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Professeur Suicide
1995. Poliéster, madeira, tela, filme, vídeo musical, 300 cm de diâmetro. Coleção: FNAC. Exposição na Galerie Ghislaine Hussenot, Paris





Les Fleurs Carnivores
1991. 1300X240X200 cm. Exposição na Biennale d'Art Contemporain



 


 


Alain Séchas

Por Laurence Gateau


El Pacificador

Atípicas, subversivas e plenas de humor, as obras de Alain Séchas atraem e intrigam com suas dobras e desdobramentos. Elas parecem adicionar ao ritmo rápido do desenho temáticas inesperadas no âmbito da arte contemporânea. Se tirarmos a essência de seu contexto, que dá expressão a cada uma de suas figuras, ele assume uma dimensão material e às vezes sonora nas obras com volume inflado de ar. A escolha dos materiais, plexiglass colorido, poliéster recoberto de material branco acetinado e vaporoso, confere leveza às obras. Sua sensualidade, sua capacidade de estabelecer um elo com as cores do local onde estão expostas, a transparência do plexiglass e o reflexo nacarado dos volumes são trespassados pela violência dos títulos. Viol nº 1, Vous me Faites Horreur, La Pieuvre, Les Fleurs Carnivores, Professeur Suicide. Assim como as imagens a que elas apontam, eles sublinham a importância de uma leitura imediata. Esta característica introduz um desejo de oferecer a obra de arte a um público grande, de romper a relação discursiva e exclusiva, normalmente limitada ao campo da arte. Artista extremamente responsável em sua atitude frente às obras que cria, ele lhes confere um profundo sentimento de ética que, em toda a leveza das formas que cria e de seu humor, sua arte se abre para o mundo e participa da construção de territórios móveis, de possibilidades de futuro. A legibilidade da obra, sua força de atração visual, sonora e táctil, sua capacidade de agir sobre todos os sentidos, repercute no espectador. Esta é uma dimensão de importância básica conforme disse o próprio artista em uma entrevista dada a Catherine Francblin: "minha intenção é sempre a de criar um confronto direto entre a obra e o espectador... Meu desejo é colocar o espectador em estado de sideração; fazer com que ele prenda a respiração, que seu olho fique o mais aberto possível, que seus pulmões se encham de ar, que ele fique com a impressão de que não se trata de um mistério, mas de um pequeno enigma, como nos textos de Henry James. Tento colocar o espectador numa posição da qual ele não possa se distanciar, de modo a torná-lo responsável".

O raciocínio utilizado para abordar uma obra parece funcionar no âmbito de um universo lógico. Ver a obra de Alain Séchas é como abandonar a grande enciclopédia das idéias, principalmente aquelas que se aplicam à arte contemporânea, sem perder de vista que ela também atua neste campo. Ela perturba seu funcionamento e, por uma interação entre a obra e seu espectador e com o contexto que a circunda, extrai daí seus vícios. Por meio desse sistema de inversões e de oposições é que se articulam suas proposições, seus desvios.

Char aux Lapins coloca em cena, em um espaço particular, uma montagem das mais especiais: a obra é composta de seis coelhos recortados e uma mulher com meias rendadas e cinta-liga que dirige a pequena tropa a golpes de chicote. Através do vidro colorido do peep-show, o espectador é pego na armadilha de seu próprio olhar dirigido à mulher nua que é oferecida e que está localizada no centro da 'cena'.

As coincidências entre as obras, seu contexto e o espectador dão vida aos territórios flexíveis e móveis. Os filmes Os mosqueteiros e a série de cerca de 30 minutos de pequenas seqüências parecem dar à matéria este movimento contínuo. Associando utensílios que estão próximos do artista, Séchas os posiciona sucessivamente de modo a filmá-los plano por plano. Por meio desta ação, ele metamorfoseia os objetos que interceptou. Movidos por um fluxo ininterrupto, eles mudam constantemente de forma e de expressão. O movimento circula permanentemente na obra, é sua matéria e provoca deslizamentos para o exterior, em direção ao espectador, para obrigá-lo a refletir sobre o olhar.

Les Fleurs Carnivores, assim como Le Professeur Suicide, questiona o poder das imagens e mesmo, de modo direto, a violência deste poder. Ele as coloca em equilíbrio, fazendo circular fluxos sonoros e ondas luminosas. Les Fleurs Carnivores dispersam todos os centros visuais. Moldadas em poliéster, levam a caminhos inesperados em um jogo com a figura autoritária do imperator e o ranger imprevisto de suas mandíbulas, espécies de ondas visuais refratadas, que perturbam e aniquilam a posição central na imagem.

