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La Légende Zacrô-Zépé (série)
1990. Lápis de cor, cartolina, 15X30 cm

 


La Légende Zacrô-Zépé (série)
1990. Lápis de cor, cartolina, 15X30 cm


La Légende Zacrô-Zépé (série)
1990. Lápis de cor, cartolina, 15X30 cm

 



Frédéric Bruly Bouabré

Entrevista com Etienne Féau, publicada no catálogo da exposição Galerie des Cinq Continents, MAAO, Paris, 1995.

P. O senhor situa, em sua obra, o desenho e a escritura no mesmo plano?
R. Veja, quando a criança desenha, ela não conhece o pensamento. Mas um velho de 75 anos pensa muito. Quando desenho, o que me interessa é o pensamento, e eu prezo muito meu pensamento. Quando era estudante, escrevia mal, mas agora, quando escrevo, quase desenho as letras. E quando desenho, dou um sentido ao que já desenhei, um pensamento, porque o homem se interessa muito por seu pensamento, e o homem é um homem porque pensa. É isso que nos diferencia dos animais. É por isso que coloco, sempre que possível, pensamentos em torno de minhas obras... sou casado com meus pensamentos!

P. O senhor se considera um pensador, um artista, um etnólogo, um escritor, um profeta ou tudo isso junto?
R. Ah! Tendo obtido a visão celestial, poderia dizer que sou profeta, mas, preso a esse sentido humano, usar esse título provocaria comentários do tipo: de onde ele vem, quem é, por que se denomina profeta? Mas o céu se abriu para mim, assim de repente, e aquele que quiser cortar a minha cabeça pode fazê-lo. Se ter tido essa visão celestial me coloca entre os profetas, eu diria: sim, sou profeta; mas minha religião não me autoriza a dizer que amanhã você estará vivo, que amanhã o senhor será presidente, que amanhã o senhor morrerá. Minha religião me proíbe de fazer isso, minha religião não quer que eu reúna multidões à minha volta, que me tragam os doentes que morrerão amanhã para ressuscitá-los com um sopro, como fez Jesus... Não, a minha religião não me disse isso; ela me deu como tarefa produzir um livro, todos podem admirar este livro e compreendê-lo a seu modo... Então, profeta ou não, eu vi, fui testemunha dos mistérios celestes... O Sol que eu adoro! Adoro a Terra, o Sol, as estrelas que, para mim, são seres animados, mesmo o ar que respiramos vive; tudo vive!

P. Ao recolher, todos os dias, os signos que encontra no universo, o senhor tem refletido bastante em sua obra sobre o sentido da vida e o mistério de nossas origens. O que o senhor descobriu? Qual é a mensagem de Cheikh Nadro?
R. Quando olho a natureza, pergunto-me: de onde viemos? Viemos da terra. Como viemos? Há três reinos, e a terra pertence ao reino mineral. E a terra produz acajus que duram mais do que nós. Se os acajus saíram da terra, os homens também vieram dela. Somos formados de acordo com nossas espécies. Por exemplo: temos medo de cobras, mas se colocarmos lado a lado meu pai, meu avô, meu bisavô, este e aquele, nos tornaremos uma serpente imensa, um monstro... O homem segue o homem, o homem segue o homem que jaz, e assim por diante, formando uma longa serpente que retorna a Deus, e nós somos separados segundo a vontade de nossos pais. Veja, descobri que o homem advém do homem pois ele próprio, para assegurar sua descendência, une-se à mulher, que é o caminho criado por Deus, e é esse o nosso destino. Meu pai quis ter um filho; ele aproximou-se de minha mãe, eles dançaram, ela se entregou e eu cheguei; ele me colocou lá, e eu não podia ir para outro lugar, foi lá que assumi minha consistência, e minha mãe me pariu. As sementes da vida, portanto, se encontram entre o homem e a mulher, e nós somos partes de nossos ancestrais.

