Rosa 1976-1977. Freqüentou entre 1978 e 1980, como ouvinte, o curso de pós-graduação em gravura, na Slade School of Fine Art, Londres. Em 1992 foi artista residente na Slade School of Fine Art, Londres, com apoio do British Council e da Fundação Vitae. Vive e trabalha em São Paulo.


Exposições individuais

1995
Frágeis, Espaço Cultural Sergio Porto, Rio de Janeiro, Brasil.
1994
Galeria Millan, São Paulo, Brasil.
1993
Reliquiae Rerum, Capela do Morumbi, São Paulo, Brasil.
1991
Galeria Millan, São Paulo, Brasil.
1989
Projeto Macunaíma, Galeria Espaço Alternativo, Rio de Janeiro, Brasil.
1988
Galeria Millan, São Paulo, Brasil.


Exposições coletivas

1995
V Bienal de Santos, artista convidada, Cadeia Municipal, Santos, Brasil; Objeto Gravado, Museu da Gravura, Curitiba, Brasil; Livro Objeto: A Fronteira dos Vazios, Museu de Arte Moderna, São Paulo, Brasil; Espelhos e Sombras, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, Brasil.
1994
Espelhos e Sombras, Museu de Arte Moderna, São Paulo, Brasil; Livro Objeto: A Fronteira dos Vazios, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, Brasil; Pequeno Formato Latino-Americano, Luigi Marrozine Gallery, Porto Rico; Livro de Artista, Centro de Artes Visuais Raimundo Cela, Fortaleza, Brasil; Cinco Artistas de São Paulo, Paço Imperial, Rio de Janeiro, Brasil; BR-UK, Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, Brasil; Via Fax, Museu do Telefone, Rio de Janeiro, Brasil; Bienal Brasil Século XX, exposição itinerante em dois locais no Brasil: Fundação Bienal de São Paulo; Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro.
1993
Panorama da Arte Atual Brasileira, Museu de Arte Moderna, São Paulo, Brasil; Brasil: Segni dArte, exposição itinerante em quatro locais na Itália: Florença; Fondazione Scientifica Querini Stampalia; Veneza; Biblioteca Nazionale, Milão; Galeria Candido Portinari, Roma.
1992
Polaridades e Perspectivas, Paço das Artes, São Paulo, Brasil; Mulheres Artistas da Pinacoteca, Pinacoteca do Estado, São Paulo, Brasil; Galeria Millan, São Paulo, Brasil.
1991
BR-80, Instituto Cultural Itaú, São Paulo, Brasil.
1990
Panorama da Arte Atual Brasileira, Museu de Arte Moderna, São Paulo, Brasil; Brazil Projects: Painterly, exposição itinerante em dois locais: Municipal Art Gallery, Los Angeles, Estados Unidos; Museu de Arte de São Paulo, Brasil.
1989
XX Bienal Internacional de São Paulo, Fundação Bienal de São Paulo, Brasil; São Paulo Arte Contemporânea: Perspectivas Recentes, Centro Cultural, São Paulo, Brasil; Projeto Macunaíma, Galeria Sérgio Milliet, Rio de Janeiro, Brasil.
1988
X Salão Nacional, Funarte, Rio de Janeiro, Brasil; VI Salão Paulista de Arte Contemporânea, sala especial da Fundação Bienal de São Paulo, Brasil; 1981-1987, Galeria Arco, São Paulo, Brasil.
1987
A Trama do Gosto, Fundação Bienal de São Paulo, Brasil; V Salão Paulista de Arte Contemporânea, Pinacoteca do Estado, São Paulo, Brasil.
1985
VIII Salão Nacional, Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, Brasil.
1981
Slade Print Show, Greenwich Gallery, Londres, Inglaterra.
1980
PPMC Print Show, Graffiti Gallery, Londres, Inglaterra.
1978
Gravuras e Aquarelas, Pindorama, São Paulo, Brasil.
1977
V Salão Jovem de Santos, Centro Cultural Brasil/Estados Unidos, Santos, Brasil.
1976
VII Salão Paulista de Arte Contemporânea, Paço das Artes, São Paulo, Brasil.


Prêmios

1989
Prêmio Itamaraty, XX Bienal Internacional de São Paulo.
1988
Prêmio Aquisição, X Salão Nacioanal.
1987
Prêmio Salão Paulista, V Salão Paulista de Arte Contemporânea.
1977
Prêmio Aquisição, V Salão Jovem de Santos.
1976
Prêmio Aquisição, VII Salão Paulista de Arte Contemporânea.