| Por Tonko Maroevic
Desde seus primeiros passos na arte, Boris Demur manifestou um desejo particular e a necessidade do absoluto, radical e definitivo. Até nos anos de formação, movimentou-se apaixonadamente em direção a situações liminares do meio escolhido ou modo de expressão, a fim de alterar, depois de exaurir um determinado círculo problemático, os pontos de partida e recomeçar nos pressupostos de uma pureza extrema, ultrapassando todas as limitações da criatividade, espaciais e temporais (e, portanto, históricas e materiais). Dado que todas as fases e todas as experiências de amadurecimento estão sintetizadas hoje em seu modo de atuar, é necessário lembrar que atravessou a gestualidade expressionista, o relacionamento livre do desenho e do objeto, das fotografias e das cores nas instalações, o período de autoconscientização e a pesquisa tautológico-poetológica através da nomeação - escrita de palavras - ação, e, por fim, a prática curativa de uma pintura primária, analítica, tendo chegado ao 'grau zero' do monocromo e à 'tábula rasa', brancura total.
Quando, no início da década de 80, 'descobriu' a espiral, isto é, quando sentiu que mediante essa formação arquetípica e modo elementar de organização de linhas de força espaciais é possível a expressão mais completa, todos os elementos materiais do processo de pintura caíram para segundo plano: podia livrar-se facilmente do pincel, da paleta, da tela e da moldura, dos suportes convencionais e do pigmento especialmente preparado. Em vez disso, trabalhando diretamente com as mãos, utilizando cores ao alcance delas e freqüentemente superfícies improvisadas, atuou o mais diretamente possível como transmissor de sugestões cósmicas, como intermediário de estímulos biológicos e como criador de campos energéticos autônomos. Para ele, a espiral não foi apenas uma cifra racional nem se tornou uma patente, passível de ser sempre mecanicamente reproduzida (abusada), mas preservou características de uma provocação vital e prova criativa, permanecendo como um ponto de controle contínuo e exame durável.
A idéia da espiral, é verdade, podia ter sido apoiada pela imaginação científica e evidência exata, encontrando sua aplicação nos planos macro e micro: das nebulosas estelares aos núcleos florais, da impressão digital à própria estrutura do átomo ou do DNA. Mas o caminho de Demur até a espiral passou pela redução de elementos essenciais da linguagem de pintura: dos turbilhões de luz barrocos, pelas modulações espaciais, a Cézanne, até as antropometrias de Klein e movimentos rituais de Pollock. Naturalmente, chegou à espiral em primeiro lugar pela concentração das próprias premissas de trabalho, pela decisão de levar ao rubro os princípios holísticos e pelo desejo de não atraiçoar postulados do comportamento vanguardista. Apenas na espiral podia encontrar a totalidade desejada da visão e da realização cotidiana.
Durante algum tempo Demur numerou seus trabalhos e, em alguns anos, chegou a quase 10 mil concretizações-variações. Tendo provado a riqueza e o potencial de um princípio e ponto de partida férteis, entregou-se às realizações e aplicações que confirmaram consentimentos surpreendentes e de fato maravilhosos. Em seus trabalhos na Istra, por exemplo, estabeleceu correlações admiráveis com os mestres rurais, medievais, do afresco, e nas realizações em grandes formatos aproximou-se e escutou os ritmos telúricos fundamentais, chegando a uma variante de land-art. E as pinturas que realizou durante a guerra patriótica da Croácia são uma afirmação sem patetismo (tampouco literal) da vitalidade ameaçada, a voz do genius loci que corresponde à língua universal - como numa interseção ideal da música espacial e do ambiente regional, até o alfabeto específico local. Na verdade, abordando o trabalho de maneira concentrada, como a oração sui generis, Demur conseguiu que suas obras irradiassem não só as virtudes formais comuns, mas também um esforço ético real (diálogo entre o preto e o branco), ou até um forte testemunho existencial (nódoas não-impassíveis das impressões vermelhas 'de ação').
