.

Ice Towers
1992. Instala��o, sistema de refrigera��o, azulejos, torres de gelo (gelo s/ madeira); azulejos, 9.2X11.2 cm; torres de gelo, 105X85 cm. Cole��o do artista





Ice Towers (detalhe)
1992. Instala��o, sistema de refrigera��o, azulejos, torres de gelo (gelo s/ madeira); azulejos, 9.2X11.2 cm; torres de gelo, 105X85 cm. Cole��o do artista



 


 


Marianne Heske

Por Pierre Restany
Paris, mar�o de 1996


Torres de Gelo ou Energia

Com as Ice Towers que exp�e na 23� Bienal Internacional de S�o Paulo, Marianne Heske retoma a tradi��o de nomadismo dom�stico. Trata-se de uma tradi��o que a artista inaugurou em 1980 na Biennale de Paris, realizada no Centre Georges Pompidou, na qual remontou uma cabana da sua regi�o natal, Tafjord, uma pequena e isolada vila localizada na costa oeste da Noruega. A cabana de Tafjord (Project Gederloa) era uma verdadeira cabana, feita de madeira e pedras, com teto de t�buas e coberto por vegeta��o.

A cabana era local de ref�gio de pessoas que estavam a passeio e de fazendeiros e era de propriedade de um fazendeiro que finalmente concordou em emprest�-la a Marianne durante um ano. Foi assim que a cabana veio a ser desmontada pe�a por pe�a, levada a Paris e remontada conforme o projeto original. Dois televisores testemunhas, um de cada lado, foram colocados nos locais previstos: o primeiro registrava o p�blico e o segundo mostrava a cabana em seu cen�rio original, nas montanhas. Exatamente um ano depois, Marianne transportou a cabana de volta a seu h�bitat conforme havia prometido ao propriet�rio. Aos grafites imemoriais produzidos em terras norueguesas haviam sido adicionados grafites parisienses, derivados de uma cultura metropolitana.

Foi assim que tomei contato pela primeira vez com a forte personalidade da jovem norueguesa que sabia colocar de modo t�o imperativo a tecnologia a servi�o da natureza. Esta proposta vai al�m da mera tecnologia de transporte, pois abre caminho para a reconstitui��o de fen�menos naturais. Na realidade, esta � a verdadeira ess�ncia do que est� sendo posto em quest�o. � no �mbito da rela��o entre tecnologia e natureza que o trabalho de Marianne Heske est� enraizado. Em seus deslocamentos, suas excurs�es, seus passeios, a artista n�o deixa nunca para tr�s a c�mera de v�deo. A c�mera � seu terceiro olho, uma extens�o t�cnica de sua sensibilidade perceptiva. Lembro-me nitidamente de suas paisagens, impress�es registradas em amplia��es de fotogramas de v�deo que haviam colhido imagens da erup��o de um vulc�o. Baseada no documento fotogr�fico, todos os procedimentos posteriores de transposi��o para a tela foram feitos por computador, desde o formato do trabalho at� a escolha das cores para a impress�o. A vivacidade dos vermelhos e laranjas da lava estendiam, assim, a objetividade da vis�o at� atingir a incandesc�ncia, em um processo semelhante ao de um ferro aquecido pelo ferreiro at� ficar branco.

