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Depoimento do Artista
P. Existe em seu trabalho uma atitude consciente de descaracterizar os meios de comunicação (mídia, vídeo) como meros meios e convertê-los em canais de crítica? R. Não em todo o meu trabalho. Além do mais, tenho feito trabalhos nos quais utilizo o vídeo como meio protagonista da obra. Em In God We Trust poderíamos dizer que os meios "estão descaracterizados", mesmo quando determinada obra corresponde a um momento do meu trabalho em que eu estava voltado para interesses diversos dos atuais. Não me interessa estabelecer canais de crítica através de meu trabalho porque acredito que hoje está cada vez mais perigoso e ambíguo fazer da arte um espaço para o ativismo.
P. O senhor parece ser contra o uso ascético geral. Há em sua estratégia artística um desejo explícito de mostrá-los como algo "sujo ou contagiado"? R. No início sentia-me obrigado a esclarecer. Minha obra tinha um aspecto high- tech, prolixo. Nessa época era possível dizer que minha obra "descaracterizava" os meios. Naquele momento, sem dúvida, minhas obras se relacionavam com a "sujeira", com "o contágio", por meio de imagens como, por exemplo, as da lavagem automática do manto sagrado na obra Lavarás Tus Pecados; as imagens do paganismo inserido no cristianismo, através da ciência; no cachorro embalsamado; nos transplantes de córnea e de coração; nas imagens sangrentas de saques urbanos, entre muitas outras. Na etapa atual de minha obra podemos observar, evidente e fisicamente, uma aparência descuidada que se caracteriza pelo uso de "materiais pobres" em contraste com a alta tecnologia dos dispositivos utilizados para mostrar os vídeos, que são parte integral da obra. Essa mudança em meu trabalho reflete as mudanças profundas ocorridas na Venezuela, que está submersa em uma grave crise econômica.
P. Os plásticos que planeja colocar em frente aos monitores têm a função corrosiva de mostrar as imagens não apenas borradas mas também asfixiadas? R. Os plásticos seriam como crisálidas, formas que colocam em evidência a transição, a gestação daquilo que está em seu interior. Eles sugerem, além disso, a idéia de proteção, em função do hermetismo das lâminas de acrílico moldadas termicamente. De certo modo pretendi mostrar liricamente que aquilo que está em seu interior não deve se corromper em contato com o exterior.
P. O senhor acredita que seu trabalho questione basicamente o caráter abstrato das imagens da telemática em algo concreto e que possa ser fixado em sua materialidade? R. Em uma de minhas primeiras obras, Houdini (1989), ocorreu isso que o senhor observou. E essa tem sido uma característica freqüente em meu trabalho. No caso de Houdini trata-se de um monitor submerso em uma caixa de acrílico cheia de água. Nele vêem-se imagens minhas representando o último ato do famoso escapista. Isto é, devo primeiro escapar do próprio ato para, em seguida, escapar do universo líquido que envolve o monitor. Ao fazê-lo, duplico a façanha do imortal Houdini.
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| Nasceu em 1964 em Caracas, Venezuela. Vive e trabalha em Caracas.
Exposições individuais
1995 Galeria Camargo Vilaça, São Paulo, Brasil; Sandra Gering Gallery, Nova York, Estados Unidos. 1991 San Guinefort y Otras Devociones, Sala RG, Caracas, Venezuela.
Exposições coletivas
1996 Defining the Nineties, Museum of Contemporary Art, Miami, Estados Unidos. 1995 '95 Kwangju Biennale, Seul, Coréia do Sul; World Wide Video Festival, Haia, Holanda. 1994 Bienal de La Habana, Havana, Cuba; Annual Benefit Auction, The New Museum of Contemporary Art, Nova York, Estados Unidos; Cocido y Crudo, exposição itinerante em três locais: Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madri, Espanha; Sandra Gering Gallery, Nova York, Estados Unidos; Galleria Galliani, Gênova, Itália. 1993 CCS-10/ArteVenezolano Actual, Galería de Arte Nacional, Caracas, Venezuela; Nuevas Adquisiciones 1991-1992, Galería de Arte Nacional, Caracas, Venezuela; Aperto'93: Ermergency/Emergenze, XLV Biennale di Venezia, Itália; The Final Frontier, The New Museum, Nova York, Estados Unidos; Ante América, exposição itinerante em dois locais: Queens Museum of Art, Nova York, Estados Unidos; Museo de Artes Visuales Alejandro Otero, Caracas, Venezuela. 1992 Ante América, Biblioteca Luis Angel Arango, Bogotá, Colômbia; I Bienal Barro de América, Museo de Arte Contemporáneo de Caracas Sofía Imber, Venezuela; Sexta Edición Premio Eugenio Mendoza, Sala Mendoza, Caracas, Venezuela. 1991 Venezuela/Nuevas Cartografías y Cosmogonías, Galería de Arte Nacional, Caracas, Venezuela; III Bienal Nacional de Arte de Guayana, Museo de Arte Moderno Jesús Soto, Cidade Bolivar, Venezuela; El Espíritu de los Tiempos, Galería Los Espacios Cálidos, Caracas, Venezuela; Video-Escultura'91, Sala RG, Caracas, Venezuela. 1990 Los 80: Panorama de las Artes Visuales en Venezuela, Galería de Arte Nacional, Caracas, Venezuela; III Bienal de Video Arte, Museo de Arte Moderno de Medellín, Colômbia. 1989 I Reseña de Arte en Video, Sala RG, Caracas, Venezuela; Video Instalaciones, Galería Sotavento, Caracas, Venezuela. 1988 IX International Festival of Super 8 and Video, Bruxelas, Bélgica; I Bienal Nacional de Artes Plásticas, Modalidades de Expresiones Libres y Fotografía, Galería de Arte Nacional y Galería Los Espacios Cálidos, Caracas, Venezuela.
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