| Por Rafael Vogt Maia Rosa, 1996
Corpo Soluto
Ao olhar seus trabalhos sente-se quebrar a distância fria que se manteria de um quadro. O tecido treme com o vento, a superfície com marcas orgânicas é familiar, de cor alterada como a de tudo que é vivo. Com incerteza e reverência, tem-se a impressão de que é outro ser que está ali.
A seiva que transitava por dentro de um tronco escorreu para fora ocupando um novo espaço em que está vívida, com cheiro fresco. Fez-se um corpo sem interior que agoniza mudo a dor de permanecer vivo, de reencontrar o movimento, nu, provando o ar pela primeira vez.
Carregam a re-criação do que os seres vivos nos deixariam em sua ausência. Parece ter-se dado uma condição física para o que não era puramente físico, um sentido presente para o inapreensível, o que se manipulou uma vez e se perdeu no esquecimento, o testemunho insatisfeito de uma caminhada em que se tem certeza da vida ao redor, mas se duvida do tempo agindo nela.
Na técnica derivada da gravura, em que se molda algo para imprimi-lo, há uma transgressão que evidencia não se querer reproduzir nada. O que possibilitava conservar pela impressão é, ao contrário, um instrumento para denunciar a impermanência, o momento breve em que corpos se desfiguram no contato entre si. Pela prensa passam vegetais inteiros que se fixam em metamorfose e a estabilidade anterior das imagens reverte-se num fóssil recente e convulsionado. Novos membros, a flor como um sexo, uma folha como uma mão sem o peso dos ossos, das articulações, somente com o sentido de tudo o que tocou. Perde-se o que era reconhecido e vislumbra-se o oculto no secar, dilatar, oxidar, em uma conjunção de tempos que presentifica a afinidade entre todas as formas enquanto se desfazem.
Diante da profusão de perguntas sobre o que resistiria à aparência das coisas, à sua desintegração - em lugar de se esconder em uma resolução mental que ordene a matéria para apontar uma resposta definida -, aceita-se a precariedade da ação do artista que trabalha em vigília, confirmando transformações lentas e invisíveis, que espera paciente a vivência dos fatos, alimentando seus mistérios até re-criar a ação do meio e do tempo em seus trabalhos.
O botânico trabalha coletando provas da ação da natureza, nomeando-a. A poética do trabalho pediu que se fundisse no próprio processo de criação a dúvida de haver ou não uma ação que nomeie. Revela-se um momento em que acreditamos, não pela análise, mas por uma respiração fraca, na força da luz que no brilho irmana tudo.
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| Nasceu em 1954 em São Paulo. Freqüentou a Escola Brasil entre 1970 e 1974, em São Paulo. Foi aluna dos artistas Carlos Fajardo 1975 e Dudi Maia Rosa 1976-1977. Freqüentou entre 1978 e 1980, como ouvinte, o curso de pós-graduação em gravura, na Slade School of Fine Art, Londres. Em 1992 foi artista residente na Slade School of Fine Art, Londres, com apoio do British Council e da Fundação Vitae. Vive e trabalha em São Paulo.
Exposições individuais
1995 Frágeis, Espaço Cultural Sergio Porto, Rio de Janeiro, Brasil. 1994 Galeria Millan, São Paulo, Brasil. 1993 Reliquiae Rerum, Capela do Morumbi, São Paulo, Brasil. 1991 Galeria Millan, São Paulo, Brasil. 1989 Projeto Macunaíma, Galeria Espaço Alternativo, Rio de Janeiro, Brasil. 1988 Galeria Millan, São Paulo, Brasil.
Exposições coletivas
1995 V Bienal de Santos, artista convidada, Cadeia Municipal, Santos, Brasil; Objeto Gravado, Museu da Gravura, Curitiba, Brasil; Livro Objeto: A Fronteira dos Vazios, Museu de Arte Moderna, São Paulo, Brasil; Espelhos e Sombras, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, Brasil. 1994 Espelhos e Sombras, Museu de Arte Moderna, São Paulo, Brasil; Livro Objeto: A Fronteira dos Vazios, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, Brasil; Pequeno Formato Latino-Americano, Luigi Marrozine Gallery, Porto Rico; Livro de Artista, Centro de Artes Visuais Raimundo Cela, Fortaleza, Brasil; Cinco Artistas de São Paulo, Paço Imperial, Rio de Janeiro, Brasil; BR-UK, Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, Brasil; Via Fax, Museu do Telefone, Rio de Janeiro, Brasil; Bienal Brasil Século XX, exposição itinerante em dois locais no Brasil: Fundação Bienal de São Paulo; Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro. 1993 Panorama da Arte Atual Brasileira, Museu de Arte Moderna, São Paulo, Brasil; Brasil: Segni dArte, exposição itinerante em quatro locais na Itália: Florença; Fondazione Scientifica Querini Stampalia; Veneza; Biblioteca Nazionale, Milão; Galeria Candido Portinari, Roma. 1992 Polaridades e Perspectivas, Paço das Artes, São Paulo, Brasil; Mulheres Artistas da Pinacoteca, Pinacoteca do Estado, São Paulo, Brasil; Galeria Millan, São Paulo, Brasil. 1991 BR-80, Instituto Cultural Itaú, São Paulo, Brasil. 1990 Panorama da Arte Atual Brasileira, Museu de Arte Moderna, São Paulo, Brasil; Brazil Projects: Painterly, exposição itinerante em dois locais: Municipal Art Gallery, Los Angeles, Estados Unidos; Museu de Arte de São Paulo, Brasil. 1989 XX Bienal Internacional de São Paulo, Fundação Bienal de São Paulo, Brasil; São Paulo Arte Contemporânea: Perspectivas Recentes, Centro Cultural, São Paulo, Brasil; Projeto Macunaíma, Galeria Sérgio Milliet, Rio de Janeiro, Brasil. 1988 X Salão Nacional, Funarte, Rio de Janeiro, Brasil; VI Salão Paulista de Arte Contemporânea, sala especial da Fundação Bienal de São Paulo, Brasil; 1981-1987, Galeria Arco, São Paulo, Brasil. 1987 A Trama do Gosto, Fundação Bienal de São Paulo, Brasil; V Salão Paulista de Arte Contemporânea, Pinacoteca do Estado, São Paulo, Brasil. 1985 VIII Salão Nacional, Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, Brasil. 1981 Slade Print Show, Greenwich Gallery, Londres, Inglaterra. 1980 PPMC Print Show, Graffiti Gallery, Londres, Inglaterra. 1978 Gravuras e Aquarelas, Pindorama, São Paulo, Brasil. 1977 V Salão Jovem de Santos, Centro Cultural Brasil/Estados Unidos, Santos, Brasil. 1976 VII Salão Paulista de Arte Contemporânea, Paço das Artes, São Paulo, Brasil.
Prêmios
1989 Prêmio Itamaraty, XX Bienal Internacional de São Paulo. 1988 Prêmio Aquisição, X Salão Nacioanal. 1987 Prêmio Salão Paulista, V Salão Paulista de Arte Contemporânea. 1977 Prêmio Aquisição, V Salão Jovem de Santos. 1976 Prêmio Aquisição, VII Salão Paulista de Arte Contemporânea.
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