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The Four Ancient Elements: Water (detalhe)
1995/96. Instalação. Técnica mista, 495X330X165 cm. Coleção do artista





The Four Ancient Elements: Earth (detalhe)
1995/96. Instalação. Técnica mista, 99X99X264



 


 


Néstor Otero

Por Doreen Colón Camacho


Néstor Otero e a Essência da Arte Ocidental

Durante todo o século XX temos visto diversas linguagens plásticas relacionadas às inquietações dos artistas em resposta a circunstâncias políticas, econômicas e sociais que os afetaram de forma direta ou indireta.

O sentir, da mesma forma que o amar, responde a uma reação espontânea por parte daquele que sente ou ama. A disposição anímica para uma circunstância, um acontecimento específico ou uma pessoa, corresponde de forma natural à visão que a pessoa tem de si mesma, do mundo e de tudo o que ela entende como sendo idôneo ou correto, ou ao contrário, como imoral, desonesto e injusto. Partindo desta referência, artistas e mesmo os que não o são estabelecem códigos de conduta, atitudes e disposição diante da vida, do mundo e da humanidade que não estão estabelecidos formalmente.

O artista plástico, por meio do conhecimento formal da arte, da habilidade de se expressar e da necessidade de comentar o que sente e vê, cria uma linguagem ou discurso estético que revela esses princípios que regem e dão sentido à sua vida, mostrando também o grau de seriedade e de profundidade de sua interioridade. Essa é a razão pela qual o artista dá preferência a alguns meios que se adaptam claramente às suas necessidades de expressão.

Desde seu início, na década de 70, a produção artística de Néstor Otero tem se manifestado como a junção de elementos fragmentados, que, ao se conjugarem, adquirem a intenção e o sentido que lhes foi conferido pelo artista. Sua preocupação não se concentra no processo ou no meio, mas no conceito que origina e define sua obra. É o conceito que unifica e dá sentido à fragmentação. A associação dos elementos que formam a composição permite diversas leituras.

A instalação Elementos, proposta pelo artista para esta Bienal Internacional de São Paulo, concentra a atenção na idéia dos quatro elementos básicos da antiguidade clássica: terra, fogo, água e ar. Cada elemento provoca um conjunto de idéias que dará coesão a estes princípios básicos que, desde a pré-história, preocupam o ser humano.

Paradoxalmente, hoje em dia, quando sentimos que somos senhores e que estamos dominando a ciência e a tecnologia, o que ocorre é que em nossa era industrial - ao contrário da era pré-histórica, quando se invocavam os deuses para que enviassem os elementos essenciais da natureza ou para que nos defendessem deles - nos transformamos na causa do efeito nefasto da contaminação e da escassez desses próprios meios. Antigamente éramos ameaçados pela natureza; atualmente somos um perigo para ela.

Tierra estabelece uma imagem em que o elemento terra, obviamente, é a essência da imagem e o conceito de que somos pó e a ele retornaremos. A mesa serve como símbolo de comunhão entre a pessoa e a natureza. Na mesa comemos o que a terra produz; nós, que sentamos em torno da mesa, nascemos da terra e a ela voltaremos. É um conceito que, sem ter a intenção de ser uma pregação religiosa, não foge completamente dessa idéia.

Fuego é formado por um conjunto de objetos queimados que rodeiam o monitor com um recurso visual que repete as formas tridimensionais à sua volta, que se alternam com a cena de uma menina que lança fogo e que de forma gradativa vai se degradando. O fogo é o elemento gerador de ciclos de vida e morte.

Agua é um dos elementos mais líricos da instalação. Centenas de taças com esse líquido transparente parecem formar uma extensão de água, como se fossem um rio ou um canal, sobre a qual flutuasse o esqueleto de uma embarcação. A imagem refere-se ao valor desse líquido precioso que permite a nossa sobrevivência e que desde tempos imemoriais vem permitindo o deslocamento de culturas para diversos mundos com a mesma diversidade de intenções.

Aire pretende nos oferecer a liberdade que todos desejamos. A imagem - como penas flutuantes - nos convida a levantar um vôo que nos permite alcançar os mais distantes âmbitos do espaço e, dessa forma, interagir com todos os seres existentes no planeta. Liberdade que nos obriga a cuidar do ar em estado puro, da mesma forma como nos foi entregue no início dos tempos.

