| Por Nelson Herrera Ysla Havana, maio de 1996
Nada para Ver, Tudo para Sentir
Tania Brugueras não produz obras de arte no sentido exato da palavra.
Elas enviam o espectador ao interior de si mesmo. Derivam toda a `contemplação´ artística para a auto-reflexão, utilizando o `fato´ artístico como instrumento, depois de ter considerado esgotadas diversas propostas começadas há alguns anos.
A artista acredita que o discurso fictício da obra de arte está superado e usa agora o fundamento espiritual da condição humana, utilizando ambientes construídos com sensibilidade, inteligência e alguns objetos. Embora se trate de outra operação discursiva e, de certa forma, de outra ficção, não deseja mais manipular a visualização tradicional e as referências consagradas pela história. Utiliza os processos de criação que tocam as fibras mais sensíveis do ser humano sem as conhecidas mediações de `símbolos e signos´, `metáforas´ ou, de forma mais moderna, `encontros´ e `intertextos´ próprios de câmaras informadas up to date.
Tania é visceral. Aqui e agora.
Depois de diferentes períodos de iniciação em que construiu sua própria ficção artística e acrescentou à arte cubana do começo da década de 90 um projeto conceitual novo, ela sente agora a necessidade de dizer as coisas, suas coisas, diretamente aos sentidos, às emoções e aos sentimentos do outro.
Formada pelo Instituto Superior de Arte de Havana em 1992, participou ativamente de oficinas de arte têxtil, fotografia, cinema e teoria para conseguir assim um aparato teórico sólido, baseado em técnicas diversas que não a amarrassem a um ofício ou expressão única. Aventurou-se também no setor editorial com a polêmica revista Memórias de la Postguerra e fez exposições na Europa, Estados Unidos, América Latina e Caribe com performances de grande talento. Tudo isso antes de ter completado 28 anos.
A complexa visão de arte que a artista assumiu em um período tão curto da vida permite-lhe agora fechar um ciclo e iniciar outro.
Para ela, a arte não é um objeto concreto, não se traduz em formas e matérias que podem ser explicadas pela crítica e pela historiografia do momento. Não existe nada específico para `ver´, para `tocar´ com o olho preparado.
Em suas propostas atuais há muito mais do que sentir. Intangibilidade? Imaterialidade? Podem ser as duas coisas ou nenhuma delas. O que é certo é que Tania propõe um caminho de autoconstrução do prazer estético sem usar como meio o objeto criado, e isso a situa longe das tendências principais e das margens que elas causam. Ela é uma verdadeira outsider. Uma artista (que não pode ser classificada dentro da Cuba da década de 90) que não participa do comentário crítico-reflexivo da realidade nem das releituras das histórias da arte que tanto atraem as novas gerações.
Como a palma do pátio de Nicolás Guillén, Tania "nasceu só" e anda só, procurando tudo aquilo que a faça se sentir uma mulher criadora que se movimenta entre situações-limite de participação social e ações individuais, evitando a influência sedutora do mercado de arte nestes tempos de crise.
Não lhe interessa, neste momento, a idéia da perdurabilidade ou do que não é perecível na arte. O que faz é algo que parece ser uma extensão da sua própria vida e das suas idéias sobre a vida em geral.
Há nisso um sacrifício pessoal, devoção e um constante movimento de uma esfera a outra do conhecimento e do espírito.
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| Nasceu em Havana, Cuba, em 1968, e formou-se em 1992 no Instituto Superior de Arte de Havana, depois de ter estudado na Academía e na Escuela Elementar de Artes Plasticas 20 de Octobre. Entre 1986 e 1996, realizou diversas exposições individuais em Havana e também na Gasworks Gallery, em Londres, Inglaterra. Participou de diversas exposições coletivas e realizou várias performances.
Exposições individuais
1996 Lágrimas de Tránsito, Centro Wifredo Lam, Havana, Cuba; Peso Muerto, Centro de Desarrollo de las Artes Visuales, Havana, Cuba. 1995f Lo que Me Corresponde, Havana, Cuba; Soñando, com Fernando Rodriguez, Gasworks Gallery, Londres, Inglaterra. 1993 Memoria de la Postguerra, Galería Plaza Vieja, Fondo Cubano de Bienes Culturales, Havana, Cuba. 1992 Ana Mendieta - Tania Bruguera, Centro de Desarrollo de las Artes Visuales, Havana, Cuba. 1986 Marilyn Is Alive, Academía de Artes Plasticas San Alejandro, Havana, Cuba.
