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O Lago e a Montanha
1996. Projeto para Universalis

 


O Lago e a Montanha (detalhe)
1996. Still da vídeo-instalação. Haia, 17th Wide Video Festival


The Desert in My Mind
1992. Vídeo-instalação. Foto: Eugenio Savio

 



Eder Santos

Por ele mesmo


O Lago e a Montanha


Introdução

As imagens se transmutam pela superfície de projeção, o cinema escolhe a grande tela para mostrar as riquezas da profundidade ótica da lente fotográfica. A profundidade de campo das imagens do cinema se contrapõe à imagem plana do vídeo. As imagens foram confinadas a espécies de cartões postais que recortam e reduzem paisagens tornando-as simples trechos desordenados dentro da confusão informativa da era da reprodutibilidade técnica.

A TV (monitor), no caminho de seus elétrons, explode irradiando à visão dos homens a imagem plana das redes de comunicação mundial.

A proposta da projeção de imagens em suportes como a montanha e o lago tentam recuperar a contemplação da paisagem, tentam trazer de volta a experiência orgânica da observação. Contando com esses propósitos típicos da cultura oriental, o I Ching - livro das mutações - surge como elemento que se soma à mutabilidade das imagens e da superfície - montanha e lago.


Tempo de contemplação

A velocidade das imagens elimina o tempo da contemplação e da reflexão acerca do que é visto. A busca cega pela rapidez da informação - rede de computadores, satélites, zapping, o mundo acessado em tempo real pela informatização - deixa de lado a possibilidade de pensar sobre o que é incessantemente exposto. A calma do olhar e a paz da compreensão deram lugar ao infindável fluxo eletrônico - nada continua, a permanência tornou-se sinônimo do passado.

A montanha imóvel, o lago que umedece a terra a torna maleável e transmutável.

"Após existirem o céu e a terra, surgem os seres individuais. Após existirem os seres individuais, surgem os dois sexos. Após existirem o masculino e o feminino, surge o relacionamento entre marido e mulher. Após existir a relação entre marido e mulher, surge a relação entre pai e filho. Após existir a relação entre pai e filho, surge a relação entre príncipe e súdito. Após existir a relação entre princípe e súdito, surge a diferença entre o superior e o inferior. Após existir a diferença entre superior e inferior, as regras quanto ao que é próprio e correto podem se exercer."*


A Estrutura Dinâmica

A estrutura de "O Lago e a Montanha" pressupõe relações aleatoriamente estabelecidas entre diferentes seqüências de imagens. Seguindo o padrão combinatório onde a montagem se dá diretamente no momento da exibição, a possibilidade de interferência arbitrária do autor no resultado final do processo artístico é drasticamente reduzida. A obra permanece como um contínuo "work-in-progress", segue sendo montada a cada combinação randômica que não tende a um final. Algoritmos respondem pela ordenação das imagens; ao artista cabe o lançamento dos dados.


A Montagem

O cenário da instalação é composto por uma montanha e um lago artificiais montados de forma a receberem cinco projeções de imagem. Cinco projetores de vídeo receberão imagens acessadas aleatoriamente através de quatro laser videodisc players. Cada videodisco terá diferentes seqüências de imagem que serão acessadas randomicamente, possibilitando diferentes e variadas combinações. O áudio da instalação será reproduzido a partir de dois dos aparelhos de videodisco através de dois amplificadores e quatro caixas de som montados de forma a reproduzir diferentes ambientações: uma para a montanha e outra para o lago.

*Trecho retirado de "32. Hisien". Segunda parte do I Ching - O Livro das Mutações. Richard Wilhelm. Tradução de Alayde Mutzenbecher e Gustavo Alberto Corrêa Pinto. Editora Pensamento.



Cronologia


Nasceu em Belo Horizonte, 1960. Cursou Belas Artes (Universidade Federal de Minas Gerais) entre 1979 e 1982; graduou-se em Comunicação Visual pela FUMA, Belo Horizonte (1984). É sócio-fundador da produtora Emvideo. Trabalha e vive em Belo Horizonte.


Exposições individuais

1996
Enredando as Pessoas, exibição em dois locais: Pacific Film Archive, University of California, Berkeley, Estados Unidos; National Film Theater, Londres, Inglaterra.
1995
Enredando as Pessoas - Video Viewpoints, Museum of Modern Art, Nova York, Estados Unidos.
1992
Retrospectiva Eder Santos, 6e Manifestation Internationale de Video et Télévision, Montbéliard, França.
1991
Trabajos de Eder Santos, Instituto de Coperación Ibero Americana, Buenos Aires, Argentina.


Exposições coletivas

1995
Enredando as Pessoas, Inside Brazil, Exhibition of Brazilian Video Art, Long Beach Museum of Art, Estados Unidos.
1994
Janaúba, Université de Rennes, França.
1993
Uakti, Rito & Expressão, In(dig)nação e Janaúba (vídeos), Mostra Verde Amarelo, Retrospectiva de Arte Brasileira, Vente Museum, Tóquio, Japão; Janaúba, Latin American Videos, Museum of Modern Art, Nova York, Estados Unidos; Essa Coisa Nervosa, Between Words and Images, Museum of Modern Art, Nova York, Estados Unidos.
1992
Essa Coisa Nervosa, Commited Visions, Museum of Modern Art, Nova York, Estados Unidos; Retrospectiva Eder Santos, IXTLY South American Video, Bremen, Alemanha.
1991
Brazilian Videos, Pacific Film Archive, University Art Museum, University of California, Berkeley, Estados Unidos; Não Vou à África Porque Tenho Plantão, New Artists from EAI, Anthology Films Archive, Nova York, Estados Unidos.
1990
Uakti e Rito & Expressão, Arizona Center for Media Arts, Estados Unidos.