Em trabalho paralelo � fixa��o da imagem, Marianne Heske desenvolveu um video-di�logo que passou a fazer parte de sua 'viagem pitoresca'. Este � o nome que alpinistas su��os davam a seus passeios no final do s�culo passado. A artista norueguesa nunca abdicou de seu nomadismo visual, uma esp�cie de esp�rito de viagem. Falar de viagens significa sempre uma refer�ncia a multid�es. Uma met�fora tang�vel expressa esta consci�ncia quantitativa do contexto humano: a massa uniforme, um verdadeiro mar feito de bolas - as cabe�as de bonecas de vidro. Para Marianne, o fen�meno quantitativo ultrapassa a soma das particularidades individuais. Segundo Arman, uma cabe�a e mil cabe�as s�o realidades diferentes, mas o relacionamento que se estabelece entre o todo e suas partes n�o destr�i o ponto de partida, a identidade inicial. A artista tem perfeita consci�ncia deste fato. Ela costuma dizer que desde 1971, em Paris, tem vivido obcecada por cabe�as de boneca, por seus olhos abertos e bocas em forma de bot�o de rosas. Chegou ao ponto de fazer amplia��es fotogr�ficas que se transformaram nas gal�xias da Via L�ctea. As 'viagens pitorescas' de Marianne Heske v�o al�m de suas montanhas natais, atingem o c�u e, como � esperado, v�o mais longe, al�m dele. �, sem sombra de d�vida, um privil�gio das montanhas da Noruega produzir tal promiscuidade com o infinito.

Todas as viagens de Marianne Heske t�m um denominador comum: o espa�o de comunica��o. Se a artista tenta atrav�s de seu trabalho reconstituir a ess�ncia deste esp�rito de viagem, o faz para estimular o mais poss�vel o privilegiado espa�o da comunica��o. Esta � sua maneira de falar com os outros, de falar e de registrar suas respostas. As Ice Towers em S�o Paulo constituem a �ltima etapa de um longo trajeto no interior do universo do calor e do frio, a Winterland que as levou para Atlanta, Estados Unidos, a Lillehammer, na Noruega, passando por Barcelona e Munique. O princ�pio � simples e limpo, simple and clean (segundo os objetivos da pr�pria artista). Trata-se de duas torres que medem 80x100x200 cent�metros. A torre da esquerda tem um teto coberto por um disco de vidro vermelho cuja face interna fica coberta por uma camada de neve gelada. Em seu interior, as paredes de madeira aquecem o ambiente, que fica iluminado pelos raios de luz avermelhada emitido pelo disco redondo que cobre o teto. A segunda torre, a da direita, � coberta de madeira escura no lado externo e uma camada de neve gelada cobre o ch�o em seu interior. A atmosfera � fria, e a sensa��o de frio � ampliada pela luz azul que se desprende do teto coberto por um disco de vidro redondo. Se levarmos em considera��o o tamanho das duas torres ficaremos surpresos ao saber que apenas uma pessoa por vez pode entrar nelas. A plataforma sobre a qual as torres est�o colocadas � feita de cer�mica, que reproduz as pedras pretas e brancas das cal�adas do Rio de Janeiro e de S�o Paulo. Seu mosaico � equivalente ao das bonecas e o perfil sint�tico da imagem como um todo nos remete �s paisagens numeradas das erup��es vulc�nicas e das quedas de neve t�o caras � artista. O espa�o delimitado no solo apresenta-se como se fosse uma met�fora fantasma da humanidade.

O p�blico integra-se de modo natural a esse mundo-sombra ao qual pertence. Experimenta sensa��es de calor-frio em uma dial�tica de comunica��o, que � como se fosse um rito existencial em que representa o papel de indiv�duo que fica preso em uma totalidade. Os antigos gregos utilizavam uma declina��o an�loga � sintaxe desta situa��o: a rela��o acusativa. O objetivo das viagens de Marianne Heske � revelado etapa por etapa em toda a sua dimens�o. A comunica��o torna-se um fen�meno existencial global - que vai al�m dos termos ego�stas de um simples di�logo - de modo a projetar o homem em um espa�o vazio pleno de energia universal. Sua sensibilidade n�o � mais do que uma pequena part�cula da energia c�smica, por�m possui o poder intuitivo de chegar ao todo a partir de uma parte e assumi-lo como se fosse uma totalidade. � a� que, como se fosse locat�rio da energia, o homem, consciente de sua rela��o com a natureza, atinge o significado universal, isto �, alcan�a sua liberdade m�xima.

