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Melbourne e Sidney
Por Ewen McDonald
Afastando-se da sedutora imagem do Cibachrome, a artista cineasta Tracey Moffatt adotou o estilo, o formato e o tom dos livros da Time Life para uma edição de nove fotografias de 60 por 258 centímetros, sem molduras, a que deu o título coletivo de Scarred for Life. Defrontamo-nos com uma suavidade que resulta de cores rebaixadas e de uma técnica de fotolitografia sobre papel creme que lhe dão um aspecto de 'revista dos anos 60'. O lado grave aparece em conseqüência da seriedade de seus temas - uma abordagem esperada quando se trata de Moffatt, cuja visão da cultura aborígine e da representação de seu povo em sua arte e cinema fez de seu trabalho voz franca e direta. Estas séries focalizam os anos da infância e da adolescência e fazem referência a questões raciais, sexuais (e, indiretamente, a uma homofobia latente) e à violência doméstica.
A reutilização afirmativa que Moffatt faz das convenções da mídia popular conferiu novo vigor a fórmulas já envelhecidas. Suas fotos anteriores nos remetiam às imagens dos filmes B dos anos 50, com cores berrantes nas cenas de seus supostamente ingênuos cartões-postais. Uma verificação mais cuidadosa revela a presença da própria artista no centro destas cenas, frente a cenários construídos em cartolina contra um céu icônico. Como argumentista/diretora, os últimos trabalhos da cineasta incluem um videomusical sobre a superbanda INXS e o longa Bedevil, que, assim como seu curta anterior Night Cries, obteve grande sucesso. Bedevil e Night Cries foram selecionados oficialmente para o Festival de Cinema de Cannes.
As novas fotos dão continuidade a seu antigo estilo ao usar personagens locais e atores escolhidos nas ruas. As cenas, que incorporam histórias de seu passado e do de seus amigos, fazem críticas a seu próprio gênero: o fotodocumentário verdade. Assim como nos livros da Time Life dos anos 60, que freqüentemente registravam pessoas em circunstâncias trágicas, cada situação particular, ao ser tornada 'dramática', é reduzida a uma universalidade 'trágica' que lhes dá uma dimensão de redução igualitária. Este é um recurso irônico que está presente nos títulos dos trabalhos de Moffatt: o fato de ver o mundo pelas lentes dos documentários no conforto e na segurança do lar faz com que nos tornemos imunes às realidades em conflito.
Moffatt pretende abordar as concepções erradas com que são vistos os aborígines. Ela descreve uma Brisbane suburbana - a cidade onde passou a infância - colorida pela televisão, pelos filmes e por questões sociopolíticas. Ela evoca os piores aspectos dos subúrbios, mas estabelece uma assertividade tragicômica pelas inscrições 'confessionais', aparentemente casuais, colocadas à guisa de subtítulos. Em The Wizard of Oz, 1956, por exemplo, um pai aponta com o cachimbo o relógio que está sobre a lareira, enquanto seu filho pequeno está de vestido à sua frente; o subtítulo traz o seguinte texto: 'Ele fazia o papel de Dorothy na peça da escola, The Wizard of Oz... Seu pai ficou zangado por ele ter se vestido cedo demais'. O que fica subentendido é 'o que será que os vizinhos vão pensar?'. Tais reconstruções enfocam questões raciais e sociais, temas típicos de Moffatt, artista que nega o conformismo e se recusa a ser colocada na categoria de 'artista aborígine'. Esta independência permite que ela enfoque questões importantes com sensibilidade e humor.
Texto originalmente publicado em Art in America, Brant Publications, Inc., July 1995.
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| Nasceu em 1960. Seus trabalhos em cinema, vídeo e fotografia têm sido mostrados em numerosos festivais australianos e internacionais. Seu livro Tracey Mofatt Fever Pitch foi publicado este ano, em Sidney, Austrália, pela Piper Press.
Exposições individuais de fotografia
1995 Guapa (Goodlooking), Karyn Lovegrove Gallery, Melbourne, Austrália; Guapa (Goodlooking), Mori Gallery, Sidney, Austrália; Short Takes, ArtPace, San Antonio, Estados Unidos. 1994 Scarred For Life, Karyn Lovegrove Gallery, Melbourne, Austrália. 1992 Pet Thang, Mori Gallery, Sidney, Austrália; Tracey Moffatt, Centre for Contemporary Arts, Glasgow, Escócia. 1989 Something More, Australian Centre for Photography, Sidney exposição itinerante por galerias da Austrália.
Exposições coletivas
1996 The Spiral Village, Museo d'Arte Moderna di Torino, Turim, Itália; Jurassic Technologies, Tenth Biennale of Sidney, Austrália; Prospect 96, Schirn Kunsthalle Frankfurt, Alemanha. 1995
$ales, Sidney, Austrália. 1994
$ 1993 The Boundary Rider, Ninth Biennale of Sidney, Austrália. 1992 Artist's Projects, Adelaide Festival of the Arts, Adelaide, Austrália. 1991 From the Empire's End, Circulo de Bellas Artes, Madri, Espanha. 1990 Satellite Cultures, New Museum of Contemporary Art, Nova York, Estados Unidos. 1988 Shades of Light, National Gallery of Austrália, Camberra, Austrália. 1987 Art and Aboriginality, Aspex Gallery, Portsmouth, Inglaterra. 1986 Aboriginal & Islander Photographs, Aboriginal Artists Gallery, Sidney, Austrália. 1984 Pictures of Cities, Artspace, Sidney, Austrália.
Direção e roteiro de filmes e vídeos 1995 My Island Home, videoclipe Christine Anu. 1994 Let My Children Be, videoclipe Ruby Hunter. 1993 The Messenger, videoclipe INXS; Bedevil, longa-metragem de 90 minutos, indicado oficialmente para o Festival de Cannes de 1993. 1989 Night Cries, curta-metragem de 17 minutos, indicado oficialmente para o Festival de Cannes de 1990; It's Up to You, vídeo de 9 minutos sobre saúde. 1988 Moodeitj Yorgas, documentário de 22 minutos; A Change of Face, documentário em 3 partes para a SBS TV. 1987 Whatch Out, Film Australia, videoclipe de dança de 5 minutos; Nice Coloured Girls, filme experimental de 16 minutos. 1985 The Rainbow Serpent, série de documentários para SBS TV.
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