Exposições coletivas
1996 The Visible and the Invisible: Representing the Body in Contemporary Art and Society, St. Pancras Church, Institute of International Visual Art, Londres, Inglaterra; Salón Internacional de Estandartes, Centro Cultural Tijuana, México; Otras Escri(P)turas, Centro Provincial de Artes Plásticas y Diseño, Havana, Cuba; Mujeres por Mujeres, Galería Imago, Gran Teatro de la Habana, Havana, Cuba. 1995 Primer Concurso de Arte Contemporáneo, Museo Nacional de Bellas Artes, Havana, Cuba; II Bienal del Barro "Barro de América", Museo de Arte Contemporáneo, Maracaibo, Venezuela; La Isla Posible, Centro di Cultura Contemporania, Barcelona, Espanha; New Art from Cuba, Whitechapel Art Gallery, Londres, Inglaterra; Las Formas de la Tierra, Galería Buades, Madri, Espanha. 1994 V Bienal de La Habana, Castillo de los Tres Reyes del Morro, Havana, Cuba; Catálogo, Galería Catálogo Uneac, Unión Nacional de Escritores y Artistas de Cuba, Havana, Cuba; Salón de la Ciudad´94, Centro de Artes Plásticas y Diseño, Havana, Cuba; Una Brecha entre el Cielo y la Tierra, Centro de Artes Plásticas y diseño, Havana, Cuba; Utopía, Galería Espada, Casa del Joven Creador, Havana, Cuba; La Jeune Peinture Cubaine, Maison de la Culture du Lemetin, Fort-de-France, Martinica; Avance, Galería Centro de Artes Visuales, Guantánamo, Cuba. 1993 XI Bienal Internacional de Dibujo, Cleveland, Inglaterra; La Nube en Pantalones, Museo Nacional de Bellas Artes, Havana, Cuba; Dibujo no te Olvido, Centro de Desarrollo de las Artes Visuales, Havana, Cuba. 1992 Segunda Bienal Internacional del Cartel en México, Museu José Luis Cuevas, Cidade do México; Cambio de Bola, Galería Habana, Cuba. 1989 II Festival de la Creación y la Investigación Artística, Instituto Superior De Arte, Havana, Cuba; Exposición Taller de Fotografía Manipulada, fototeca de Cuba, Havana, Cuba; Es Sólo lo que Ves-Exposición de Arte Abstracto, Havana, Cuba; El Isla en la III Bienal de la Habana, Galería El Pasillo, Instituto Superior de Arte, Havana, Cuba. 1988 No Por Mucho Madrugar Amanece Más Temprano, Fototeca de Cuba, Havana, Cuba; El Isla en Casa, Casa de las Américas, Havana, Cuba. 1987 Festival de la Creación y la Investigación Artística, Instituto Superior de Arte, Havana, Cuba. 1986 Proteo II, Galería Leopoldo Romañach, Academía de Artes Plasticas San Alejandro, Havana, Cuba.
Performances
1996 Lágrimas de Tránsito, Estudio de Taller, Centro Wifredo Lam, Havana, Cuba. 1995 Lo que Me Corresponde, Havana, Cuba; Dedalo - El Imperio de Salvacion, Primer Concurso de Arte Contemporáneo, Museo de Bellas Artes, Havana, Cuba; Sin Titulo, Xamaca Workshop, Cristal Spring, Jamaica. 1994 Miedo, da série Dedalo - El Imperio de Salvación, V Bienal de la Habana, Castillo de los Tres Reyes del Morro, Havana, Cuba; Alter Ego, na exposição Una Brecha entre el Cielo y la Tierra, Centro de Artes Plasticas y Diseño, Havana, Cuba; Proyecto de Obra, na exposição Utopía, Galería Espada, Casa del Joven Creador, Havana, Cuba. 1993 Rastros Corporales 1982-1993, na exposição La Nube en Pantalones, sobre performance de Ana Mendieta, Museo Nacional de Bellas Artes, Havana, Cuba. 1988 Rastros Corporales 1982-1988, na exposição No Por Mucho Madrugar Amanece Más Temprano, sobre performance de Ana Mendieta, Fototeca de Cuba; Havana, Cuba.
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