| Por Rik Lina
Kykdoos: uma casa para a selva
Uma casa para a selva: isso não é uma contradição? A casa como símbolo de segurança; pode alguém se sentir em casa na selva?
A casa como o lugar para se retornar, para ser o que se é, para estar no interior de si mesmo, um lugar para o repouso, para sonhar, para sonhar inclusive com a selva... Mas a floresta sempre foi um símbolo do selvagem, do desconhecido, a última fronteira. É um dos últimos lugares inexplorados do planeta, onde a natureza ainda está intacta e não foi modificada pelo homem, pela sociedade, pela arte... Estas são as florestas de esmeraldas da aurora da civilização. A floresta provoca ainda a nostalgia de um estado puro, quando o homem paradisíaco ainda se encontrava em equilíbrio com o meio ambiente.
Ela é, ainda, o espaço poético original em que nosso estado contemplativo tem a chance de projetar seus sonhos para além das possibilidades óbvias dos limites da realidade cotidiana. E não será toda arte, em última análise, um lugar especial onde reina a poesia, onde o amor pela beleza e pela liberdade flui em seu curso natural?
Este é o lugar onde Heleen Cornet projeta suas contemplações, construindo sua casa, seu próprio panorama interior da selva.
A imagem fala por si mesma: deve-se adentrar nesta 'casa do selvagem' como um topógrafo da existência interior. Esta instalação é um convite privativo: entra-se sozinho. Esta obra de arte não permite por si mesma ser designada por características estilísticas ou materiais: sua extrema subjetividade nos guia até um ponto além do estritamente pessoal, dos limites individuais do ponto de vista artístico, criando um sentido mais abrangente.
Aquilo que Cornet está buscando é um processo saudável, a restauração de um equilíbrio perturbado - os danos causados ao frágil meio ambiente da selva pela industrialização rápida e pobremente planejada - , colocando ênfase na fragilidade da beleza em si, a beleza que corre o risco de se perder para sempre, a beleza da pintura.
Entretanto, isso é somente uma obra de arte, não é uma lição nem uma crítica, uma objetivação pelos meios de simulação disponíveis através da moderna informática. É arte pura, incluindo o espectador dentro do processo, literalmente. Cada um sentirá isso: a atmosfera especial da selva montanhosa, encoberta pelas nuvens, capturada em sua pequena ilha caribenha de Saba, onde ela vive e trabalha. Seu método é universal, é honesto e de uma vulnerável simplicidade. Mas essa é também sua força. Arte e natureza, ambas são frágeis e temporais, mas a experiência humana é eterna.
Isso oferece à pintura uma nova espécie de realismo. A realidade da natureza é evidente em si, mas fica oculta, intocável, e ainda continua presente, permanentemente no fluxo com outros aspectos da experiência perceptiva, surgindo finalmente à visão como um aspecto da experiência total e, desse modo, como uma espécie de teatro. E será que toda boa obra de arte não tem um lado teatral?
Mas o que é essencial aqui não é o teatral ou mesmo o que é pintura, o que conta é a 'carga existencial' da instalação, o aspecto emocional e ambiental da obra. A experiência estética - as cores radiantes, as formas vegetais características, o confronto entre sons e luzes em movimento - oferece aos espectadores não somente um sentimento especial da floresta tropical, mas também algo deles mesmos, o selvagem profundo em cada um.
Nesse tipo de pintura, a tela torna-se um registrador de invenção, refletindo o ambiente mais do que simplesmente retratando-o, a obra de arte como uma criação permanente. A experiência do criador e a experiência da natureza tal como o espectador a sente, tornando-se um e a mesma coisa. Como Heleen Cornet, ele está parado no centro, na 'eterna brecha', entre aquilo que se vê e aquilo que se sente, parado como um verdadeiro artista moderno, uma espécie de xamã atual.
Amsterdã, 21 de maio de 1996
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| Nasceu em 22 de julho de 1945, na Holanda. Graduou-se na Academy of Fine Arts and Crafts de Amersfoort. Atualmente, vive e trabalha em Saba, pequena ilha localizada nas Antilhas Holandesas.
Exposições individuais e coletivas
1996 Saban art show, Gallery 86, Curacao; Netherlands Antillean Art, Royal Netherlands Embassy, Caracas, Venezuela; Netherlands Antillean Art, ING Bank, Caracas, Venezuela. 1994 2nd Biennial, Santo Domingo, República Dominicana; Carib Art, exposição itinerante da Unesco. 1993 Museo de las Americas, 100 years Caribbean Art, Washington DC, Estados Unidos. 1992/96 Breadfruit Gallery, mostra coletiva permanente, Saba, Antilhas Holandesas. 1992 Ist Biennial, Santo Domingo, República Dominicana. 1989/96 Heleen's Art Gallery, mostra permanente, Saba, Antilhas Holandesas.
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