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Lumières
1994. Painel esculpido. Acrílico s/ madeira, 100X100X7 cm. Foto: Baha'RIFAI





Sem título
1988. Acrílico s/ tela, 200X200 cm. Foto: Baha'RIFAI



 


 


Hussein Madi

Por Joseph Tarrab


Essa Surpresa Cotidiana

Poucos artistas contemporâneos devotaram tanto tempo, energia e paixão ao desenho como Hussein Madi, para quem a visibilidade do mundo inspira um fascínio exuberante que atinge o apogeu na plenitude acabada das flores, frutas, pássaros e cavalos, assim como nas esplêndidas abordagens do corpo feminino em todos os seus estados, posturas e posições.

Não é a aparência material, o grão que compõe a superfície, a textura da pele que atrai seu olhar, afiado como um bisturi, para os seres e as coisas. É sua forma específica, seu volume, a lei que os articula e a integração dos traços e partes, as linhas diretoras dos contornos, as proporções relativas dos elementos, as relações respectivas de vazios e plenos, de espaços positivos e negativos.

São as qualidades inteligíveis invariáveis (em detrimento das qualidades sensíveis variáveis, principalmente a luz: valores, cores, etc.) as principais condicionantes de todo o percurso gráfico e plástico de Hussein Madi; são elas que permitem que ele ultrapasse a concretude em termos abstratos, de reduzi-lo a um conjunto mínimo, organizado rigorosamente por linhas retas e curvas ou polígonos com ênfase em formas triangulares, sem que, paradoxalmente, seu trabalho fique completamente privado da presença'pessoal'.

Também é verdade que ele não recusa completamente a terceira dimensão. Ele utiliza o contraste da luz crua e da cor intensa no plano para construir, por exemplo, cabeças arquitetadas geometricamente. Sem falar de suas 'naturezas mortas' em pastel ou das esculturas em argila ou madeira.

Este minimalismo, porém, que nada mais é do que a habilidade de se restringir a aquilo que é essencial, ao estritamente necessário, faz com que ele fale do todo utilizando o mínimo, conduzindo-o a uma pintura gráfica bidimensional com traços pretos e brancos onde a cor é, no limite, inútil, apesar de ter um papel fundamental, que às vezes ocupa grandes espaços monocromáticos.

Esta bidimensionalidade é particularmente forte nas magistrais esculturas em ferro que são forjadas, em sua grande maioria, a partir de uma placa única de metal, em um só movimento; esta placa é recortada ainda plana e dobrada de modo a criar uma figura tridimensional que exibe uma extraordinária habilidade manipulativa e um domínio excepcional da articulação.

A evolução de seu trabalho, os dois traços, retos e curvos, que, no início, parecem abordar tudo com humor e sobriedade, passam por um processo de refinamento que os reduz a uma só 'faixa' que se dobra e se modula com plena liberdade: largas em uma extremidade e adelgaçadas na outra; é traçada por um movimento único de escova plana que gira sobre si mesma à medida que avança sobre o suporte de modo a criar uma transição contínua entre as duas extremidades, plena e sutil.

Os objetos que mostram estas 'caligrafias' são as 'palavras' desta pintura; às vezes, um quadro consiste de uma só 'palavra'; às vezes, de uma frase; e também pode conter várias 'frases' que se sobrepõem, se imbricam e se conectam em dois ou três registros de cor sem que se confundam ou se embaralhem; cada 'palavra' mantém sua identidade distinta, assim como as idéias do meio-dia se associam em nossos espíritos aos sonhos da manhã e às lembranças de ontem sem, portanto, se confundir com elas.

Era inevitável que a 'legibilidade' das obras de Madi e sua aparente evidência e falsa simplicidade resultassem numa longa devoção, terminando por conduzi-lo à sua abordagem 'caligráfica' atual. Graças à sua dualidade intrínseca, grandes em uma extremidade e delgadas em outra, a mesma 'letra única' pode, (dependendo de seu contexto gráfico), representar vários papéis e funções ao mesmo tempo em que traduz, com espantosa precisão, realidades completamente diferentes: a cabeça de um pássaro tem a mesma forma que o aparelho genito-anal feminino no repertório de Madi - uma espécie de ponto de exclamação. Entretanto, ele não deixa dúvidas a respeito da identidade do objeto representado assim como explicita a forma universal que representa, pois transcreve sem ambigüidade o olho, a boca, o nariz, o contorno arredondado de um rosto, a curva de uma coxa, a forma de um seio, a pluma reduzida de uma asa.

