.

Imaret
1995. Instalação de luz e som. Ohrid. Foto: Robert Jankuloski





Sound Perspective
1995. Vidro, areia, som, luz. Kumanovo. Foto: Robert Jankuloski



 


 


Violeta Blazeska e Bogdan Grabuloski

Por Zoran Petrovski


A Sala Silenciosa

"Podemos ver o olhar; não podemos escutar
a audição."
Marcel Duchamp

"Era chamada de sala silenciosa. Tinha seis paredes feitas de material especial; era na verdade uma sala sem eco. Alguns anos atrás entrei em uma sala dessas na Universidade de Harvard e ouvi dois sons - um agudo e outro grave. Quando descrevi esses sons para os engenheiros que trabalhavam lá, eles me informaram que o som agudo era produzido pelo funcionamento do meu sistema nervoso, e o som grave era a circulação do meu sangue."
John Cage

Os sons tensos e altamente sugestivos ouvidos ao entrar na sala escura de Violeta Blazeska e Bogdan Grabuloski foram gravados durante o processo de corte de grandes blocos de mármore perto de Prilep - uma cidade na Macedônia central rodeada por uma cadeia de montanhas rochosas onde está localizada uma das maiores pedreiras de mármore da Europa. A experiência básica que perpetua o trabalho de Blazeska e de Grabuloski é criada exatamente nessa paisagem, neste corte transversal da imagem em seu caracter mítico, e no entalhe, na perfuração ou abertura feita em seu interior. Ao colocar os microfones na profundidade dos buracos cilíndricos feitos para o corte do mármore, extraíram um som que representa, em sua forte condensação física, uma extração do tempo, do espaço e da energia contidos na formação de uma das estruturas mais resistentes da Terra.

Soundsite é, na verdade, parte de uma série de projetos ambientais e espaciais de Blazeska e Grabuloski, em que as características físicas do som e/ou da luz são explorados como fenômenos puramente plásticos, isto é, como um ponto, uma linha, um volume. O volume da massa sonora de Soundsite - organizada em duas séries idênticas - divididas simetricamente - de tons repetidos em um loop - registram a matéria a partir do interior, criam um som extraído dos tons agudos e firmemente modulados, assim como também da forte e profunda ressonância. Em outras duas instalações recentes, a orquestração específica do som e da luz definiu duas linhas diferentes que determinam o espaço. Em Sound Perspective (1995) a repetição regular do som (uma gravação do processo de esmagamento de brita) e dos intervalos substitui a perspectiva ótica, que é completamente desarticulada, projetando uma forte fonte luminosa em uma parede feita de cubos de vidro, mostrando assim a constância do som em comparação ao caráter mutante da luz que guia o olhar. A colocação - em Parallel Lines (1996) - de focos de luz em sucessivas fileiras pela galeria, dirige o nosso movimento que é seguido por um barulho agudo de vidros quebrados. O ritmo que aumenta e diminui os intervalos é determinado pelo sistema numérico de Fibonacci, criando-se assim uma interação entre os dois conceitos espaciais paralelos - um infinitamente extenso e o outro concentricamente condensado.

A tentativa de Blazeska e Grabuloski de trabalhar com o som invisível e com a luz transparente como se fossem meios plásticos e esculturais, em uma tentativa de alcançar a essência da natureza das coisas a partir de um questionamento de seu ser. Em sua opinião, os sons produzidos com o corte ou esmagamento do mármore - assim como os sons produzidos ao se fazer uma gravura (Imaret, 1995) ou uma pintura (Two artists, one work of art, 1996) são manifestações da energia liberada pela vibração da matéria. Entretanto, apenas a percepção do espectador/ouvinte faz com que essas manifestações se tornem aparentes. Além de adquirirmos consciência da firmeza da estrutura quando ouvimos os sons estridentes que cortam o monolito em Soundsite, ficamos também mais conscientes dela por meio de seu próprio corpo ou mesmo de seu ser como um todo no ato físico de cortar o mármore.

Essa auto-reflexão também está presente em Glass Wall (1995), uma instalação de luz e som apresentada em um teatro. As grandes lâminas de vidro que substituem a cortina do teatro permitem que o espectador veja somente o palco vazio e descoberto com sua parede de concreto aparente por base ou a pálida silhueta de seu próprio reflexo. Na verdade, os sons agudos do corte do mármore repetidos em um ritmo idêntico, destacam os contornos das lâminas de vidro e se integram com os flashes curtos de luz que iluminam os contornos estreitos que representam a única presença concreta e visível nessa ilusão vazia de um espetáculo ausente. O som invisível e quase tangível extraído do espaço nos leva, em sua trajetória, até o reflexo - emoldurado no vidro - da nossa silhueta distorcida, confrontando-nos com duas realidades: a imagem e o ser.

O Visual Experiment - que é como Blazeska e Grabuloski denominaram seu conceito escultural de articulação sonora do espaço - pertence, sem dúvida, à longa linha de exploração sonora presente na arte do século XX, de Duchamp a Cage e de Fluxus ao minimalismo. Entretanto, a sua escuta da realidade que, como diria Sloterdijk, "encontra-se em uma composição permanente que ninguém ouviu, porque se transforma apenas na audição", é parte de uma sensibilidade real cuja abordagem sem preconceitos ou concepções preestabelecidas sobre a natureza da arte ou de sua condição, não encontra mais nenhum significado na produção exclusiva de objetos sem uma causa. Segundo os artistas, "toda arte é um processo de acúmulo de experiências em que o som é um componente importante. Sua independência alcança o ser, que é a única razão da existência da arte". Esta declaração pode parecer um lugar-comum, mas, se ela é verdadeira para os artistas, não há razão para que todos nós não pensemos novamente em seu significado.



Cronologia


Violeta Blazeska
Nasceu em Ohrid, em 1952. Graduou-se em 1980 pela Academy of Fine Arts, em Pristina, na Iugoslávia. Vive e trabalha em Prilep, na Macedônia.
Bogdan Grabuloski
Nasceu em Prilep, em 1948. Graduou-se em 1980 pela Academy of Fine Arts, em Pristina, na Iugoslávia. Vive e trabalha em Prilep, na Macedônia.


Exposições individuais

1996
Museum of Contemporary Art, Skopje, Macedônia.
1995
Theater Stage of Dom na Kulturata Marko Cepenkov, Prilep, Macedônia; Ancient Roman City of Heraclea, Bitola, Macedônia; The Old Church of St. Kliment-Imaret Kumanovo, Art Gallery, Ohrid, Macedônia.
1993
Dom na Kulturata Marko Cepenkov, Prilep, Macedônia.
1990
Gallery Dlum, Skopje, Macedônia.
1985
Dom na Kulturata Marko Cepenkov, Prilep, Macedônia.


Exposições coletivas

1996
Cifte Amam 2, Cifte Amam, Skopje, Macedônia.
1995/96
9 1/2: New Macedonian Art, Museum of Contemporary Art, Skopje, Macedônia.
1994
Image Box, Cultural Center Mala Stanica, Skopje, Macedônia.
1993
Writing and Difference, Gallery B`De, Istambul,Turquia.
1992
Macedonian Componence, Central City Square, Skopje, Macedônia.


Prêmio

1994
Image Box, Soros Center for Contemporary Arts Annual Exhibition.