| Por Kunio Motoe
Na atualidade, as imagens são cortadas fora daquilo que elas originalmente representam, tornando-se autônomas e ficando fora de nosso controle. Dentro de algum tempo, eu ficaria espantado se a seguinte questão ainda fizesse sentido: por que a pintura é necessária ou o que ela tem a nos oferecer? Qualquer que seja o caso, é a partir desta questão que Masato Kobayashi, pintor que está fazendo um dos mais significativos trabalhos no Japão, inicia sua criação. Ninguém nunca encontrará a si mesmo ao encarar esta questão enquanto aceitar como definição de pintura a direta descrição de que a pintura é o total de cores colocadas sobre algum tipo de suporte. Até nesta simples descrição, a palavra 'suporte' necessita de uma explicação mais detalhada. É igual àquilo que as pessoas não vêem em "A roupa nova do rei". Elas têm a pretensão de achar que o que estão vendo ali é algo errado, até que os olhos cruéis e inocentes de uma criança o descubram e as pessoas subitamente o vejam também. Nesse instante, alguma cor é colocada em algo, um suporte subitamente toma forma. A tábula rasa é, assim, um conceito suspeito.
Em entrevista, Masato Kobayashi apresentou seu trabalho do seguinte modo: "Quando existe um suporte de início, e eu acrescento com o desenho de uma linha algo ao plano pictórico, formam-se dois planos: o suporte e a imagem. Desse modo, a pintura não está realmente existindo, nessas circunstâncias ela possui o suporte atrás de si. Quero criar uma pintura em que somente a imagem exista, como um espaço sem o suporte. Não é da matéria da pintura ser abstrata ou figurativa. O que quero é fazer uma pintura tomar forma a partir de uma existência abstrata. Em outras palavras, desejo criar uma pintura que não perca nada ao tomar a forma atual". Kobayashi fala de uma 'pintura sem o suporte'. Enquanto consideramos o suporte como parte tacitamente aceitável da pintura, e enquanto, de boa vontade, tomamos parte desta fraude da civilização, não conseguimos perceber o que o artista tem em mente. Para ele, a pintura é algo que existe com o suporte mas também o transcende para alcançar uma existência independente, que flutua no espaço, por assim dizer. Como pinceladas de cor que, embora muito finas em si mesmas, carregam consigo inúmeros traços. Ou pode ser uma versão disso totalmente desmaterializada.
Porém, alguém pode argumentar que, se uma pintura for somente um conceito, ela nunca poderá existir na terra. Em si mesma, esta argumentação é uma prova de que a idéia do suporte é penetrante. Masato Kobayashi realizou uma notável façanha questionando esta idéia feita, e em vez de construir uma pintura a partir da tábula rasa, como usualmente é feito, criou-a diretamente, fazendo as pinceladas do suporte e da cor emergirem juntas, integrando-as basicamente em um mesmo conjunto. O conjunto fundido é uma pintura no verdadeiro sentido, uma pintura que existe por si mesma. É por causa da natureza de suas pinturas que elas são produzidas por meio de um único processo: primeiramente, a tela colocada no solo vai sendo esticada, parte por parte, à medida que vai sendo pintada, e as partes concluídas vão sendo elevadas ao longo de uma parede. O processo lembra o longo caminho da história da pintura, provavelmente iniciado com marcas feitas no chão por dedos ou varetas, evoluindo para pinturas em cavernas nas ásperas paredes rochosas e finalizando com a pintura engaiolada dentro do conceito de plano. Nesse processo de pintura que acabei de descrever, Kobayashi não utiliza o pincel. Empenhando seu próprio conjunto pessoal ao ato, ele usa os dedos, extensões de seu cérebro, como mediadores entre a tela e as cores. "Deixe ficar luminoso!". Ele lampeja luzes na tela e as cores ficam superiormente impressionadas em sua existência, como se fosse o raio de luz que penetra na terra. Isto é, um artista, tornando a tela transparente e iluminando as cores desde dentro. É por isso, não sem fundamento, que ele faz questão de dizer que seus trabalhos são "óleos com tela", e não "óleo sobre tela". Uma pintura não é as cores na superfície do suporte. As cores e o suporte são fundidos em uma pintura e desmaterializados pela quase miraculosa mediação do artista ou, mais precisamente, o mensageiro da luz. O encanto e o mistério de uma pintura encontram-se exatamente nesta transformação.
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| Nasceu em Tóquio, Japão, em 1959. Graduou-se na Tokyo University of Art em 1984.
Exposições individuais
1994 Contemporary Art Fair in Nagoya, Gallery Satani, Tóquio, Japão; Gallery Satani, Tóquio, Japão. 1993 Gallery Satani, Tóquio, Japão. 1992 Son of Painting, Gallery Satani, Tóquio, Japão. 1991 Masato Kobayashi 1990-91: Fighting in the Air, Gallery Satani, Tóquio, Japão. 1989 Masato Kobayashi 1987-88, Gallery Satani, Tóquio, Japão. 1986 Gallery Satani, Tóquio, Japão. 1985 Absolute Painting, Gallery Kamakura, Tóquio, Japão.
Exposições coletivas
1995 2nd Annual VOCA (Vision of Contemporary Art) Exhibition, The Ueno Royal Museum, Tóquio, Japão; Allegory of Seeing - 1995: Painting and Sculpture in Contemporary Japan, Sezon Museum, Tóquio, Japão; Opening Show of Daiichi-Seimei Gallery, Tóquio, Japão. 1994 1st Annual VOCA (Vision of Contemporary Art) Exhibition, The Ueno Royal Museum, Tóquio, Japão; Light and Shade - Poetics of the Transient, Hiroshima Municipal Museum of Contemporary Art, Hiroshima, Japão. 1992 Temptations of Traces, Kyoto Municipal Museum of Art, Kyoto, Japão. 1991 Poetics of Colors, Kawasaki City Museum, Kawasaki, Japão. 1989 A Perspective on Contemporary Art: Color and/or Monochrome, The National Museum of Modern Art, Tóquio, Japão; The National Museum of Modern Art, Osaka, Japão; Drawing as Itself, The National Museum of Modern Art, Osaka, Japão. 1987 30th Annual Yasui Prize Exhibition, Seibu Museum, Tóquio, Japão; Icons in Contemporary Art, Saitana Prefectural Museum of Modern Art, Urawa, Japão. 1986 5th Anniversary Show - Contemporary Art in Japan, part 3: Postwar Generation Artists, Miyagi Prefectural Museum of Art, Sendai, Japão.
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