Professeur Suicide associa uma projeção de vídeo com volumes de poliéster. O quarteto de Haydn embala a instalação. Música, imagens de vídeo e volumes têm uma aparência estável. No entanto, quando os pequenos personagens do vídeo cravam agulhas em suas cabeças, o som reverberante dos balões que explodem sucessivamente quebram a harmonia e se sobrepõem por alguns momentos à música. Antes de desaparecerem completamente, as imagens do vídeo que mostram cabeças se decompondo parecem se incorporar aos relevos das figuras em volume. O espectador, iluminado pelo facho de luz emitido pelo projetor de vídeo, fica submetido ao mesmo desaparecimento progressivo.

O contexto da apresentação é um vetor fundador da obra de Alain Séchas e, apesar de esta constatação não ter por objetivo reduzir a obra, ela é mais tópica do que in-situ. Les Papas e Le Chat, que, junto com El Pacificador - obra produzida especialmente para este evento -, serão apresentadas nesta bienal, abordam a questão da filiação, a questionam, a convocam para finalmente afastá-la e subtrair o peso que ela coloca na criação. As três obras encenam, com dois gatos e seus esqueletos, alunos/artistas destituídos, em sua brancura opaca, tênues reflexos tímidos e impotentes frente à imagem colorida e autoritária dos pais. El Pacificador está parado entre dois territórios. As manchas vermelhas de suas luvas de boxe, que ele traz na ponta de seus braços pendentes, estão à espera de um movimento.

Estes estímulos perceptivos fazem surgir mecanismos efetivos no campo da arte: a relação com o espectador, as conotações de um meio ambiente, os significados por meio de clichês, a utilização de materiais específicos. As obras convocam uma grande diversidade de técnicas visuais: pintura, som, escrita, volume, instalação, referências à fotografia e utilização de objetos pré-fabricados - mesa, cadeira, bancos, cavaletes, esqueletos de plástico. Estas obras fazem surgir um mundo fechado que se auto-referencia e que dificilmente se revela ao exterior, para além de seu território. Paradoxalmente, elas opõem resistência a ele.



Cronologia


Nasceu em 1955 em Colombes, França. Vive e trabalha em Paris.


Exposições individuais

1995
Institut Français, Roma, Itália; Le Creux de l'Enfer, Centre d'Art Contemporain, Thiers, França; Galerie Ghislaine Hussenot, Paris, França.
1994
Théâtre d'Evreux, França; La Pieuvre, FRAC Auvergne, Mauriac, França.
1993
Galerie Albert Baronian, Bruxelas, Bélgica.
1992
Hôtel des Arts, Paris, França.
1991
Galerie Ghislaine Hussenot, Paris, França.
1990
La Criée, Halle d'art contemporain, Rennes, França.
1988
Galerie Ghislaine Hussenot, Paris, França; Galerie Albert Baronian, Bruxelas, Bélgica.
1987
Galerie Wittenbrink, Munique, Alemanha; APAC, Nevers, França.
1985
Galerie Crousel-Hussenot, Paris, França.
1984
SAFE, Hagondange, França.


Exposições coletivas

1995
Toys, Galerie Jousse-Seguin, Paris, França; Histoire de l'Infamie, exposição itinerante em Veneza, Montluçon; Cosmos, Le Magasin, Centre National d'Art Contemporain, Grenoble, Suíça.
1994
Le Saut dans le Vide, Moscou, Rússia; Exposition de la Fondation Cartier, Seul, Coréia do Sul.
1991
FRAC Poitou-Charentes, Hôtel Saint-Simon, Angoulême, França; L'Amour de l'Art, Biennale d'Art Contemporain, Lyon, França; L'Objet de la Sculpture, Rotonda Della Besana, Milão, Itália.
1990
Fonds National d'Art Contemporain, Acquisitions, Paris, França; Ligne de Mire, Fondation Cartier, Jouy-en-Josas, França; Aperto, Biennale di Venezia, Itália.
1989
Theater Garden Bestiarium, PS1, Nova York, Estados Unidos; Teatrojardin Bestiarium, Teatro Lope de Vega, Sevilha, Espanha; Jardin Théâtre Bestiarium, Confort Moderne, Poitiers, França.
1988
Oeuvres du FRAC Rhônes-Alpes, Villa du Parc, Annemasse, França; Manufrance, Saint-Etienne, França.
1987
Galerie Crousel-Hussenot, Paris, França.
1986
Contained Attitudes, Artist's Space, Nova York, Estados Unidos.
1985
Rendez-vous, Lothringer Strasse, Munique, Alemanha; Synonyme für Skulptur, TRIGON 85, Graz, Áustria; Galerie Crousel-Hussenot, Paris, França.