| Por Marianne de Tolentino
Um Artista que Reflete e Questiona: Tony Capellán
A arte contemporânea questiona-se. Não é somente o setor mais tradicional dos artistas e da crítica que a coloca em juízo, mas também seus próprios adeptos revêem constantemente seus critérios. Isso é positivo. Da dúvida pode nascer a fé e a paixão. E dos incrédulos surgem os convertidos, que então se tornam fanáticos da experimentação e de uma estética nova. De fato, não existe crise da arte e de seus valores. Simplesmente manifesta-se com maior freqüência nas últimas gerações e também em parte das anteriores a consciência de uma mudança expressiva necessária. A convicção de que arte e vida são uma coisa só.
Na República Dominicana, país onde a pintura sempre foi predominante, a escultura é resvalada, e o desenho e a arte gráfica são incompreendidos, a instalação colocou-se como uma categoria suscetível de integrar os diferentes procedimentos e materiais, de propor uma versão totalizante da concepção artística. Foi precisamente em São Paulo e na única Bienal completamente latino-americana, com o tema Mitos e Magias, ocorrida em 1978, que se apresentou pela primeira vez, realizada especialmente para essa ocasião, uma instalação dominicana. Seu autor, Jorge Severino, elaborou um verdadeiro ambiente, que, entre outros elementos, trazia um altar, incontáveis objetos e imagens e um esqueleto de casa de camponeses. Hoje, seu transporte... pelos custos, seria impensável.
Entretanto, a década de 90, desde o início, foi decisiva para o florescimento - quantitativo e às vezes qualitativo - das instalações. Referindo-se aos artistas que trabalham em São Domingos, além dos pioneiros Jorge Severino e Soucy de Pellerano, citaremos Danicel, Tony Capellán, Jorge Pineda e Belkis Ramírez. Existem também 'instaladores ausentes', como Marcos Lora Read e Rachel Payewonsky.
Por esse motivo escrevemos: "Ambientações e instalações têm seus adeptos, os jovens não se sentem tão submetidos à égide acadêmica, com um resultado indiscutível em sua mistura de arcaísmo e sofisticação, de espírito caribenho e visão universal, sendo Tony Capellán o autor mais dotado e fecundo". (La Revista, Centro de Estudios Avanzados de Puerto Rico y El Caribe, número 14, junho de 1992).
Nesse momento, Tony Capellán, que novamente representa a República Dominicana, após obter um prêmio mundial da Unesco no ano passado, apresenta uma mudança na temática e no espírito de suas instalações. Ao lado da magia dos trópicos e do imaginário fantástico como terreno de escolha e investigação, juntam-se os problemas e os dramas que afetam a República Dominicana e a maioria dos países latino-americanos... quando não a atual conjuntura mundial.
A obra converte-se em um elemento perturbador, produto da indignação, do questionamento e da reflexão; e que pretende provocar no espectador a reflexão, a indignação e o questionamento. Propositadamente, modificamos a ordem dos termos no processo reativo. Tony Capellán atua brechtianamente, causando o assombro, estabelecendo uma distância física e intelectual entre nós e os objetos expostos. A partir da surpresa e do choque, desenvolve-se um mecanismo de leitura que, por sua vez, perturba a sensibilidade e move a consciência.
Não existe inocência... só a das vítimas. Os recipientes estão colocados, idênticos e eqüidistantes, iluminados por lâmpadas que, como nas instalações anteriores, sugerem o âmbito carcerário. Neles flutuam, manchadas, as peças de convencimento. A forma circular dos recipientes assinala o caráter inevitável, sem princípio nem fim, da agressão e do abuso.
Surgida de um fato - que, sem dúvida, acontece quase sempre e em quase todos os lugares -, a violação de menores na prisão, a instalação de Tony Capellán adquire uma dimensão simbólica, local e universal. De modo surdo e agudo, é a violência em geral que se denuncia, funcionando 'fisio-logicamente' como um corpo de células/celas, fagocitando os indefesos. De maneira nenhuma está distante em Manchas - título denotativo e conotativo da obra -, a alusão ao sangue, às plaquetas e provas, e a outro flagelo de nossa época, a Aids.
Como em outras instalações concebidas e realizadas por Tony Capellán, apesar do tema sombrio, aflora a poesia. Mas não o humor... enquanto em outra obra concomitante, La Pasión Después de Monet, a metáfora, polissêmica, não descarta o sorriso. As ninféias preservativas, por não serem rosas, nos remetem a outros espinhos e à alegoria dos aguilhões. Novamente, o artista transmuta sua época e a vida.
Tony Capellán soube 'desmaterializar' as convenções artísticas, como propõe a 23ª Bienal Internacional de São Paulo, agregando simultaneamente na criação plástica o compromisso com as angústias da realidade.
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| Nasceu em Tamboril, na República Dominicana. Estudou no Departamento de Artes da Universidad Autónoma de Santo Domingo. Fez diversos cursos de gravura em relevo, entalhe e serigrafia, este último no Art Student League de Nova York. Vive e trabalha em Santo Domingo.
