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Dome - Project for the 20th Century
1996. Cartas com fotos de nuvens, cogumelos impressos, mesa, cadeira, bambu, copos, lanternas, "reishi", lâmpadas. Instalação na XXIII Bienal Internacional de São Paulo. Foto: Fernando Chaves

 


The Century with Mushroom Clouds
1996 (14 de fevereiro). Projeto Nevada, EUA. Foto: Hiro Ihara


The Earth Has Its Black Hole Too
1994. Hiroshima. Foto: Kumio Oshima

 



Cai Guo-Qiang

Por Tsutomu Mizusawa

Cai Guo-Qiang é conhecido principalmente pelos seus extraordinários trabalhos nos quais utiliza pólvora. A excitação provocada pelo espetáculo é única, e o abismo entre a enorme quantidade de tempo e de trabalho utilizada em sua preparação e os poucos segundos em que ocorre a explosão perfaz uma lembrança inesquecível para o espectador e é uma parte do próprio trabalho. A série de trabalhos com pólvora é denominada Project for Extraterrestrials. Considerando esse fato, não podemos deixar de perceber que o conceito de Cai vai muito além da construção, da dramaticidade momentânea, e possui uma sensibilidade que considera a terra como um dos planetas. Em outras palavras, poderia ser descrito como um espaço terrestre expandido, subitamente, por meio de uma explosão, e que se torna um espaço celestial. Por outro lado, também poderíamos dizer que o tempo é trazido de volta de uma vez só, evocando lembranças do Gênesis. Fetus Movement II (1992), uma das séries de pólvora apresentadas por Cai em Hann Münden, Alemanha, foi preparada de tal forma que o próprio artista pudesse disparar a ignição de dentro de uma pequena ilha no meio de um grande círculo de pólvora e ao mesmo tempo manter um registro das mudanças das suas freqüências cerebrais e cardíacas. Há uma foto de Cai saindo em meio à fumaça provocada pela pólvora que mostra uma imagem totalmente nova do sacerdote/artista livre de qualquer raça, religião ou nação em particular.

Sendo a forma final da pólvora como arma a bomba atômica, não deixa de ser natural que o interesse de Cai tenha se voltado para ela durante os últimos anos. Cai, em sua condição de artista figurativo, tem, sem dúvida, um enorme interesse pela fumaça causada pela explosão. Segundo Cai, a nuvem em forma de cogumelo provocada pela bomba atômica foi "a marca visual do século 20", "com um formato de beleza heróica" que supera a "arte". Planetscape - a 20th Century of Mushrooms, a peça no. 26 do Project for Extraterrestrials, pretende criar uma nuvem em forma de cogumelo por meio do uso da pólvora em uma nação nuclear e foi imaginada em uma carta escrita em abril de 1995. O trabalho que aparece nesta exibição está totalmente relacionado com o projeto no. 26 e The Century with Mushroom Clouds, que Cai fez com pólvora, principalmente no campo de testes nucleares em Nevada, no mês de fevereiro. As fotos de Cai segurando pequenas nuvens em forma de cogumelo nas mãos - muito próximas da land-art criada por Michael Heizer e Robert Smithson - são particularmente interessantes. Nessas fotos, Cai faz uma homenagem aos bons trabalhos do passado e, ao mesmo tempo, continua questionando a validade da arte. Além disso, segundo afirmou o próprio Cai, sem que se reconheça "a terra como um campo de cogumelos", de nada vale representar a terra de forma figurativa. A cúpula construída com bambu e lanternas, que se refere à arquitetura da Renascença e que será colocada no centro da exposição, é o próprio símbolo da modernidade européia. Utilizando lanternas chinesas, a imagem da Renascença é desconstruída e transformada em um espaço festivo sem nenhuma conotação cristã e onde o espectador é convidado a brincar com um baralho cujas cartas contêm impressões de nuvens em formas de cogumelo. Isso não é apenas uma crítica à modernidade. Cai parece querer confirmar que a modernidade pode ser transformada em um espaço de esperança. Ironicamente, o fungo oriental, que tem exatamente a forma da nuvem de cogumelo, é um maravilhoso remédio natural que proporciona eterna juventude e longa vida.