Esta � a li��o b�sica que Marianne Heske nos ensinou ao final de sua 'viagem pitoresca', um local onde o encontro entre a natureza e a tecnologia ocorre sob o signo da energia c�smica. N�s entramos tamb�m no universo do Vazio, de Yves Klein, este Vide Plein em cujo colo crepitam os dois fogos da alquimia: o fogo que queima e o fogo que brilha. As Ice Towers est�o entre as mais vitais e poderosas manifesta��es contempor�neas. N�o foi por acaso que Marianne Heske deu in�cio a outra aventura, a dos Orgone Houses, uma homenagem a Wilhem Reich, o �ltimo dos grandes prometeus modernos, o personagem principal que recicla energia vital.




Cronologia


Nasceu em 21 de fevereiro de 1946 em Aalesund, Noruega. Vive e trabalha em Oslo, Noruega.


Exposi��es individuais

1995
Galerie J&J Donguy, Paris, Fran�a.
1994
Galleri Wang, Oslo, Noruega.
1993
Bergen International Art Festival, Bergen, Noruega; Kunstforening, Bergen, Noruega; Kunstmuseum D�sseldorf im Ehrenhof, D�sseldorf, Alemanha; K�nstlerhaus Bethanien, Berlim, Alemanha.
1992
Porin Kunstmuseum, Pori, Finl�ndia.
1991
Gallerie J&J Donguy, Paris, Fran�a.
1990
The ClockTower Gallery, Nova York, Estados Unidos; Naham Contemporary, Nova York, Estados Unidos.
1989
Galleri J.M.S., Oslo, Noruega; Le Lieu, Qu�bec, Canad�.
1987
Galleri Ojens, Gotemburgo, Su�cia.
1986
Henie-Onstad Art Center, Oslo, Noruega; Aalesund Kunstforening, Alesund, Noruega; Galleri Oyri, Laerdal, Noruega.
1985
Galleri Doktor Glas, Estocolmo, Su�cia.
1984
Gallerie Art Contemporain, J&J, Donguy, Paris, Fran�a.
1982
Galleri Sct. Agnes, Roskilde, Dinamarca.
1981
Henie-Onstad Art Center, Oslo, Noruega.
1979
University of Alberta, Canad�; Bergen Kunstforening, Bergen, Noruega.
1978
Galleri Norske Grafikere, Oslo, Noruega; Galleri F-15, Moss, Noruega; Bonnfantenmuseum, Maastricht, Holanda.
1976
Tromso Kunstforening, Tromso, Noruega.
1975
Galleri Koloritten, Stavanger, Noruega.
1974
Galleri Aasen, Alesund, Noruega; Galleri 1, Bergen, Noruega.
1973
Cit� Internationale des Arts, Paris, Fran�a.


