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Opus Petra
1993. Vídeo-instalação. Luum Gallery, Tann, Estônia. Foto: T. Kolv





Opus Petra
1993. Vídeo-instalação. Luum Gallery, Tann, Estônia. Foto: T. Kolv




 


 


Ando Keskkôla

A desmaterialização da arte é um desafio. Para buscar respostas nesse sentido, devemos primeiro questionar se consideramos, ou não, a obra de arte algo relativamente permanente, e que ainda continua dentro dos limites de uma instituição historicamente estabelecida (e que, portanto, não deve durar eternamente) em sua forma atual, ou se permitimos a possibilidade da desmaterialização da instituição propriamente dita. Ou ainda se abrimos espaço para a possibilidade da gênese de um novo espaço espiritual.

A arte, como instituição, chegou a um estágio de oposição interna intransponível. Por um lado, temos sua premissa de ser uma experiência individual, privada e transcendental devido à profundidade da sua essência. Por outro, temos a padronização do depositário dessa experiência - a imagem - dentro de uma 'micro-unidade cultural' infinitamente combinável e reproduzível, que a determinação técnica da mídia situa em um código integral juntamente com toda a teologia intermediária que inclui desde a publicidade até a política. A rebeldia em sua forma iconoclasta, a procura constante de antíteses e a desconstrução da imagem, na forma de instalações, não foram bem-sucedidas em desvendar uma nova perspectiva porque ela continua sujeita a teses como a vítima e o executor (ou vice-versa). Além disso, a obra de arte é novamente convertida em imagem para ser reproduzida pela mídia, transformando-se em uma reprodução da reprodução. Sendo assim, há uma ausência completa de qualquer tipo de perspectiva que nos leve para além dos limites da estética padronizada.

Para encontrar um artista da Estônia cujo trabalho pudesse, ao menos, apresentar questões sobre esse tema - mesmo sem apresentar respostas -, foi formado um comitê que fez propostas a dois artistas, sempre tendo essa questão em mente. Depois de comparar os projetos propostos por ambos, decidiu-se optar pelo projeto de Ando Keskküla, uma vez que era o mais problemático e desafiador, e também o mais ousado. Além disso, o interesse pelos relacionamentos formais entre realidade e ilusão e entre realidade e hiper-realidade, os relacionamentos básicos do simulacro, estão presentes em toda a extensão do trabalho criativo de Ando Keskküla, que começou a participar de exposições em 1968, quando ainda estudava na Universidade de Arte de Tallinn.

Quase no final da década de 60, Ando Keskküla tentou diversas vezes encontrar suas respostas no âmbito da arte pop, lutando por trazer a realidade do ambiente socialista daquela época para o mundo das imagens pop. O SOUP'69, um grupo informal do qual Ando Keskküla participou, tentou definir a arte pop soviética daquele momento, que só veio a se tornar conhecida no Ocidente na década de 80 durante a glasnost.

Ando Keskküla trouxe o hiper-realismo para a arte estoniana em meados da década de 70. Depois de algum tempo, tornou-se um dos fenômenos artísticos mais instigantes de toda a ex-União Soviética. As primeiras experiências de Ando Keskküla no cinema e na animação datam do mesmo período.

O interesse pela desconstrução da realidade/hiper-realidade surgiu na década de 80. Ando Keskküla combinou diferentes métodos de retratos, citações, objetos e texturas, criando diversos planos semânticos. Evidentemente, o clima espiritual da década de 80 e a comercialização cada vez maior da arte não formavam um ambiente adequado para o artista, e suas atividades nesse sentido tiveram oportunidade de se desenvolver. Ele retomou suas experiências cinematográficas durante a década de 90 e criou uma série de video-instalações denominadas Opus Petra. Com esses trabalhos, Ando Keskküla entra em controvérsia - intencionalmente - com o neo-conceitualismo, rejeitando sua literariedade única em termos dimensionais, preferindo a ambivalência da experiência metafísica. Em meados da década de 90, uma nova dimensão é acrescentada às suas instalações: a interatividade. A instalação interativa Always (1995) é uma das primeiras realizadas na Estônia que podem ser definidas como arte interativa. Com este trabalho, ele retorna a suas primeiras experiências com a arte pop e tenta desconstruir a publicidade comercial - essa narrativa externa e unidirecional que cria mitologias completamente independentes de nós mesmos. Ele transforma o espectador em participante e também o torna responsável ao interligar o movimento da imagem no comercial do tampão Always ao movimento do espectador no espaço. O artista desconstrói o comercial como uma lenda impessoal, trazendo o espectador da imagem para um espaço pessoal e fazendo com que esse relacionamento com a imagem seja íntimo. O espectador descobre a natureza não-padronizada da imagem e seus textos aleatórios à medida que se movimenta no espaço. Sua descoberta, no entanto, depende de suas inferências inconscientes, que, na verdade, fazem com que o espectador se comporte de uma forma ou de outra no espaço. O espectador acaba adquirindo uma nova forma de dependência em relação à sua lenda pessoal, criada pelo código que lhe foi proporcionado pelo artista. O resultado é um fluxo interminável de reflexões internas. Fica claro que a nova experiência não pode ser definida pelas categorias formais e estéticas atuais. (Por falar nisso, a maciça campanha publicitária sobre tampões e comida para cachorros tornou-se uma das características narrativas da rápida comercialização dos Estados pós-socialistas.)