Exposições individuais
1996 Casa de Francia, Santo Domingo, República Dominicana. 1995 Marcha Forzada, Casa das Bastidas, Santo Domingo, República Dominicana; Preguntas sin Respuesta, Centro Europeo de Cerámica, Holanda; Exportadores de Almas, Museo de Arte Moderno, Santo Domingo, República Dominicana. 1993 Kábalas, Galería Nader, Santo Domingo, República Dominicana; Galería Nacional de Arte Contemporáneo, San José, Costa Rica; Utopías, Museu de las Casas Reales/Casa de Bastidas, Santo Domingo, República Dominicana. 1992 Mitos del Caribe, Museo de Arte e Historia de San Juan/Galería Raíces, Porto Rico; Amuletos, Casa de Francia. 1991 Trucamelos, Galería Raíces, San Juan, Porto Rico; Zona Mágica, Casa de Bastidas, Santo Domingo, República Dominicana; Trazos Ceremoniales, Culturais, Plaza de la Cultura de Santiago, Chile. 1990 Mitología y Ritos, Galería de Arte Moderno, Santo Domingo, República Dominicana. 1988 Obsesiones Cotidianas, Museo de las Casas Reales, São Domingos, República Dominicana. 1987 Xilografías, Sala de Exposições, Biblioteca Nacional; Grabados, Casa de Bastidas, Santo Domingo,República Dominicana; Ruínas del Gran Hotel, Manágua, Nicarágua. 1979 Figura de Tiempo, Círculo de Coleccionistas, Santo Domingo, República Dominicana.
Exposições coletivas
1995 Africus, I Johannesburg Biennale, Johanesburgo, África do Sul; Reaffirming the Spiritual, El Museo del Barrio, Nova York, Estados Unidos. 1994 22ª Bienal Internacional de São Paulo, Brasil. 1993 Pintura del Caribe y Centroamérica Hoy, Museu de Arte Moderna da América Latina, Washington, Estados Unidos; Salón de Verano, Centro de Art Nouveau, Santo Domingo, República Dominicana; 3º Salón Nacional de Dibujo, Galería Arawak; Museo de Arte Moderno; Pasaporte, San Juan Conservation Studio, Porto Rico; Carib Art, exposição intinerante da Unesco; Los Jurados Exponen, Concurso La Joven Estampa, Casa de las Américas, Havana, Cuba; 10ª Bienal de San Juan del Grabado Latinoamericano y del Caribe, San Juan, Porto Rico; Festival Internacional de Fotografia: Fin de Milenio, Museo de Arte Moderno, Santo Domingo, República Dominicana. 1992 1ª Bienal de Pintura del Caribe y Centroamérica; África en América, Vigo, Espanha; Encontro com os Outros, Kassel, Alemanha; Pintura Contemporânea Dominicana, Israel; Concurso Internacional de Escultura, Québec, Canadá; Feria Internacional de Arte de Bogotá, Colômbia; 18ª Bienal Nacional de Artes Visuales. 1991 10ª Bienal Internacional de Valparaíso, Chile; 23º Festival Internacional de Pintura, Cagnes-sur-Mer, França; 9ª Bienal de San Juan de Grabado Latinoamericano y del Caribe, SanJuan, Porto Rico; 4ª Bienal de la Habana, Havana, Cuba. 1990 13º Concurso de Arte E. León Jimenes, Santo Domingo, República Dominicana; Santo Domingo-Paris, Casa de Francia; Sculpture of the Americas into the Nineties, Museu de Arte Moderna da América Latina, Washington, Estados Unidos; 9ª Trienal Internacional de Gravura (Intergraphic), Alemanha. 1989 2º Festival Ibero-Americano de Arte e Cultura, Brasília, Brasil; Exposición Certamen de Joven Pintura Dominicana, Casa de Francia; Los Estandartes de la Libertad, Paris, França; 8ª Bienal de San Juan del Grabado Latinoamericano y del Caribe, San Juan, Porto Rico. 1987 La Joven Estampa, Casa de las Américas, Havana, Cuba; 12º Concurso de Arte E. León Jimenes; Arte Dominicano Actual, Museo de Arte e Historia de San Juan, Porto Rico; Três Artistas Dominicanos Contemporâneos, Hostos Art Gallery, Nova York, Estados Unidos. 1986 25 Jóvenes Pintores Dominicanos para las Américas, OEA, Casa de Bastidas, Santo Domingo, República Dominicana. 1985 5ª Exposición Mini-Grabado, Cadaqués; Barcelona, Espanha; Taller de Jóvenes Criadores, 12º Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes, Moscou, Rússia; Bienal de Grabado de Quito, Equador. 1984 Mostra Internacional de Arte Correo por La Paz, Universidad Autónoma de Santo Domingo, República Dominicana; 6ª Mostra de Gravura Pan-americana, Curitiba, Brasil; 16ª Bienal Nacional de Artes Plásticas. 1983 6ª Bienal de San Juan del Grabado Latinoamericano.
Prêmios
1995 Prêmio UNESCO Promoción de las Artes. 1994 UNESCO-Aschberg. 1992 1ª Bienal de Pintura del Caribe y Centroamérica, medalha de ouro, Museo de Arte Moderno, Santo Domingo, República Dominicana; 18ª Bienal de Artes Visuales, prêmio especial de desenho. 1991 10ª Bienal de Arte de Valparaiso, menção honrosa, Valparaíso, Chile; Bienal de San Juan del Grabado Latinoamericano, primeiro prêmio, San Juan, Porto Rico; 23º Festival Internacional de Pintura de Cagnes-sur-Mer, prêmio do júri e do público, Cagnes-sur-Mer, França. 1990 17ª Bienal Nacional de Artes Visuales, 1º Prêmio Nacional de Gravura. 1989 Concurso Bicentenario de la Revolución Francesa, Premio Ex-Aequo de Pintura, Casa de Francia; 1º Salón Nacional de Dibujo, prêmio de desenhoe, Museo de Arte Moderno, Santo Domingo, República Dominicana.
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