Exposi��es coletivas

1995
At the Century End, National Museum of Women in the Arts, Washington DC, Estados Unidos; Pasienten og Legen, Trondhjem Kunstforening Nordisk Onskemuseum, G�teborg Konstmuseum, Gotemburgo, Su�cia; Landskap, Trondhjem Kunsforening, Trondheim, Noruega, - og vestenfor mane, Astrup-Fearnley Museet, Oslo, Noruega; Morketid, Tromso Kunstforening, Tomso, Noruega; Europe Rediscovered, Sarajevo, B�snia.
1994
Project for Europe, Copenhague, Dinamarca; Winterland, Fernbank Museum, Atlanta, Estados Unidos; Museum of Western Art, T�quio, Jap�o; Sal� del Tinell, Barcelona, Espanha; Kunsthalle der Hypo-Kulturstiftung, Munique, Alemanha; Kunstmuseum, Lillehammer, Noruega.
1991
Galleri Wang, Oslo, Noruega; Voyage Pittoresque, Museum of Contemporary Art, Oslo, Noruega; Det Syntetiske Bilde, Kunstnernes Hus, Oslo, Noruega; Tokyo International Art Fair, T�quio, Jap�o.
1989
International Impact Art Festival, Kyoto Municipal Museum of Art, Jap�o.
1987
Art Ware, Hannover, Alemanha.
1986
Norealis, DAAD Galerie, Berlim, Alemanha.
1985/87
Art in Norway Today, exposi��o itinerante na Europa.
1983
2�me Exposition Internationale Petit Format du Papier, B�lgica; Estetica Diffusa, Salerno, It�lia.
1984
Bergen International Festival, Hakonshallen, Bergen, Noruega.
1981
Norsk Billed, Konsthallen, Helsinque, Finl�ndia; M�tronom/Artists' Books, Centre Documentacio d'Art Actual, Barcelona, Espanha.
1980
Experimental Environment, Reykjavik, Isl�ndia; Biennale de Paris, Centre Georges Pompidou, Paris, Fran�a; International Impact Art Festival, Kyoto Municipal Museum of Art, Jap�o; London Video Arts, ACME Gallery, Londres, Inglaterra.
1979
Norskt 70-tal, Kulturhuset, Estocolmo, Su�cia.
1978
Landskap, Henie-Onstad Art Center, Oslo, Noruega; Sieben Grafiker aus Norwegen, Oldenburger Kunstverein, Oldenburg, Alemanha.
1977
Video and Film Manifestatie, Bonnefantenmuseum, Maastricht, Holanda.
1976
Life Styles, Institute of Contemporary Art, London Video International, Aarhus Kunstmuseum, Aarhus, Dinamarca; La Jeune Peinture, Mus�e d'Art Moderne de la Ville de Paris; Groupe Dialogue, Unesco, Paris, Fran�a.
1975
Salon Contradiction, Centre de American, Paris, Fran�a; Nordisk Grafikkunion, Bergen, Noruega; Espace-Surface, Centre Culturel de Limoges, Centre Culturel de Chateeauroux, Fran�a; Femmes Peintres et Sculptrices, Mus�e d'Art Moderne de la Ville de Paris, Fran�a; La 2�me Foire, d'Art Contemporain, Paris, Fran�a; Artistes Etrangers � Paris, Galerie Rona, Genval Lac, Bruxelas, B�lgica.
1975/77
Grands et Jeunes d'Aujourd'hui, Grand Palais, Paris, Fran�a.
1974
L'Unique Object, Galerie Iris Clert, Paris, Fran�a; Grands Femmes, Petits Formats, Galerie Iris Clert, Paris, Fran�a; R�alit�es Nouvelles, Parc Floral de Paris, Fran�a.
1973
La Jeune Gravure Contemporaine, Paris, Fran�a.
1972/73
Cit� Internationale des Arts, Paris, Fran�a.
1970/80
Statens Hostutstilling, Oslo, Noruega.


Principais mostras internacionais

1995/1996
Aquilo, Museum Moderner Kunst, Sammlung Ludvig, Viena, �ustria; Museo d'Arte Moderna, Bolonha, It�lia.
1995
Seoul International Art Festival, Seul, Cor�ia; Nordiska Konstcenter, Helsinque, Finl�ndia.
1992
Il Paesaggio Culturale, Palazzio delle Esposizioni, Roma, It�lia.
1991
7 Cities, 7 Countries, Leuwarden, Holanda.
1988
Olympiad of Art, Museum of Modern Art, Seul, Cor�ia.
1987
European Painters Today, exposi��o itinerante na Europa.
1986
Biennale di Venezia, Nordic Pavillion, Veneza, It�lia.
1985
Dialogue on Contemporary Art in Europe, Funda��o Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal.
1980
Biennale de Paris, Centre Georges Pompidou, Paris, Fran�a.


Pr�mios

2th International Graphic Biennale, Liubliana, Eslov�nia;
5th International Graphic Biennale, Frechen, Alemanha.