Uma das convenções mais básicas e estáveis da civilização é a representação bidimensional de um espaço tridimensional e a capacidade de percebê-lo em sua tridimensionalidade. Os povos primitivos não estão familiarizados com esta convenção. (Por exemplo, muitas tribos caçadoras finlandesas que têm ligações étnicas com os estonianos utilizam modelos espaciais muito mais complicados, como por exemplo sistemas coordenados que não se limitam unicamente às três dimensões.) É uma convenção que funciona como um fator de unificação perfeito nas sociedades industriais e pós-industriais. Não funciona necessariamente com 'comunicação estática' total no ambiente hiper-real, que requer um modelo espacial novo e uma nova convenção. Tudo isso, por sua vez, pode ser surpreendentemente similar aos modelos espaciais das sociedades tribais.

Sem dúvida, Ando Keskküla trabalha no limite entre essas duas convenções, tentando escapar da convenção visual vigente pela interação e por diversas combinações sensoriais.



Cronologia


Nasceu em Saaremaa, Estônia, em 24 de março de 1950. Reside atualmente em Tallinn, Estônia. De 1968 a 1973, estudou design na Tallinn Art University. Em 1994, começou seus estudos no Interdisciplinary Expertise Centre for Computer Graphics, Animation and Multimedia, em Groningen, Holanda. De 1993 a 1995, ocupou os cargos de professor e diretor do Multimedia Center da Tallinn Art University. Foi nomeado, em 1995, reitor da Tallin Art University e entre suas atividades destacam-se exposições sobre design, curadoria, produção de filmes e animações.


Exposições individuais

1994
Bonnard's Apartment, Rüütli Gallery, Tartu, Estônia.
1993
Opus Petra, video-instalação, Luum Gallery, Tallinn, Estônia.
1992
Opus Petra, video-instalação, EXPO'92, Sevilha, Espanha.
1984
House of the Academy of Sciences, com Tiit Pääsuke, Novossibirsk, Rússia.
1984
Estonian Art Museum, Tallinn, Estônia.
1982
Junost Gallery, Moscou, Rússia.
1980
Gallery of the Tallinn Art Hall, Estônia.
1975
Gallery of the Tallinn Art Hall, Estônia.


Exposições coletivas

1995
Biotopia, 3rd Annual Exhibition of the Soros Center for Contemporary Arts, City Gallery, Tallinn, Estônia.
1993
Equilibrium, Baltic - Nordic Contemporary Art Exhibition, Latvija Exhibition Hall, Riga, Letônia.
1992
Myth and Abstraction, Actual Art from Estonia, Badischer Kunstverein, Karlsruhe, Alemanha.
1990
SOUP 69 - 90, Tallinn Art Hall, Tallinn, Estônia.
1986
Duisburg, Alemanha; Talliner Malerei der Gegenwart, Kieler Stadtmuseum, Warleberger Hof, Kiel, Alemanha.
1985
Begegnung. Kontakte, exposição conjunta da Alemanha e URSS, Vilna, Lituânia; Ando Keskküla, Tiit Pääsuke, Olev Subbi, Andres Tolts, Tallinn Art Hall, Estônia.
1981
Begegnung. Kontakte, exposição conjunta da Alemanha e URSS, Duisburg, Alemanha; 5th Vilnius Painting Triennial, Vilna, Lituânia.
1979
International Competition of Young Painters, Sófia, Bulgária; 1st Exhibiton of Young Painters of the Baltic States, Vilna, Lituânia.
1978
Peintres et graveurs contemporains d'Estonie Soviétique, La Louvière Salle Communale des Expositions, Bélgica.
1977
7 Biennale der Ostseeländer, Kunsthalle Rostock, Alemanha.
1969
SOUP '69, Pegasus Café, Tallinn, Estônia.
1968
POP '68, Tallinn, Estônia.


Coleções

Estonian Art Museum, Tallinn, Estônia;
Tartu Art Museum, Tartu, Estônia;
Tallinn Art Hall, Tallin Estônia;
Lünen Town Hall, Lünen, Alemanha.


Prêmios

1995
Special Award of the Annual Competition of the Estonian Interior Design'95, Tallinn, Estônia.
1990
Art Stipendium, Schleswig-Holstein, Alemanha.
1985
Best Painting of the Year, Tallinn, Estônia.
1983
Best Painting of the Year, Tallinn, Estônia.
1980
Art Stipendium, Duisburg, Alemanha.
1979
International Competition of Young Painters, 3º prêmio, Sófia, Bulgária.