| Texto extraído de um ensaio de Achille Bonito Oliva (junho de 1994)
Ao olhar para o trabalho de Ben Jakober e Yannick Vu nos encontramos em uma situação anômala na qual a interligação e o diálogo que ocorre entre as duas forças ativas - feminina e masculina, Ben e Yannick - constróem um formato que se revela um documento da transformação do 'eu' em 'nós'. Não se trata de um trabalho feito a quatro mãos, o resultado de um compromisso criativo, mas um curto-circuito equilibrado entre forças capazes de se confrontar até que o objeto encontre sua realização. O trabalho de Ben Jakober e Yannick Vu não pode ser definido como formal, uma vez que tende a intervir não tanto no resultado estritamente lingüístico como na resultante complexidade antropológica.
Os trabalhos de Ben e Yannick buscam representar a paz guerreira e a guerra pacificada que ocorrem entre a subjetividade masculina e a feminina por meio de referências aos mitos. Trata-se de uma identidade artística baseada no conceito de complexidade, articulação, indeterminação e ambigüidade.
O confronto entre Ben Jakober e Yannick Vu situa-se no presente, mas, apesar disso, requer uma denominação mitológica, pois eles tendem a uma temporalidade dupla. É a dupla temporalidade do processo criativo - a integração de um método pessoal duplo, baseado no confronto, diálogo, troca - que integra o passado ao recuperar uma denominação capaz de confirmar a eternidade do mito e o nascimento de um trabalho artístico que, por definição, não é nem masculino nem feminino, porém andrógino.
Ben e Yannick documentam uma temporalidade que supera a individualidade esquemática restrita a uma definição sexual, para atingir uma onipotência criativa por meio da interligação, do diálogo, do confronto e da integração de duas individualidades que atingiram a conjugação de um 'eu' comum: do 'eu' para o 'nós'.
Quando é que o 'nós' termina e aceita com alegria o resultado obtido? É o próprio trabalho que reconhece o final do processo criativo e o alcance do apolíneo, a passagem do underground à epifânia da forma que indica aos dois artistas que o resultado foi alcançado.
A interligação de Ben Jakober e Yannick Vu não é eroticamente metafórica, mas sim o resultado de um encontro contido de duas medidas criativas diferentes que podem ser sintetizadas em um trabalho comum.
Seus trabalhos alcançam e representam um estágio no qual o masculino e o feminino coexistem - não de maneira didática, mas por meio de complexidades lingüísticas que evocam a força do mito de uma forma absolutamente necessária. Nesse caso o mito não é regressivo, não se trata de uma volta às origens, mas da fecundidade de uma arte capaz de fazer emergir a força erótica de duas energias criativas, que une a seleção de materiais à geometria das formas. O trabalho de Ben Jakober e Yannick Vu torna-se a referência da memória futura na qual o público será capaz de encontrar evidências de uma redenção cotidiana localizada na fecundidade produtiva da arte.
Nesse caso não estamos nos defrontando com um casal de artistas, mas com um sujeito plural capaz de superar o individualismo narcisista e alcançar um nível de integração criativa.
Deparamo-nos com trabalhos que utilizam materiais simples ao lado de outros resultantes de alta tecnologia, todos ligados pela força de uma intencionalidade criativa que não tende à realização de objetos, mas à criação de mecanismos conceituais nos quais o homem pode novamente viajar para retomar a integridade do mito e trazê-lo ao seu momento atual.
Sua colaboração representa um hino à vida e à morte: a certeza da continuidade para além da inexorável barreira do tempo, o que é garantido por trabalhos nos quais a integração entre o masculino e o feminino é alcançada e cuja comprovação é a forma.
Ben e Yannick nos oferecem objetos de uma possível pirâmide em cujo espaço reafirmam o fértil conflito das diferenças desenvolvido durante sua convivência e finalmente solucionado através da forma.
A arte torna-se uma espécie de míssil que transporta os mitos gregos para a atualidade, projetando-os no futuro por meio de seu trabalho.
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| Ben Jakober nasceu em Viena em 1930. É cidadão inglês. Vive e trabalha em Majorca e em Paris. Recebeu o Prêmio Especial Pilar Juncosa e Sotheby em 1993 concedido pela Fundació Pilar i Joan Miró em Mallorca. Yannick Vu nasceu em Montfort l'Amaury em 1942. É cidadã inglêsa. Vive e trabalha em Mallorca e em Paris.
