| Por Maria Elvira Ardila
Espaços de Resistência
Poderíamos afirmar que José Alejandro Restrepo é o video-artista mais importante das artes plásticas colombianas. Foi um dos primeiros a explorar esse meio, devido ao seu interesse pessoal pelos múltiplos e complexos relacionamentos com a imagem, o tempo, o som, a música e a colocação do corpo.
Em seus trabalhos, o artista vem demonstrando grande intelectualidade e sensibilidade, juntamente com um rigor investigativo e uma aguda erudição. Em suas video-instalações coloca em cena elementos históricos, comprometendo-os dentro de um espaço, e tenta entender qual é a vigência dos mitos na história não-oficial colombiana, recontextualizando-os para inseri-los novamente em nosso meio.
Trabalhos como Anaconda (1993), Musa Paradisíaca (1994), Iconomia (1996) e Quiasma (1995), que será apresentado na Bienal Internacional de São Paulo, encarnam os mitos mais descarnados e até truculentos da nossa realidade.
Restrepo recria um mito amazônico: a Anaconda, denominada "Serpente Interminável" pelos índios hitotos. Nos desenhos da pele da Anaconda Mãe está escrita toda a sua história e são os xamãs os únicos que possuem o conhecimento para interpretá-los. Dessa forma, o artista tenta escrever a nossa história utilizando os meios tecnológicos: a serpente se dobra e desdobra nas telas dos monitores.
Musa Paradisíaca é uma obra que vem se desenvolvendo desde 1994. Curiosamente, o título desta obra corresponde ao nome científico do plátano hartón. Este trabalho pretende se aprofundar em três campos: uma arqueologia, que corresponde aos nomes originais botânicos das plantas nativas, uma iconografia, que se refere às imagens intimamente ligadas às visões ideológicas - neste caso há uma visão colonialista sobre a exuberância (natural e sexual) do Novo Mundo - e, por último, o artista quer colocar em evidência um conflito social colombiano que vem se repetindo durante toda a história deste século: os conflitos das bananeiras, desde os massacres na década de 20 até as recentes chacinas em Urabá, zona produtora de banana.
Os suportes não-convencionais respondem a essa necessidade de estados de consciência específicos, a instantes únicos que se registram em uma fita em que, aparentemente, não acontece nada; no entanto, seus vídeos têm uma grande intensidade e permitem diferentes leituras, não narrativas.
Restrepo olha para esse espaço político onde se encontram eventos sócio-políticos e econômicos, uma complexidade de relacionamentos, de elementos, que entram em choque e criam conflitos e que se unem em uma experiência artística. Dessas confrontações cotidianas surge Quiasma. Essa video-instalação estabelece uma analogia com o sistema visual, em que os nervos se cruzam antes de chegar aos hemisférios, reconstruindo a imagem. Mas Quiasma é também esse cruzamento semântico da legalidade com uma suposta ilegalidade; é o cruzamento ideológico e essa ambigüidade é o que desperta a curiosidade do espectador.
O artista ausculta essa ambigüidade em que se vivem situações paradoxais. Quiasma possui personagens suspeitos: um "jibaro" (vendedor de drogas) e um vigia. Esta obra cruza situações virtuais, nas quais aparentemente não há nenhum tipo de ação. Segundo o artista, "a Colômbia não é o único país mafioso", referindo-se também a todo o esquema capitalista, que ele considera um esquema viciado; ele acredita que o futuro da estrutura geopolítica mundial poderia resultar no que ele denomina política-ficção, isto é, o planeta nas mãos das máfias multinacionais de todos os tipos.
Quiasma remete a outros níveis; por exemplo: o antagonismo entre o obsessivo consumo de imagens e a destruição delas na sociedade de massas. Isso impede uma aproximação crítica a qualquer imagem transmitida pelos meios de comunicação. O artista refere-se à prisão de Pablo Escobar e ao fato de o filho dele ter declarado durante uma entrevista na televisão que "gostaria de aproveitar este meio de comunicação para pedir a Deus que seja Ele quem julgue meu pai". Sem dúvida, Deus assiste à tevê e obviamente não deixa de ver os noticiários colombianos.
Quiasma nos ajuda a intensificar a concentração, questiona e coloca em perigo todos os códigos sociais. É uma obra de caráter local que utiliza meios eletrônicos, quatro monitores com duas seqüências sem fim que reproduzem fisicamente as entidades desse acontecimento diário. Quiasma evidencia esse cruzamento na sua construção: nervos (fios) que ligam à dualidade em que vivemos.
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| Nasceu em 19 de junho de 1959 em Paris, França. Em 1981 iniciou estudos de Belas-Artes na Universidade Nacional de Bogotá. Entre 1982 a 1985, estudou na École de Beaux-Arts, em Paris.
Exposições individuais
1993 Foto-Video-Gráfica, GaleriaValenzuela & Klenner, Santafé de Bogotá, Colômbia; Anaconda, Aphone l'Usine, Genebra, Suíça. 1992 El paso del Quindio, Centro Colombo Americano, Santafé de Bogotá, Colômbia. 1989 Orestiana, Centro Colombo Americano, Santafé de Bogotá, Colômbia.
Exposições coletivas
1996 XXXVI Salón Nacional de Artistas, Corferias, Santafé de Bogotá, Colômbia. 1995 Forest Revisited, Colombian Center, Nova York, Estados Unidos; VII Salón Regional de Artistas, Corferias, Zona 7, Santafé de Bogotá, Colômbia. 1994 V Bienal de la Habana, Centro Wilfredo Lam, Havana, Cuba; Ludwig Forum, Aachen, Alemanha; Green, Torch Gallery, Amsterdã, Holanda; Art 25'94, Basiléia, Suíça; XXXV Salón Nacional de Artistas, Corferias, Santafé de Bogotá, Colômbia. 1993 Video Latinoamericano, Aphone, Genebra, Suíça; Pulsione, Museo de Arte La Tertulia, Cali, Colômbia. 1992 Festival Latino de Video Arte, exposição itinerante, França; XXXIV Salón Nacional de Artistas, Corferias, Santafé de Bogotá, Colômbia; Photo Mechanic Art Colombian, Nova York, Estados Unidos.
Prêmios
1995 VII Salón Regional de Artistas, Corferias, Zona 7, Santafé de Bogotá, Colômbia.
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