Pode parecer um jogo de palavras se disséssemos que a espiral é de fato o mais próximo do espiritual, e que a 'demurização' das formas é uma maneira segura de sua desmaterialização. No entanto, esse artista, raro entre os contemporâneos, chegou a um sincretismo original, de tendência geométrica e orgânica (na base da abstração), a um ponto em que a matéria se transforma realmente em energia (ou, por analogia, aquilo latente e transcendente se manifesta por sinais materializados). Por isso, nos últimos tempos, podia até abandonar a exclusividade dos tons azuis, celestes e ultra-sensitivos e abrir-se aos registros das cores de diferentes símbolos precursores. E, desse modo, colocar suas espirais em novos contextos de significado, isto é, possibilitar que os novos significados entrem livremente nas telas espirais, redes, armadilhas...
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| Nasceu em Zagreb, em 6 de junho de 1951. Licenciou-se em pintura na Academia de Belas-Artes em zagreb, na classe do professor raul Goldoni, em 1975, tendo igualmente terminado o curso de licenciatura em gráfica na mesma academia, na classe do professor Albert Kinert, em 1977. De 1975 a 1977 trabalhou na oficina do professor Ljubo Ivancic. Vive e trabalha em Zagreb.
Exposições individuais
1996 Pintura dos Campos Energéticos, Galeria Beck, Zagreb, Croácia. 1995 Turbilhão Espiral II, Galeria dos Media Alagardos da Associação Croata de Artistas Plásticos, Casa dos Artistas Plásticos Croatas, Zagreb, Croácia; Turbilhão Espiral III, Bienal dos Jovens, Lamparna, Labin; Audição - Diálogo Espiral: Ouvir Caravaggio, Galeria Miroslav Kraljevic', Zagreb, Croácia. 1993 Pintura Espiral, Museu de Arte Contemporânea, Zagreb, Croácia; Origem do Vime Entrelaçado e da Escrita Glagolítica Croatas, Galeria Zvonimir, Zagreb, Croácia; Do Ciclo das Espirais Cósmicas, 17a Bienal da Música de Zagreb, sala de Concertos Vatroslav Lisisnki, Zagreb, Croácia. 1991 Réquiem na Croácia, Galeria Studentski Centar, Zagreb, Croácia. 1990 Pintura da Bio-geo-métrica Espiral, Espaço dos Media Alagardos da Associação Croata de Artistas Plásticos de Zagreb, Croácia. 1986 Meandro, Círculo Espiral (Knifer, Rakoci, Demur), Galeria Studentski Centar, Zagreb, Croácia. 1985 Ambiente Azul Espiral, Salão da Galeria Karas, Zagreb, Croácia. 1984 Demur, Petercol, Rakoci, Galeria Studentski Centar, Zagreb, Croácia. 1982 Pintura Branca com Mãos e Impressão das Impressões, Espaço Media Alagardos da Associação Croata de Artistas Plásticos de Zagreb, Croácia. 1979 Pintura Elementar e Fundamental, Galeria Studentski Centar, Zagreb, Croácia. 1977 Pintura Analítica, Primária e Fundamental, Galeria Studentski Centar, Zagreb, Croácia.
Exposições coletivas
1996 125 Obras de Primeira da Arte Croata, Casa dos Artistas Plásticos Croatas, Zagreb, Croácia. 1995 Desenho Contemporâneo Croata, Pequim, China. 1994 Naturally, Nature and Art in Central Europe, Ernst Museum, Budapeste, Hungria. 1993 Arte Nova Croata, Pavilhão Artístico, Zagreb, Croácia. 1992 Ville e Palazzi: Muse di Pietra, Malo, Vicenza, Itália. 1991 Desenho Contemporâneo Croata e Esloveno, Galeria Moderna de Liubliana, Eslovênia. 1986 Tendências Geométricas Hoje, Galeria Moderna de Liubliana, Eslovênia. 1981 Trienal Internacional do Desenho, Wroclaw, Polônia. 1980 XI Bienal de Paris, França. 1978 Trienal Internacional do Desenho, Wroclaw, Polônia. 1977 Trigon '77, Neue Galerie, Graz, Áustria.
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