| Por Irina Leyva de Peres
A arte de David Boxer � uma arte de refer�ncias, de apropria��o de imagens e de objetos. A apropria��o exprime uma posi��o definida, um reconhecimento da arte que a precede. Implica um processo de estudo, sele��o, depura��o, desconstru��o e legitima��o. � um ato consciente de historicismo. Refor�a a estabilidade e a validade de um pintor ou de um estilo. Uma aceita��o e, simultaneamente, uma modifica��o dos c�nones estabelecidos durante anos. Uma retroalimenta��o e a fus�o de ambig�idades. Muito ou pouco, uma manipula��o de imagens. No caso de Boxer, trata-se de uma h�bil recontextualiza��o de s�mbolos universais. Um discurso estruturado a partir de uma significa��o sem�ntica estritamente pessoal. David escolhe suas imagens e objetos, mas tamb�m elementos naturais como flores, peixes, fluidos humanos, e confronta seus estados ao longo do tempo. Uma reflex�o da mudan�a entre a vida e a morte, do limite apenas percept�vel que as separa. Nestas obras est� presente o tr�gico em uma categoria que vai desde o pessoal e cotidiano at� o universal e coletivo. Exemplo disto s�o as suas refer�ncias (impl�citas e expl�citas) � morte, � presen�a da Aids, � solid�o f�sica. Aqui est� latente uma preocupa��o ontol�gica de fim de s�culo. Um tipo de obra colocada dentro dos valores p�s-modernistas do fim da hist�ria e do mundo.
Sua iconografia � muito pessoal; a maioria das obras � de refer�ncias autobiogr�ficas. Alegorias de um existencialismo e uma ang�stia reveladas somente em sua arte. Um paradigma da �poca ou talvez um retorno � filosofia existencialista, uma autodestrui��o inconsciente. Boxer utiliza sua pr�pria imagem como vest�gio, como meio de confronta��o direta com seu espectador, a evid�ncia de seu mundo interior atormentando.
O antigo mito de S�o Jorge e do Drag�o, que foi freq�entemente recriado pela pintura em diferentes �pocas e lugares, � retomado pelo artista e tratado como uma apropria��o de referentes, uma estudada manipula��o de objetos carregada de significa��es pol�micas.
Hiroshima, que para a humanidade permanece pendente como uma conta a saldar por 50 anos, retorna invariavelmente como uma tem�tica recorrente, como um pesadelo em espiral no consciente do artista. Desse modo, surgem v�rias instala��es em que ele utiliza o pr�prio retrato manipulado e deformado, at� diversos s�mbolos e met�foras que escolhe para evidenciar uma implica��o e uma responsabilidade coletivas. Reflex�es que se encaminham para demonstrar uma identifica��o com aquilo que ficou como testemunho, acrescentando ao que ficou definido como culpa de uma gera��o. Indo al�m de uma an�lise sociol�gica, trata-se de uma disseca��o de um fato catastr�fico que definiu uma �poca, marcando o in�cio de outra e na qual ainda s�o vis�veis as conseq��ncias.
Estas s�o rel�quias de suas obras, partes das instala��es concebidas em dez anos, que foram retomadas pelo artista. Um exemplo do processo de cria��o e de trabalho de David Boxer que retorna diversas vezes ao mesmo tema, uma amostra de que a mesma pergunta ressoa em sua mente durante anos e as respostas v�o aparecendo depois de um processo profundo e dilacerador que pode demorar d�cadas, at� que fique satisfeito com o resultado. S�o reflex�es descarnadas, provocadoras, de amb�guos e m�ltiplos n�veis de leitura. Uma indaga��o ante cada ato, uma chamada desafiadora a responder.
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| David Wayne Boxer nasceu em Saint Andrew, Jamaica, em 17 de mar�o de 1946. Graduou-se pela Cornell University, em �taca, Nova York, entre 1965 e 1969. Fez mestrado e doutorado entre 1970 e 1975 na Universidade John Hopkins, em Baltimore, Maryland. Sua tese de doutorado teve como tema os primeiros trabalhos de Francis Bacon.
Exposi��es individuais
1996 Fiftieth Birthday Exhibition, casa e galeria do artista, Kingston, Jamaica. 1990 In Situ III, casa e galeria do artista, Kingston, Jamaica. 1988 In Situ II, casa e galeria do artista, Kingston, Jamaica. 1985 In Situ I, casa e galeria do artista, Kingston, Jamaica. 1984 Frame Centre Gallery, Kingston, Jamaica. 1981 John Peartree Gallery, Kingston, Jamaica. 1979 Museum of Modern Art of Latin America, Washington DC, Estados Unidos; John Peartree Gallery, Kingston, Jamaica. 1978 Giammaca Gallery, Los Angeles, Estados Unidos. 1977 Gallery-on-the-Hill, Kingston, Jamaica; Bolivar Gallery, Kingston, Jamaica. 1976 John Peartree Gallery, Kingston, Jamaica. 1975 Just-Above-Midtown Gallery, Nova York, Estados Unidos. 1973 Institute of Jamaica, Kinsgston, Jamaica. 1972 Bolivar Gallery, Kingston, Jamaica. 1970 Bolivar Gallery, Kingston, Jamaica.
Pr�mios
1995 Gold Musgrave Medal, Institute of Jamaica. 1992 Biennial of Caribbean and Central American Painting, medalha de ouro, Santo Domingo, Rep�blica Dominicana. 1991 Commander of the Order of Distinction, Governo da Jamaica. 1969 Jamaica Annual Festival of Arts, 1� pr�mio, medalha de prata.
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