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A House for the Jungle (detalhe)
1996. Instalação. Técnica mista





A House for the Jungle (detalhe)
1996. Instalação. Técnica mista, 320X390X270 cm



 


 


Heleen Cornet

Por Rik Lina


Kykdoos: uma casa para a selva

Uma casa para a selva: isso não é uma contradição? A casa como símbolo de segurança; pode alguém se sentir em casa na selva?

A casa como o lugar para se retornar, para ser o que se é, para estar no interior de si mesmo, um lugar para o repouso, para sonhar, para sonhar inclusive com a selva... Mas a floresta sempre foi um símbolo do selvagem, do desconhecido, a última fronteira. É um dos últimos lugares inexplorados do planeta, onde a natureza ainda está intacta e não foi modificada pelo homem, pela sociedade, pela arte... Estas são as florestas de esmeraldas da aurora da civilização. A floresta provoca ainda a nostalgia de um estado puro, quando o homem paradisíaco ainda se encontrava em equilíbrio com o meio ambiente.

Ela é, ainda, o espaço poético original em que nosso estado contemplativo tem a chance de projetar seus sonhos para além das possibilidades óbvias dos limites da realidade cotidiana. E não será toda arte, em última análise, um lugar especial onde reina a poesia, onde o amor pela beleza e pela liberdade flui em seu curso natural?

Este é o lugar onde Heleen Cornet projeta suas contemplações, construindo sua casa, seu próprio panorama interior da selva.

A imagem fala por si mesma: deve-se adentrar nesta 'casa do selvagem' como um topógrafo da existência interior. Esta instalação é um convite privativo: entra-se sozinho. Esta obra de arte não permite por si mesma ser designada por características estilísticas ou materiais: sua extrema subjetividade nos guia até um ponto além do estritamente pessoal, dos limites individuais do ponto de vista artístico, criando um sentido mais abrangente.

Aquilo que Cornet está buscando é um processo saudável, a restauração de um equilíbrio perturbado - os danos causados ao frágil meio ambiente da selva pela industrialização rápida e pobremente planejada - , colocando ênfase na fragilidade da beleza em si, a beleza que corre o risco de se perder para sempre, a beleza da pintura.

Entretanto, isso é somente uma obra de arte, não é uma lição nem uma crítica, uma objetivação pelos meios de simulação disponíveis através da moderna informática. É arte pura, incluindo o espectador dentro do processo, literalmente. Cada um sentirá isso: a atmosfera especial da selva montanhosa, encoberta pelas nuvens, capturada em sua pequena ilha caribenha de Saba, onde ela vive e trabalha. Seu método é universal, é honesto e de uma vulnerável simplicidade. Mas essa é também sua força. Arte e natureza, ambas são frágeis e temporais, mas a experiência humana é eterna.

Isso oferece à pintura uma nova espécie de realismo. A realidade da natureza é evidente em si, mas fica oculta, intocável, e ainda continua presente, permanentemente no fluxo com outros aspectos da experiência perceptiva, surgindo finalmente à visão como um aspecto da experiência total e, desse modo, como uma espécie de teatro. E será que toda boa obra de arte não tem um lado teatral?

Mas o que é essencial aqui não é o teatral ou mesmo o que é pintura, o que conta é a 'carga existencial' da instalação, o aspecto emocional e ambiental da obra. A experiência estética - as cores radiantes, as formas vegetais características, o confronto entre sons e luzes em movimento - oferece aos espectadores não somente um sentimento especial da floresta tropical, mas também algo deles mesmos, o selvagem profundo em cada um.

Nesse tipo de pintura, a tela torna-se um registrador de invenção, refletindo o ambiente mais do que simplesmente retratando-o, a obra de arte como uma criação permanente. A experiência do criador e a experiência da natureza tal como o espectador a sente, tornando-se um e a mesma coisa. Como Heleen Cornet, ele está parado no centro, na 'eterna brecha', entre aquilo que se vê e aquilo que se sente, parado como um verdadeiro artista moderno, uma espécie de xamã atual.

Amsterdã, 21 de maio de 1996



Cronologia


Nasceu em 22 de julho de 1945, na Holanda. Graduou-se na Academy of Fine Arts and Crafts de Amersfoort. Atualmente, vive e trabalha em Saba, pequena ilha localizada nas Antilhas Holandesas.


Exposições individuais e coletivas

1996
Saban art show, Gallery 86, Curacao; Netherlands Antillean Art, Royal Netherlands Embassy, Caracas, Venezuela; Netherlands Antillean Art, ING Bank, Caracas, Venezuela.
1994
2nd Biennial, Santo Domingo, República Dominicana; Carib Art, exposição itinerante da Unesco.
1993
Museo de las Americas, 100 years Caribbean Art, Washington DC, Estados Unidos.
1992/96
Breadfruit Gallery, mostra coletiva permanente, Saba, Antilhas Holandesas.
1992
Ist Biennial, Santo Domingo, República Dominicana.
1989/96
Heleen's Art Gallery, mostra permanente, Saba, Antilhas Holandesas.