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Arboleda
1996. Óleo s/ tela, 130X182 cm





Horizonte
1962. Técnica mista s/ tela, 100X200 cm



 


 


Carlos Cañas

Por Ricardo Lindo, Madeleine Imberton e Janine Janowski


Honra a quem Merece

Entre as várias gerações de artistas e pintores existentes, e mesmo entre os melhores artistas de hoje de El Salvador, destaca-se uma figura indiscutível, controvertida e de grande relevância em nosso país, embora nem sempre reconhecido. Um artista cuja trajetória começou aos 22 anos de idade e que este mês completa 72. É um profissional que se manifesta de forma completa e contínua com uma obra pessoal, e em sua atividade didática - à qual vem se dedicando sem interrupção há muitas décadas - formou gerações e gerações de jovens salvadorenhos de todas as classes sociais. Estamos falando de Carlos Cañas.

Nós, os três curadores decidimos por unanimidade prestar homenagem a Don Carlos com esta retrospectiva de meio século neste evento de suma importância que acontece este ano em São Paulo. Por ocasião de seu retorno da 23ª Bienal Internacional de São Paulo, Don Carlos receberá outra homenagem em El Salvador.

O pintor Carlos Cañas, como muitos outros de sua geração na América Latina, depois de ter estudado na Escuela Nacional de Artes Gráficas, obteve uma bolsa para estudar na Europa, especificamente na Espanha e na França. O acervo cultural europeu formado tanto pela tradição monolítica dos museus, como pelas vertentes de vanguarda e que naquela época estava em seu apogeu (estamos nos referindo ao período entre 1947 e 1957, época em que Carlos Cañas esteve na Europa), ofereceu ao artista a base de sua intensa e inesgotável procura plástica que o caracterizaria nos anos posteriores. Carlos Cañas retomará o desafio das vanguardas européias e fará um esforço titânico para interpretar seus significados, dentro de seu próprio contexto e do "nosso". Por meio dos aspectos histórico-culturais que incidem em sua pintura, em função de sua reflexão e de sua capacidade de síntese pictórica, Carlos Cañas mostrará aos surpresos habitantes de seu país a face híbrida da mestiçagem cultural em um espelho que reúne todas as cores. Pela primeira vez, Carlos Cañas trará à luz os rostos múltiplos e simultâneos deste país e de seus habitantes.

A partir de 1959, Carlos Cañas deu início a uma série monumental semi-abstrata que se estendeu até 1969. A seguir, em uma autocrítica ideológica e política em que questiona a validade da abstração na América Latina, começou a dramática série expressionista Los Hospitales, para depois passar ao que será denominado de 'realismo mágico', fenômeno cultural que invade a consciência latino-americana em todas as suas manifestações. Carlos Cañas, mesmo quando enfrenta a realidade trágica do ser latino-americano (especificamente do salvadorenho), apresenta obras cuja estética transforma e transporta os símbolos ao plano da linguagem das cores e das formas com uma intenção clara de transcendência estética. Isso conduz à realização de obras com uma preocupação perfeccionista e, ao mesmo tempo, exigente e atrevida, que proporciona ao espectador que as contempla uma sensação de felicidade.

Acreditamos que Carlos Cañas criou imagens de um impacto estético permanente no cenário das artes plásticas salvadorenhas e isso se deve a outra faceta de seu grande talento: Carlos Cañas é um mestre. Don Carlos, da mesma forma que desenvolveu sua maravilhosa linguagem artística, não deixou de passar às novas gerações suas inquietações e ensinamentos. Esta atitude é extremamente importante em um país onde o ensino das artes é um fenômeno que depende da bondade divina e que merece pouca atenção por parte das instituições estatais. No entanto, mestres como Don Carlos têm sido a base para a formação de gerações de estudantes e podemos testemunhar sua dedicação em cada jornada de trabalho em quase 40 anos para proporcionar um ensino que trouxe à tona a consciência juvenil de todas as classes sociais com um altruísmo proveniente das suas crenças humanistas. Em nossa consciência de espectadores é importante que a pessoa - o artista - se esforce para implementar o desenvolvimento intelectual de nosso país, cuidando dos talentos que estão surgindo.