Cronologia


Nasceu em 1957 na cidade de Quanzhou, Fujian, China. Entre 1980 e 1986, fez muitas viagens pelo platô tibetano, Dunhuang. Em 1985, graduou-se em artes plásticas pela Shanghai Theatrical University, mudando-se para o Japão em 1986. Em 1989, fez uma série de conferências sobre arte contemporânea no Beijing Central Art College, no Japão, e em outras instituições. De 1989 a 1991 desenvolveu pesquisas no Departamento de Artes Plásticas e Mídia da Universidade de Tsukuba, no Japão. Em 1993 foi para Paris, tendo recebido uma bolsa de estudos oferecida pela Fondation Cartier pour l'Art Contemporain. Recebeu, em 1995, o prêmio Benesse Corporation dado à Transculture Exhibition na 46a Biennale di Venezia. No mesmo ano, recebeu o prêmio Japan Cultural Design. Viveu em Nova York durante um ano, para participar do P.S. 1 International Studio Program para artistas escolhidos pelo programa ACC.


Exposições individuais

1994
Cheos, Setagaya Museum, Tóquio, Japão; To Flame, Tokyo Gallery, Tóquio, Japão; From the Pan-Pacific, Iwaki City Art Museum, Fukushima, Japão; Calendar of Life, Gallery APA, Nagoya, Japão.
1993
Long Mai, P3 Art and Environment, Tóquio, Japão.
1990
Osaka Contemporary Art Center, Osaka, Japão.


Exposições coletivas

1995
East Asia, The HO-AM Art Museum, Seul, Coréia; Bridge, Abyama, Tóquio, Japão; Bringing to Venice what Marco Polo Forgot, 46ª Biennale di Venezia, Veneza, Itália; The Orient - San-jo Tower, Museum of Contemporary Art, Tóquio, Japão; Project for Extraterrestrials n. 25: Restrained Violence-Rainbow, The 1st Johannesburg Biennial, Turbine Hall Building/ Johannesburg Power Station, Johannesburgo, África do Sul; Not Guite Vassela, The 51st Seripps Ceramics Annual, Ruth Chandler Williamson Gallery, Seripps College, Claremont, Estados Unidos.
1994
Project for Extraterrestrials n. 21: Myth - Shooting the Suns, Rijkmuseum Kroller, Muller/National Park De Hoge Veluwe, Otterlo, Holanda; Project for Extraterrestrials n. 16: The Earth Has Its Black Hole Too, Hiroshima City Museum of Contemporary Art, Hiroshima, Japão; Project for Extraterrestrials n. 20: Raising & Ladder to the Earth, Bath Festival Exhibition, Bath, Inglaterra; A Cosmic Diagram: The Fengrui Project for Mito, Mito Annual 94, Contemporary Art Gallery, Art Tower Mito, Ibaragi, Japão; Project for Heiankyo 1200th Anniversary: Celebration from Changan, Kyoto, Japão; Project for Extraterrestrials n. 14: The Horizon From the Pan-Pacific, Iwaki, Fukushima, Japão.
1993
Buried Civilization - Field Fitings, Outdoor Workshop'93, The Shigaraki Ceramic Cultural Park, Shigaraki, Shiga, Japão; Project for Extraterrestrials n.7: The Oxford Cornet, Museum of Modern Art, Oxford, Inglaterra; Project for Extraterrestrials n. 10: Project to dd 10,000 Meters to the Great Wall of China, Jiayuguan, China; History of the Rocket, Museum of Modern Art, Sakama, Japão; Project for Extraterrestrials n. 12: Myth of Humanity, Viena, Áustria; Project for Extraterrestrials n. 9: Feras Movement 2, Kassel, Alemanha.
1991
Project for Extraterrestrials n. 11: The Immensity of Heaven and Earth, Fukuoka, Japão; Waves of Asia, Three-Men Exhibition, Tokyo Gallery, Tóquio, Japão; Primeval Fireball - The Project for Projects, P3 Art and Environment, Tóquio, Japão.
1990
Project for Extraterrestrials n.5: Fetus Movement, The 7th Japan Ushimado International Art Festival, Okayama, Japão; Project for Extraterrestrials n. 4: I'm an Extraterrestrial - Project for Meeting with Tenjin, Museum City Tenjin, Fukuoka, Japão; Project for Extraterrestrials n. 3: Meteorite Craters Made by Human on Their 45.5 Hundred-Million Years Old Planet França.
1989
Project for Extraterrestrials n.1: Human Abade, Tama River Art Exhibition, Tóquio, Japão.
1985
Wuyi-shan Open Air Exhibition, Fujian, China; The Shangai and Fujian Youth Modern Art Joint Exhibition, Fuziu City Museum, Fujian, China.