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Sem título
1988/90. Tinta s/ papel, 42X29,6 cm. Foto: Laurent Lecat

 


Sem título
S.d. Tinta s/ papel, 54X36,3 cm. Foto: Laurent Lecat


Sem título
1988/90. Tinta s/ papel, 100X70 cm. Foto: Laurent Lecat

 



Gedeon

Extraído do texto de Jacques Mercier para o catálogo da exposição Le Roi Salomon et les Maîtres du Regard, Musée des Arts d´Afrique et d´Océanie, Paris, 1992.

Depois da revolução de 1974, em prol de uma campanha de reabilitação da medicina tradicional, Gedeon presidiu durante alguns anos a Associação dos Praticantes da Medicina Nacional. Sem dúvida ele foi nomeado para esse cargo por sua grande eloqüência, seu intenso comprometimento com a causa e pela estima que todos tinham por sua ciência. Com certeza essa escolha não levou em conta seus conhecimentos sobre talismãs. Aliás, pouquíssimas pessoas em Adis-Abeba chegavam a desconfiar disso. Tratava-se de um segredo. Hoje a situação mudou. Gedeon inseriu com firmeza seus talismãs no mundo contemporâneo, qualificando-os como "talismãs para estudo e pesquisa".

Gedeon preparou a meu pedido seu primeiro caderno sobre talismãs em 1975, justamente quando Gera começou a utilizar tintas coloridas para dar cor aos traços duplos de seus talismãs. Ele rapidamente produziu obras muito inquietantes. Como não se sensibilizar, de acordo com nossos conceitos ocidentais, com a explosão de seus desenhos e mais ainda com o uso que ele faz das cores, que parece ser deliberadamente errático? Ele explica: queixa-se de ter tido pouco espaço e cores para completar os talismãs. Ao mesmo tempo, porém, ele recusa os temas clássicos do `talismanismo´, isto é, a Rede de Salomão, as insígnias, a cruz, a muralha. Ele vai mais longe, ligando os talismãs aos Nomes de Deus e de alguns anjos e apresentando a primeira letra do alfabeto etíope, o `h´, em várias de suas composições. Seu desenho não poderia ser mais próximo do talismanismo, pois se restringe a rostos integrados em uma arquitetura complexa de traços duplos. Esse domínio da tradição, confirmado pelo conhecimento da origem dos mitos e pela interpretação esotérica dos principais símbolos do cristianismo, leva-nos a prestar atenção às explicações de Gedeon sobre os aspectos mais inusitados de seus talismãs, principalmente quanto à diversidade das cores. "Se a terra onde o homem se estendeu era vermelha ou preta, isso mostra (yämmiyamäläkket) o local onde o homem foi capturado; este é um exemplo (messalé) do aspecto (mälk) da terra onde ele foi capturado (...) A cor preta que está lá, ao lado, é um exemplo (messalé); ela é contra (yämmiqqawwein) aqueles (os demônios) que estão no ar. Ela é o contrário dos seres aéreos." É necessário, resume ele, pedir aos doentes que descrevam os contatos e as visões que tiveram quando adoeceram e reproduzir essas cores e formas no talismã, acompanhados dos Nomes de Deus adequados. Os demônios - de acordo com os ensinamentos exotéricos e esotéricos - têm aparências diversas: abelhas, moscas, pássaros, braços, olhos, flores, pedras etc.

Alguns atacam a lavadeira que está entre os papiros (de cor verde), outros, o trabalhador que está sobre terra vermelha ou preta, outros se aproveitam da escuridão, outros nos atacam no momento exato em que o reflexo da água nos cega. O espírito agressivo, ao ver sua própria imagem no talismã, gritará e fugirá como se tivesse sido queimado. Fazendo isso evitamos que ele entre num corpo humano. O talismã representa uma interdição (hermät). Sua forma revela também, de certo modo, uma estratégia da tensão: precisamos ir de encontro ao inesperado, colocar uma cor onde nada justifique sua presença, fora de qualquer regularidade. O aparente `erratismo´ de seus desenhos e cores segue uma lógica. É aí que Gedeon situa o tema da cura em relação à ampla gama de cores. Esse princípio visual é válido para todos os tipos de relações: as manifestações dos espíritos, o território do inimigo, as proteções por ele utilizadas, e até os países em que aquele que possui o talismã passará.



Cronologia


Nasceu em 12 de março de 1950, na Etiópia. Vive em Adis-Abeba, Etiópia.