Vídeo-instalações

1994
Trem de Terra, Projeto Arte/Cidade - Cidade Sem Janelas -, Antigo Matadouro Municipal Vila Mariana, São Paulo, Brasil.
1992
The Desert in My Mind, 9º Festival Internacional Videobrasil, São Paulo, Brasil.
1991
A Santíssima Trindade, Forum BHZ Video, Centro Cultural da UFMG, Belo Horizonte, Brasil.
1990
Rito & Expressão, 8º Festival Internacional Videobrasil, Museu da Imagem e do Som, São Paulo, Brasil.


Performances

1994
Poscatidevenum, espetáculo intermídia show, 10º Festival Internacional Videobrasil, Sesc Pompéia, São Paulo, Brasil.
1993
Janaúba/The Desert in My Mind, música ao vivo durante a projeção das imagens, Knitting Factory, Nova York, Estados Unidos; Poscatidevenum, espetáculo intermídia show, Palácio das Artes, Belo Horizonte, Brasil.
1992
Light Houses, música ao vivo durante a projeção de imagens, Day Center for The Arts, Nova York, Estados Unidos.
1991
House Sleeps Fire, música ao vivo durante a projeção de imagens, Segue Performance Space, Nova York, Estados Unidos.


Exibições em festivais

1995
Enredando as Pessoas, exibição em dois festivais: 6e Semaine Internationale de Vidéo Saint-Gervais, Genebra, Suíça; mostra competitiva, Cinema, Noveau Festival International Cinéma Vidéo Nouvelles; Technologies Montréal, Le Festival du 2e Siècle, Canadá.
1994
Essa Coisa Nervosa, Ars Eletronica Festival/Intelligent Ambience, Viena, Áustria; Janaúba, exibição em quatro festivais: mostra competitiva/competitive exhibition, II Festival de Cortometrajes Latinoamericanos en Cine y Video, Caracas, Venezuela; Mostra Internacional de Video de Cádiz (mostra competitiva), Espanha; Danish Film Institute Workshop Festival, Copenhague, Dinamarca; New Visions International Film and Video Festival, Glasglow, Escócia.
1993
Janaúba, exibição em quatro festivais: Viper Film and Video Festival; Lucerna, Suíça; 1 Manifestation Internationale Vidéo et Art Électronique, Montreal, Canadá; XIV Video Art Festival Locarno, Suíça; 39 Internationale Kurzfilmtage Oberhausen, Alemanha.
1992
Essa Coisa Nervosa, exibição em três festivais: Videorama - 30th New York Film Festival, Nova York, Estados Unidos; Festival de Video de Cádiz, Espanha; World Wide Video Festival, Haia, Holanda.
1990
Uakti e Rito & Expressão, Festival de Cinema e Video de Berlim, Alemanha; Mentiras & Humilhações, Seme, Manifestation Internationale de Vidéo et Télévision de Montbéliard, França; Não Vou à África Porque Tenho Plantão, World Wide Video Festival, Haia, Holanda.
1989
Rito & Expressão, Tucano Artes Festival, Rio de Janeiro, Brasil.


Exibições em televisão

1995
Janaúba, Internationaler Videokunstpreis 1995, ZKM-Zentrum Für Kunst Und Medientechnologie, Südwest 3, ORF 2, Karlsruhe, Alemanha.
1993
Uakti, Mentiras & Humilhações, Rito & Expressão, Immagina-EVTV, Madri, Espanha.
1991
Mentiras & Humilhações, PBS-New Television, veiculação em rede nacional, Estados Unidos; Netos do Amaral, MTV, São Paulo e Rio de Janeiro, Brasil.
1991/90
Mentiras & Humilhações, PBS Stations, New Television, Nova York, Boston e Los Angeles, Estados Unidos.
1990
Uakti, BBC-White Noise, Illuminations Group, Inglaterra; Uakti, Canal Plus, França.
1988
Uakti, Much Music Television, Toronto, Canadá.


Prêmios

1995
Enredando as Pessoas, melhor montagem longa-metragem 35mm, 17º Festival Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano, Havana, Cuba; Janaúba; melhor vídeo, Festival de Video Franco-Latino-Americano, Bogotá, Colômbia.
1994
Janaúba, prêmio em dois festivais: melhor vídeo, 10º Festival Internacional Videobrasil, São Paulo, Brasil; menção especial, V Festival Internacional de Video, Cidade de Vigo, Espanha
1993
The Desert in My Mind, melhor video-instalação de 1992, Associação Paulista dos Críticos de Arte, São Paulo, Brasil.
1992
Essa Coisa Nervosa, menção especial, Montreal International Festival of New Cinema and Video, Montreal, Canadá; The Desert in My Mind, prêmio especial do júri, 9º Festival Internacional Videobrasil, São Paulo, Brasil.
1991
Não Vou à África Porque Tenho Plantão, prêmio especial CICV, Fotoptica Internacional Videobrasil, São Paulo, Brasil.
1989
Rito & Expressão, prêmio Tucano de Prata, melhor video experimental internacional, FestRio, Rio de Janeiro, Brasil.
1988
Uakti, três prêmios: prêmio Casa de Las Américas, Festival del Cine de Cuba, Havana, Cuba; Mentiras & Humilhações, melhor direção e melhor fotografia 3/4", 6º Festival Videobrasil, São Paulo, Brasil.
1987
Uakti, dois prêmios: prêmio Sol de Ouro, 3º Rio Cine Festival, Rio de Janeiro, Brasil; prêmio Tucano de Prata, melhor vídeo musical internacional, FestRio, Rio de Janeiro, Brasil.
1985
Interferência, melhor vídeo VHS experimental, 3º Festival Videobrasil, São Paulo, Brasil.