A proposta de Néstor Otero acaba, obrigatoriamente, se constituindo em um discurso ambientalista que nos obriga a enfrentar a problemática da desintegração dos elementos, levada a cabo por aqueles que detêm o poder e que ao mesmo tempo são os únicos capazes de deter esse processo.

Temos a obrigação de permitir que esses elementos se regenerem. Devemos assumir o compromisso de sermos os facilitadores de um novo florescimento da nossa terra, arrasada pelo desmatamento desenfreado, a construção irrestrita e a ganância das superpotências; de procurar os métodos adequados para regenerar a água, de utilizar o fogo apenas para fins construtivos e oferecer à população o direito de herdar um ar puro.

Néstor Otero é um artista conceitual que obriga à reflexão que nos leve a modificar nossa conduta para que seja possível a regeneração desses quatro elementos com os quais já não podemos contar incondicionalmente como fazíamos no passado.



Cronologia


Nasceu em San Juan, Porto Rico, em 27 de fevereiro de 1948. Estudou design, artes gráficas e pintura com Luis German Cajigas, em Porto Rico, e freqüentou a School of Visual Arts em Nova York. Fez parte da equipe de Interview, de Andy Warhol, por três anos, atuando como produtor e consultor. Atualmente, ensina na Escola de Artes Plásticas em San Juan e divide seu tempo entre Nova York e Porto Rico.


Exposições individuais

1995
Prelude/Prelude, Galería Raíces, Porto Rico.
1994
Horizontes+Sombras, Galería Raíces, Porto Rico.
1993
Iconography, Taller Boricua Gallery, Nova York, Estados Unidos; Vocabulario: palabra e imágen, Sala de Arte, Recinto Universitario de Mayaguez, Porto Rico; Biblioteca Universitaria, Colegio Universitario de Humacao, Porto Rico; Wilmer Jennings at Kenkeleba, Nova York, Estados Unidos; Diverse Disclosures, Kenkeleba House, Nova York, Estados Unidos; Muestra de Arte Puertorriqueño, Instituto de Cultura Puertorriqueña, Porto Rico.
1992
Epigrama, Galería Raíces, Porto Rico.
1989
Stations/Promises, Taller Boricua Gallery, Nova York, Estados Unidos.
1986
Paperworks, Center for Puerto Rican Studies, Hunter College, Nova York, Estados Unidos.
1983
Acecho in Waiting, Lurking, Cayman Gallery, Nova York, Estados Unidos; Museum of Contemporary Hispanic Art, Nova York, Estados Unidos.
1978
Paisajes Landscapes, Association of Hispanic Arts, Nova York.


