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Fish, Egg Dialectic - Relics from Hiroshima 50 (detalhe)
1995. Três bacias esmaltadas e três bandejas prateadas com restos ressecados de ovos e pequenos peixes tropicais





The Many Eyes of St. George - Relics from St. George and the Dragon (detalhe)
1987. Caixa com olhos de vidro e colagens



 


 


David Wayne Boxer

Por Irina Leyva de Peres

A arte de David Boxer é uma arte de referências, de apropriação de imagens e de objetos. A apropriação exprime uma posição definida, um reconhecimento da arte que a precede. Implica um processo de estudo, seleção, depuração, desconstrução e legitimação. É um ato consciente de historicismo. Reforça a estabilidade e a validade de um pintor ou de um estilo. Uma aceitação e, simultaneamente, uma modificação dos cânones estabelecidos durante anos. Uma retroalimentação e a fusão de ambigüidades. Muito ou pouco, uma manipulação de imagens. No caso de Boxer, trata-se de uma hábil recontextualização de símbolos universais. Um discurso estruturado a partir de uma significação semântica estritamente pessoal. David escolhe suas imagens e objetos, mas também elementos naturais como flores, peixes, fluidos humanos, e confronta seus estados ao longo do tempo. Uma reflexão da mudança entre a vida e a morte, do limite apenas perceptível que as separa. Nestas obras está presente o trágico em uma categoria que vai desde o pessoal e cotidiano até o universal e coletivo. Exemplo disto são as suas referências (implícitas e explícitas) à morte, à presença da Aids, à solidão física. Aqui está latente uma preocupação ontológica de fim de século. Um tipo de obra colocada dentro dos valores pós-modernistas do fim da história e do mundo.

Sua iconografia é muito pessoal; a maioria das obras é de referências autobiográficas. Alegorias de um existencialismo e uma angústia reveladas somente em sua arte. Um paradigma da época ou talvez um retorno à filosofia existencialista, uma autodestruição inconsciente. Boxer utiliza sua própria imagem como vestígio, como meio de confrontação direta com seu espectador, a evidência de seu mundo interior atormentando.

O antigo mito de São Jorge e do Dragão, que foi freqüentemente recriado pela pintura em diferentes épocas e lugares, é retomado pelo artista e tratado como uma apropriação de referentes, uma estudada manipulação de objetos carregada de significações polêmicas.

Hiroshima, que para a humanidade permanece pendente como uma conta a saldar por 50 anos, retorna invariavelmente como uma temática recorrente, como um pesadelo em espiral no consciente do artista. Desse modo, surgem várias instalações em que ele utiliza o próprio retrato manipulado e deformado, até diversos símbolos e metáforas que escolhe para evidenciar uma implicação e uma responsabilidade coletivas. Reflexões que se encaminham para demonstrar uma identificação com aquilo que ficou como testemunho, acrescentando ao que ficou definido como culpa de uma geração. Indo além de uma análise sociológica, trata-se de uma dissecação de um fato catastrófico que definiu uma época, marcando o início de outra e na qual ainda são visíveis as conseqüências.

Estas são relíquias de suas obras, partes das instalações concebidas em dez anos, que foram retomadas pelo artista. Um exemplo do processo de criação e de trabalho de David Boxer que retorna diversas vezes ao mesmo tema, uma amostra de que a mesma pergunta ressoa em sua mente durante anos e as respostas vão aparecendo depois de um processo profundo e dilacerador que pode demorar décadas, até que fique satisfeito com o resultado. São reflexões descarnadas, provocadoras, de ambíguos e múltiplos níveis de leitura. Uma indagação ante cada ato, uma chamada desafiadora a responder.



Cronologia


David Wayne Boxer nasceu em Saint Andrew, Jamaica, em 17 de março de 1946. Graduou-se pela Cornell University, em Ítaca, Nova York, entre 1965 e 1969. Fez mestrado e doutorado entre 1970 e 1975 na Universidade John Hopkins, em Baltimore, Maryland. Sua tese de doutorado teve como tema os primeiros trabalhos de Francis Bacon.


Exposições individuais

1996
Fiftieth Birthday Exhibition, casa e galeria do artista, Kingston, Jamaica.
1990
In Situ III, casa e galeria do artista, Kingston, Jamaica.
1988
In Situ II, casa e galeria do artista, Kingston, Jamaica.
1985
In Situ I, casa e galeria do artista, Kingston, Jamaica.
1984
Frame Centre Gallery, Kingston, Jamaica.
1981
John Peartree Gallery, Kingston, Jamaica.
1979
Museum of Modern Art of Latin America, Washington DC, Estados Unidos; John Peartree Gallery, Kingston, Jamaica.
1978
Giammaca Gallery, Los Angeles, Estados Unidos.
1977
Gallery-on-the-Hill, Kingston, Jamaica; Bolivar Gallery, Kingston, Jamaica.
1976
John Peartree Gallery, Kingston, Jamaica.
1975
Just-Above-Midtown Gallery, Nova York, Estados Unidos.
1973
Institute of Jamaica, Kinsgston, Jamaica.
1972
Bolivar Gallery, Kingston, Jamaica.
1970
Bolivar Gallery, Kingston, Jamaica.


Prêmios

1995
Gold Musgrave Medal, Institute of Jamaica.
1992
Biennial of Caribbean and Central American Painting, medalha de ouro, Santo Domingo, República Dominicana.
1991
Commander of the Order of Distinction, Governo da Jamaica.
1969
Jamaica Annual Festival of Arts, 1º prêmio, medalha de prata.