Alcançar, por meio de elaboração e sublimação, um tal grau de unidade em meio à diversidade, confere, sob a enganosa aparência de algo elementar, uma completa e virtuosa liberdade de expressão.

Trata-se de uma verdadeira demonstração de força, sem outra mensagem além da capacidade de encantar - sensação que é renovada todos os dias - os olhos, o espírito, o coração e o corpo que se vêem envolvidos em uma espécie de êxtase sensual frente ao inesgotável espetáculo do mundo, nem outro objetivo senão o do puro prazer de pintar e esculpir essa surpresa cotidiana.



Cronologia


Nasceu em Chebaa, Monte Hermon, Líbano, em 4 de fevereiro de 1938. Estudou pintura, escultura e gravura no Líbano e na Itália (pintura, escultura e gravura na Academia de Belas-Artes de Roma e mosaico e afresco na Academia de San Giacomo). De 1973 a 1986 foi professor de pintura e escultura do Instituto de Belas-Artes da Universidade Libanesa, em Beirute. De 1982 a 1992 foi presidente da Associação de Artistas Pintores e Escultores Libaneses. Vive e trabalha em Beirute.


Exposições individuais

1996
Obras recentes, Galerie Alice Mogabgab, Beirute, Líbano.
1995
Galerie Green Art, Dubai, Emirados Árabes Unidos; Coleções particulares, Galerie Alice Mogabgab, Beirute.
1993
Collages, Galerie Rochane, Beirute; Galerie Atassi, Damas.
1992
Yarzé Country Club, Beirute.
1990
Galerie 50 x 70, Beirute.
1989
Peintures, Galerie Platform, Beirute; Desins et Gravures, Galerie Platform, Beirute.
1988
Sculptures, Galerie Platform, Beirute; Pastels et Aquarelles; Galerie Platform.
1985
Petra Bank Art Gallery, Amã, Jordânia.
1984
Galerie Platform, Beirute; Bienal do Kuait; Bienal de Arte Gráfica, Bradford, Inglaterra.
1983
Aeroporto de Jeddah, tapeçarias murais, Arábia Saudita.
1981
Mandaloun, Dbayé, Líbano.
1980
Galerie Antique Beyrouth, Beirute
1979
Retropectiva, Chambre de Commerce, Beirute.
1976
Galeria Esagono, Lecce, Itália.
1975
Galeria Novelli, Verona, Itália.
1974
Galerie Modulart, Beirute; Bienal de Bagdá, Iraque.
1973
Galeria Trifalco, Roma, Itália; Galerie Contact, Beirute.
1972
Galeria Cavour, Milão, Itália; Alger
1971
Galeria La Stadera, Sulmona, Itália.
1970
Centro International de Arte Poliedro, Roma; Galeria Soligo, Roma; Galeria Magnagraccia, Taranto, Itália.
1968
Dar el Fan, Beirute.
1968
Galeria Poliedro, Roma.
1965
Associação de Artistas Libaneses, Beirute; Bienal de Alexandria.


Exposições coletivas

1994
Dubai, Emirados Árabes Unidos.
1989
Barbican Center, Concourse Gallery, Londres, Inglaterra; Institut du Monde Arabe, Paris, França.
1982
Musée Sursock, Beirute.
1980
Galerie Faris, Paris; Douzième Festival International de Peinture, Cagnes-sur-Mer, França.
1978
Exposição internacional de gravura, Lecce, Itália; exposição com Samia Tutunji, Beirute.
1977
Exposição com Samia Tutunji, Beirute.
1976
Exposição de Arte Islâmica, Londres.
1974
Exposição com Samia Tutunji, Beirute.
1972
Museu Ueno, Tóquio, Japão; Ministério do Turismo, Roma; Galeria Trifalco, Roma; Galeria Cortina, Milão; Galeria Contini, Roma
1968
Dar el Fan, Beirute.


Coleções

Museu de Arte Moderna de Doha, Qatar;
British Museum, Londres;
Ministério da Educação e de Belas Artes, Beirute;
Fundação Schumann, Amã, Jordânia;
Chase Manhattan Bank, Nova York, Estados Unidos.


Prêmios
1974
1º prêmio de gravura, Lecce, Itália.
1968
Prêmio de escultura do Centro Cultural Italiano, Musée Sursock, Beirute.
1965
1º prêmio de pintura, Musée Sursock, Beirute.