Queremos destacar também que um homem, um artista quase sem apoio, conseguiu desenvolver uma forma de consciência que abriu para outras pessoas as portas para caminhos de consciência até então desconhecidos, em uma ação vital, constantemente definida e específica. Se a palavra tiver ainda algum significado, isso pode ser chamado de autenticidade. Acreditamos que Carlos Cañas é, como pessoa e homem, alguém totalmente coerente em seu trabalho artístico; em outras palavras, o artista é o próprio homem. Nestas últimas décadas, é reconfortante encontrar um artista que coincide com o homem; isto é, um artista responsável.

Antes de terminar, queremos destacar como, apesar do relativo isolamento cultural do nosso país nas últimas décadas (por exemplo, é a primeira vez que El Salvador tem o status de país na Bienal Internacional de São Paulo), um artista como Carlos Cañas merece se encontrar com as principais figuras deste encontro global que é a Bienal Internacional de São Paulo. Na verdade, seu percurso, paralelamente a outros na América Latina, mostra-nos que o empenho de indagação de um artista pode ser tão forte que consegue vencer os obstáculos que lhe impõe a própria sociedade; há também o fato de este artista, enfrentando críticas de muitos, tenha conseguido conservar sua integridade como artista e como homem.



Cronologia


Nasceu em San Salvador, El Salvador, em 3 de setembro de 1924. Estudou na Escuela Nacional de Artes Gráficas. Em 1950 recebeu uma bolsa de estudos e viajou para a Europa. Em 1958 voltou a El Salvador e passou a lecionar na Escola de Arquitetura de El Salvador. Vive e trabalha em San Salvador.


Exposições individuais

1995
Casa Mati, San Salvador, El Salvador.
1993
Galería Espacio San Salvador, El Salvador.
1991
Galería el Atico, San Salvador, El Salvador.
1989
Galería Laberinto, San Salvador, El Salvador.
1988
Galería Laberinto, San Salvador, El Salvador.
1987
Galería Laberinto, San Salvador, El Salvador.
1986
Exposición Antológica de Mi Obra Dibujísitca 1944-1986, Galería el Ativo, San Salvador, El Salvador.
1985
Exposición Antológica de Mi Obra Abstracta, Galería Laberinto, San Salvador, El Salvador; Expresión Plástica de Centro América y Panamá, Galería el Habitante, Cidade do Panamá.
1984
Retrospectiva 1938-1984, Museo Forma, San Salvador, El Salvador; Galería Laberinto, San Salvador, El Salvador.
1983
Galería Laberinto, San Salvador, El Salvador.
1982
Galería Laberinto, San Salvador, El Salvador.
1981
Galería 1-2-3, San Salvador, El Salvador; Galería Teorema, Cidade do México, México.
1980
Galería Eurralas, San Salvador, El Salvador.
1979
Galería Laberinto, San Salvador, El Salvador; Sutton Gallery, Nova York, Estados Unidos.
1978
Galeria Laberinto, San Salvador, El Salvador.
1977
Galería Altamar, San Salvador, El Salvador; Galería Mitkai, Abidjan, Costa do Marfim.
1976
Galería 1-2-3, San Salvador, El Salvador; Galería Incontro D'Arte, Roma, Itália.
1975
Galería 1-2-3, San Salvador, El Salvador.
1974
Galería Pasos, San Salvador, El Salvador.
1973
Galería El O'Bjet, San Salvador, El Salvador.
1972
Galería El O'Bjet, San Salvador, El Salvador.
1971
Galería El O'Bjet, San Salvador, El Salvador.
1970
Galeria Forma, San Salvador, El Salvador.
1969
Casa del Arte, San Salvador, El Salvador; Galería Dideco, San Salvador, El Salvador.
1965
Pan American Union, Washington, DC, Estados Unidos.
1964
Sala Praxis, Manágua, Nicarágua.
1963
Sala de Bellas Artes, San Salvador, El Salvador.
1962
Galería Forma, San Salvador, El Salvador.
1961
Galería Forma, San Salvador, El Salvador.
1960
Junta de Turismo, San Salvador, El Salvador.
1959
Sala de Bellas Artes, San Salvador, El Salvador.
1958
Universidad Nacional, Escuela de Arquitectura, San Salvador, El Salvador.
1957
Galería Coch, Hannover, Alemanha.
1956
Galería Diag, Frankfurt.
1955
Galería Sur, Santander, Espanha.
1954
Galería Abril, Madri, Espanha.
1953
Galería Buchholz, Madri, Espanha.
1952
Galería Buchholz, Madri, Espanha.
1951
Galería Abril, Madri, Espanha.
1950
Galería Buchholz, Madri, Espanha; Sala Proel, Santander, Espanha.
1949
Casa de la Cultura, San Salvador, El Salvador.
1948
Junta de Turismo, San Salvador, El Salvador.
1947
Casino Juvenil, San Salvador, El Salvador.
1946
Escuela Nacional de Artes Gráficas, San Salvador, El Salvador.
1945
Escuela Nacional de Artes Gráficas, San Salvador, El Salvador.