Exposições coletivas

1996
Creaciones en Papel, Museo de Historia, Antropologia y Arte de la Universidad de Puerto Rico, Porto Rico.
1995
Un Marco por la Tierra, Museo de Arte Contemporaneo de Caracas, Venezuela; ECO, Espacio Cromático: color en blanco y negro, Espacio de arte y diseño; Tercer Certamen Nacional de Artes Plásticas, Museu de Arte Contemporaneo de Puerto Rico, Santurce, Porto Rico; Acto en reposo, 2ª Bienal de Pintura del Caribe Y Centroamérica; Museo de Arte Moderno, República Dominicana.
1994
IX Bienal Iberoamericana de Arte, Museo del Palacio de Bellas Artes, Cidade do México, México; 2ª Bienal de Pintura Del Caribe Y Centroamerica; Museo de Arte Moderno, República Dominicana; Yslas: Arte en tránsito, New Hostos Art Gallery, Hostos Center for the Arts & Culture, Nova York, Estados Unidos.
1993
...Ó Siete Generaciones Sufriran, Galería Raíces, Porto Rico; Paisaje Urbano I, Reclaiming History, El Museo del Barrio, Nova York, Estados Unidos; Ex Libris: El libro como propuesta estética, El Museo de Historia, Antropología y Arte, Universidad de Puerto Rico, Porto Rico; Street Play, Tribeca 148 Gallery, Nova York, Estados Unidos; Historias Fantásticas, Antigua Alcaldia de Carolina, Porto Rico; Situarte 93, Taller Rancho de Tabaco, Cayey, Porto Rico; Pequeño Formato, Galeria Luigi Marrozzini, Porto Rico.
1992
Encuentro: Once Galerias, Banco de Desarrollo Económico para Puerto Rico, Porto Rico; 5en3d, Galería Raíces, com Teo Freytes, Carlos Manuel Rivera, Dhara Rivera, Melquiades Rosario, Porto Rico.
1991
Seguro Albur, Galería Leonora Vega, Porto Rico; Dissimilar Identity, Scott Allen Gallery, Nova York, Estados Unidos, Pequeño Formato, Galería Luigi Marrozzini, Porto Rico.
1989
Juxtoposing Perspectives, Museum of Contemporary Arts, Nova York, Estados Unidos; Taller Alma Boricua: Reflecting on Twenty Years of the Puerto Rico Workshop, El Museo del Barrio, Nova York, Estados Unidos; Contemporary Saints, Henry Street Settlement, Nova York, Estados Unidos; Longwood Arts Project at PS 39, Nova York, Estados Unidos; Pillar To Post, Kenkeleba Gallery, Nova York, Estados Unidos.
1988
Distinct Parallels, Gallery at Boricua College, Nova York, Estados Unidos; Strange Pasts, Longwood Arts Project at PS 39, Nova York, Estados Unidos; Huellas, La Galería en el Bohio, Nova York, Estados Unidos; Unity, Goddard-Riverside Community Center, Nova York, Estados Unidos; Paisaje de sudor y sentimiento, com Candida Alvarez, Center for Puerto Rican Studies at Hunter College; Schwitteria II, Cork Gallery at Avery Fischer Hall, Lincoln Center, Nova York, Estados Unidos; Black History Poetry, The African-Caribean Poetry Theater, Lehman Center for the Performing Arts, Nova York, Estados Unidos; In The Spirit of Julia, Eventos, Space for Living Art, Nova York, Estados Unidos; Kronokrom, com José Montalvo, Eventos, Space for Living Art, Nova York, Estados Unidos.
1986
Self Portrait, Kenkeleba House, Nova York, Estados Unidos; Two x New, Contemporary Latin American Artists, El Museo del Barrio, Nova York, Estados Unidos; Five Years, Bronx River Gallery, Nova York, Estados Unidos; Tropic Violations - Illusions of a Revolving Door, New Rican Village Cultural Center, Nova York, Estados Unidos.
1985
East to West, Contemporary Latin American Artists, Museum of Contemporary Hispanic Art, Nova York, Estados Unidos; Surplus, Exit Art, Nova York, Estados Unidos; Selections from a Decade, Museum of Contemporary Hispanic Art, Nova York, Estados Unidos; Dimensions in Dissent, Kenkeleba House, Nova York, Estados Unidos; Desaparecidos/Desaparecidas, instalação.
1984
Cuarteto Artworks, com Papo Colo, Marcos Dimas, José Morales, Hostos Gallery, Hostos Community College, Nova York, Estados Unidos; Constructed Object - Constructed Image, The Alternative Museum, Nova York, Estados Unidos.
1983
Octopus, El Museo del Barrio, Nova York, Estados Unidos.
1981/82
Stranger, Taller Boricua, Nova York, Estados Unidos; Exhibition, Hispanic Artists in Nova York, New York City Gallery, Nova York, Estados Unidos; Paciencia, Tiempo Y Poder, instalação.
1980
Tercer Muestra de Pintura y Escultura, Instituto de Cultura Puertorriqueña, San Juan, Porto Rico.
1979
Santos de Palo, El Museo del Barrio, Nova York, Estados Unidos; Santo, Santa, El Museo del Barrio Nova York, Estados Unidos.
1977
Confrontación Ambiente y Espacio, El Museo del Barrio, Nova York, Estados Unidos.


Prêmios

1996
Experimental Art Grant, Fondo Permanente para las Artes, Programa de la Fundación de Puerto Rico, Porto Rico.
1994
Medalha de Ouro, 2ª Biennal de Pintura del Caribe & Centroamérica de Santo Domingo, República Dominicana; Resolution, Commonwealth of Puerto Rico, Porto Rico.
1993
Puerto Rican Chapter of the International Art Critics Association, 1º prêmio.
1988
Office of the Council President, Certificate of Merit, Nova York, Estados Unidos.
1987
Office of the Borough President of Queens, Citation of Honor, Nova York, Estados Unidos; Visual Arts Grant, Nova York, Estados Unidos.
1985
Visual Arts Grant, Nova York, Estados Unidos.
1966
St Gauden's Medal for Fine Draughtsmanship, School Art League, Nova York, Estados Unidos.
1961 Museo de Arte de Ponce, medalha de ouro para pintura, Porto Rico.