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Ayefodo
Acrílico s/ tela, 138X180 cm. Foto: Claude Postel

 


Awoguimonlê
1994. Acrílico s/ tela, 138X210 cm. Foto: Claude Postel


Azehe
Acrílico s/ tela, 138X206 cm. Foto: Claude Postel

 



Cyprien Tokoudagba

Anotações sobre uma conversa, por André Magnin
Abomey, Benin, abril de 1995


Eu sou Cyprien Tokoudagba, artista do Benin; tenho 58 anos. Sempre disse que tinha nascido em 1954, mas na verdade nasci em 1939. Para dizer a verdade, comecei a mentir a respeito de minha idade para poder entrar no serviço público. Em 1987, comecei a trabalhar como restaurador no Museu de Abomey.

Dei início às minhas atividades artísticas há cerca de 35 anos. No início modelava barro e argila, depois passei a trabalhar com cimento e areia. Essa foi a minha determinação. Meu pai, Toha, foi tecelão.

Eu também vim ao mundo com um pendor pela arte. Na escola primária desenhava com paixão e recebi muitos elogios e reconhecimento por parte dos professores.

É um dom poder fazer com as mãos aquilo que se deseja fazer. Já ganhava dinheiro na minha mocidade pintando quadros.

O avô do meu avô veio da região de Mono, na fronteira com o Togo, e se instalou em Adja-Tado. Foi um grande guerreiro. Por esse motivo o rei Uegbadjá deixou sua família se estabelecer em Abomey e o nomeou primeiro-ministro. O pai de meu avô, Adedji, foi primeiro-ministro do rei Ghezo. Meu avô foi primeiro-ministro do rei Glelé. Depois de sua morte, seu filho, rei Béhanzin o conservou no cargo e lhe deu nome novo, Tokoudagba, que usamos até hoje.

Quando era jovem e a meu pedido, meu pai me enviou para uma espécie de monastério. Para ser mais exato, enviou-me a um sacerdote vodu, um mestre da iniciação. Essa iniciação durou seis meses, durante os quais deve-se ficar junto ao sacerdote. Uma vez lá, não se pode voltar atrás. É uma experiência dura, pois existem regras e leis que devem ser observadas e a disciplina é rígida. Os segredos dos quais tomamos conhecimento não podem ser revelados nunca. Deve-se resistir a todas as tentativas. Trata-se de um aprendizado. Aprende-se a fazer feitiços, a utilizar a força das palavras para colocar em ação as fórmulas e a conhecer os segredos das plantas. É a qualidade do conhecimento que dá força ao feiticeiro.

Todos esses segredos não podem ser revelados, a não ser que nos tornemos feiticeiros e alguém nos peça para ser iniciado. Deve-se guardar tudo na cabeça e ter a capacidade de transmitir tudo ao iniciante. Hoje sou apenas um aluno. Daqui a dois anos serei, com certeza, um grande iniciado. No vodu cada família de iniciantes reza a um ou mais deuses. No tempo da escravidão, todos partiam acompanhados de seus respectivos deuses do vodu. Somente eles conseguiam dar-lhes força.

Em 1989 deixei o Benin pela primeira vez, por ocasião da exposição Magiciens de la Terre, em Paris. Foi a primeira vez que minha arte foi mostrada fora do meu país. Foi um grande acontecimento para mim. Durante várias semanas estive em contato com artistas do mundo inteiro.

Para mim a arte é algo que vem de dentro. A arte é a representação de pensamentos e conhecimentos. É um lugar elevado, um castelo para filósofos. O valor de um artista é grande demais para se poder explicá-lo. A arte está dentro da minha cabeça.



Cronologia


Nasceu em Benin em 1939. Vive e trabalha em Abomey, Benin.


Exposições individuais

1995
Ifa-Galerie, Bonn, Alemanha; Ifa-Galerie, Stuttgart, Alemanha; Musée du Cloître, Peuple et Culture, Tulle, França.
1991
Centre Culturel Français de Cotonou, Benin.


Exposições coletivas

1996
Neue Kunst aus Afrika, Haus der Kulturen der Welt, Berlim, Alemanha.
1995
VITAL: Three Contemporary African Artists, Tate Galery, Liverpool, Inglaterra; The Big City, Serpentine Gallery, Londres, Inglaterra.
1994
Rencontres Africaines, Institut du Monde Arabe, Paris, França; exposição itinerante em três locais: Cidade do Cabo e Johannesburgo, África do Sul e Lisboa, Portugal.
1993
La Grande Vérité: Les Astres Africains, Musée des Beaux-Arts de Nantes, França; Sidney Biennial, Austrália.
1992
Ouidah 92, Ouidah, Benin; Out of Africa, Saatchi Collection, Londres, Inglaterra.
1991
Ny Afrikansk Billedkunst, Rundetarn, Copenhague, Dinamarca; Africa Now, Gröninger Museum, Gröningen; Africa Hoy, Centro Atlantico de Arte Moderno, Las Palmas de Gran Canaria, Centro Cultural de Arte Contemporaneo, Cidade do México.
1989
Magiciens de la Terre, MNAM Centre Georges Pompidou, Grande Halle de la Villette, Paris, França.