Exposições coletivas

1994
Galería Espacio, San Salvador, El Salvador.
1992
Galería Espacio, San Salvador, El Salvador.
1990
Galería el Atico, San Salvador, El Salvador.
1987
Bienal de Cuenca, Equador.
1981
Bienal de Medellín, Colômbia.
1980
De Armas Gallery, Miami, Estados Unidos.
1979
Casa de las Américas, Havana, Cuba.
1978
Galería Laberinto, San Salvador, El Salvador; Galería Forma, Coral Gable, Flórida, Estados Unidos.
1977
Homenaje a la Pintura Lationamericana, San Salvador, El Salvador; Arte Actual de Iberoamérica, Madri, Espanha; Certamen de Grabado, Museo de Arte Costarricense, San José, Costa Rica.
1976
Tercer Bienal Americana de Artes Gráficas, Cali, Colômbia.
1969
X Bienal Internacional de São Paulo, São Paulo, Brasil.
1968
Galería El Ahuacate, San Salvador, El Salvador.
1967
Rubén Darío, Manágua, Nicarágua.
1966
El Arte de América y España, Madri, Espanha.
1965
Exposición Esso, San Salvador, El Salvador.
1964
IV Bienal del Grabado, Tóquio, Japão.
1963
I Bienal de Grabado, Chile.
1962
Pintura Salvadoreña en Austria, Áustria.
1960
Segunda Bienal, México.
1959
Pintura Joven, Paris, França.
1958
I Bienal do México.
1957
8ª Exposición de América Latina, Deauville, França.
1956
7 Pintores Guadalupanos, Madri, Espanha.
1954
Colegios Mayores, Madri, Espanha.
1953
Bienal de Córdoba, Espanha.
1952
Salón Alcor, Madri, Espanha.
1951
I Bienal Hispanoamericana, Madri, Espanha.
1950
Primer Salón de Artistas Iberoamericanos, Madri, Espanha.
1949
Washington DC, Estados Unidos.
1948
Guatemala.


Prêmios

1992
Condecoração José Matías Delgado, governo de El Salvador.
1990
Caballero de las Artes y las Letras, condecoração do governo francês.
1988
Reconhecimento, Assembléia Legislativa da República San Salvador, El Salvador.
1968
Certamen Nacional de Cultura, menção honrosa, San Salvador, El Salvador.
1965
Premio Esso, San Salvador, El Salvador.
1963
Premio Nacional de Cultura, San Salvador, El Salvador.
1948
Premio Artes Gráficas, San Salvador, El Salvador.
1947
Premio Artes Gráficas, San Salvador, El Salvador.