P. O senhor também refletiu muito sobre as diferenças de cor de pele, entre negros e brancos. Antigamente os brancos acreditavam que os negros tinham adquirido esta cor em conseqüência do sol, do sol africano. Hoje os estudiosos provaram o contrário, isto é, que tivemos ancestrais comuns de pele mais escura e que habitavam a África, local que acreditamos ter sido o berço da humanidade, e que um ramo da população negra teria subido em direção ao norte; então, o frio, as intempéries, os climas excessivamente rigorosos do norte da Europa teriam sido responsáveis pela progressiva diminuição da pigmentação de nossa pele. Qual é sua opinião sobre essa teoria?
R. Quando estava no IFAN, com Tournier, pesquisei a história do parentesco. Mas se me chamarem para comparecer frente às pessoas de Tambourain, eu direi: meu nome é Gnenago-Gnenago-Balé-Yao-Blé-Dalo-Gbeuly-Gboagbré... Veja, citei muita gente; o primeiro Gnenago gerou Gnenago e assim por diante. Mas será que ele teve um, dois ou três filhos? Não sei: seu filho é Gnenago. Gnenago-Gnenago-Balé, quantos filhos teve Balé? Gnenago-Gnenago-Balé-Yao, quantos filhos teve Yao? E assim por diante... É uma fusão: às vezes fazemos refeições com nossos parentes que nem chegamos a conhecer. De Gnenago a Gbeuly, todos estão aí; portanto, quando dizem que Adão e Eva geraram toda a humanidade, Bouabré diz: está certo, é assim mesmo. Bem, quando dizem que Adão e Eva são brancos, Bouabré diz que não. Adão e Eva eram negros, e o que é certo sempre o será: se Adão e Eva fossem brancos, não haveria negros. Preste atenção: até agora, os negros trouxeran ao mundo os brancos, que chamamos de albinos. E eu digo: nos velhos tempos, os homens gostavam de circular pela terra, e essa massa negra caminhava com seus albinos, os quais o sol matava aqui na África; eles chegavam em áreas temperadas e os pais percebiam subitamente que a pele das crianças tinha ficado normal. Há um provérbio que diz: "Le peu yê goale, le peu a goaleba" ( "Se os albinos engendram, geram somente albinos"). A massa negra paterna, nesse caso, desaparecerá se os filhos só gerarem filhos de sua própria cor. Foi assim que ocorreu o eclipse e que depois a raça branca dominou. A raça negra, portanto, foi responsável pela expansão da raça branca.



Cronologia


Nasceu em 1921 em Zéprégühé, Costa do Marfim. Vive e trabalha em Abidjã, Costa do Marfim.


Exposições individuais

1993
Portikus, Frankfurt, Alemanha; Haus der Kulturen der Welt, Berlim, Alemanha; Kunsthalle, Berna, Suíça; Museum Ludwig, Aachen, Alemanha.
1994
Ginza Art Space, Shiseido Co. Ltd., Tóquio, Japão.


Exposições coletivas

1996
Neue Kunst aus Afrika, Haus der Kulturen der Welt, Berlim, Alemanha.
1995
Galerie des Cinq Continents, Musée des Arts d´Afrique et d´Océanie, Paris, França; Dialogues de Paix, Palais des Nations, Genebra, Suíça.
1994
Rencontres Africaines, exposição itinerante em quatro locais: Institut du Monde Arabe, Paris, França; Cidade do Cabo, África do Sul; Museum Africa, Johannesburgo, África do Sul; Lisboa, Portugal; World Envisionned, com Frédéric Bruly Bouabré e Alighiero Boetti, exposição itinerante em dois locais: Dia Center for the Arts, Nova York, Estados Unidos; American Center, Paris, França.
1993
Trésors de Voyage, Biennale di Venezia, Itália; Azur, Fondation Cartier pour l´Art Contemporain, Jouy-en-Josas, França; La Grande Vérité: Les Astres Africains, Musée des Beaux-Arts, Nantes, França; Grafolies, Biennale d´Abidjan, Abidjã, Costa do Marfim.
1992
A Visage Découvert, Fondation Cartier pour l´Art Contemporain, Jouy-en-Josas, França; Oh Cet Echo!, Centre Culturel Suisse, Paris, França; Out of Africa, Saatchi Collection, Londres, Inglaterra; L´Art dans La Cuisine, St. Gallen, Suíça; Resistances, Watari-Um for Contemporary Art, Tóquio, Japão.
1991
Africa Hoy/Africa Now, exposição itinerante em três locais: Centro de Arte Moderno, Las Palmas de Gran Canaria, Espanha; Gröninger Museum, Gröningen, Holanda; Centro de Arte Contemporaneo, Cidade do México, México.
1989
Magiciens de la Terre, Centre Georges Pompidou et Grande Halle de la Villette, Paris, França; Waaah! Far African Art, Courtrai, Bélgica.
1986
L´Afrique et la Lettre, Centre Culturel Français, Lagos, Nigéria.