Exposições individuais
1996 Instituto Italiano di Cultura, Paris, França. 1995 Galerie Montenay, Paris, França. 1994 Instituto Italiano di Cultura, Madrid, Espanha; Centre Cultural Contemporani Pelaires, Palma de Mallorca, Espanha. 1993 Arnolfini, Bristol, Inglaterra; Museum Moderner Kunst Stiftung Ludwig Palais, Liechtenstein; Il Cavallo di Leonardo, XLV Venice Biennale, Itália. 1991 Centro Cultural de la Misericordia, Palma de Mallorca, Espanha; Torreónfortea, Saragossa, Espanha. 1990 Galerie Montenav, Paris, França. 1987 Galerie Eric Franck, Genebra, Suíça. 1986 Kultur Kontor (Schön Unendlich), Hamburgo, Alemanha; Capella de la Misericordia, Consell Insular, Palma de Mallorca, Espanha. 1984 Galerie Littmann, Basiléia, Suíça.
Exposições coletivas
1996 ARCO Madrid, Galería Pelaires, Espanha. 1995 Risarcimento, Salle delle Reali Poste, Gli Uffizi, Florença, Itália; Frankfurt Art Fair, Centre Cultural Contemporani Pelaires, Palma, Espanha; El Arte de Sujetar, Fundación Cultural COAM, Madri, Espanha; Nutrimenti dell'arte, Fondazione Orestiadi, Gibellina, Itália. 1994 Ses Voltes, Palma de Mallorca, Espanha; Ex-libris Walter Benjamin, Galería Horizon, Cólera, Gerona; Tributo a Masaccio, La Salerniana, Erice, Itália. 1993 Paolo Uccello Battaglie nell'arte del XX secolo nei loughi romani di Santa Maria del Popolo, Sala Bramante, Roma, Itália; MEDIALE, Hamburgo, Alemanha; 6 Biennale d'Arte Contemporanea, Comune di Marostica, Vicenza, Itália; Torre dels Engagistes, Manacor, Espanha. 1992 EXPO 92, Balearic Pavillion, Sevilha, Espanha; IMF Center, Washington, Estados Unidos; EXPO 92 Spanish Section, Sevilha, Espanha; Paolo Uccello Battaglie nell'arte del XX secolo, Erice, Itália; Paesaggio con Rovine, Museo Civico di Gibellina, Sicília, Itália. 1991 Padiglione d'Arte Contemporanea, Ferrara, Itália; FAE Musée d'Art Contemporain, Pully/Lausanne, Suíça; Musée des Jacobins, Morlaix, França; Musée de la Poste, Paris, França; XV Biennale Internazionale del Bronzetto, Pádua, Itália. 1988 Halle Sud, Genebra, Suíça; Fondation Van Gogh, Arles, França; Minos Art Symposium, Grécia; Olympiad of Art, Seul, Coréia do Sul. 1986 Salon de Montrouge, Paris, França; XLII Venice Biennale, Itália. 1985 Louisiana Museum, Humlebaek, Dinamarca; Städtlische Kunsthalle, Mannheim, Alemanha; Museum Moderner Kunst, Viena, Áustria. 1984 L'Art et le Temps, Palais des Beaux Arts, Bruxelas, Bélgica. 1982 Fundación March, Palma de Mallorca, Espanha; Les Visionnaires, Museum Belfort, França.
Coleções
Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madri, Espanha. Musée d'Art Moderne, Bruxelas, Bélgica. Museum Moderner Kunst, Palácio Liechtenstein, Viena, Áustria. Musée d'Art Autrichien du XIX et XX Siècle, Viena, Áustria. Kunsthalle Bremen, Alemanha. Kunsthalle Hamburg, Alemanha. Museum Beelden aan Zee, Scheveningen, Holanda. FAE Musée d'Art Contemporain, Pully/Lausanne, Suíça. Fattoria di Celle, Pistoia, Itália. Fondation Vincent Van Gogh, Arles, França. Centro Cultural de la Misericordia, Palma de Mallorca, Espanha. Centre de Cultura Sa Nostra, Palma de Mallorca, Espanha. Seoul Olympic Park, Seul, Coréia do Sul. Fundació Pilar i Joan Miró a Mallorca, Espanha. Gabineto Disegni e Stampe degli Uffizi, Florença, Itália.
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