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I Have a Dream 1988. Colagem de vidro, 220x300 cm. Coleção particular |
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Svend Wiig Hansen, pintor da condição humana | |
| Por Allis Helleland
"Estamos vivendo uma era de infelicidade - roubaram nossas fantasias, sonhos e crenças." (Wiig Hansen)
O homem e a condição humana existencial preocuparam o famoso artista dinamarquês Wiig Hansen durante toda a sua carreira. Sua vasta obra evidencia esse enfoque, qualquer que seja a linguagem escolhida: escultura, pintura ou artes gráficas. Seu trabalho se refere sempre ao ser humano, à crise do homem moderno e à sua batalha pela sobrevivência contra todos os infortúnios.
Wiig Hansen nasceu em 1922 e cresceu no período entre-guerras, ocasião em que o crescimento do fascismo na Europa, os massacres da Guerra Civil Espanhola e a ameaça de uma nova guerra mundial com o uso de armas que poderiam incapacitar a humanidade e destruir todo o globo pairavam sobre a Europa como uma sombra perversa. Enquanto isso, as filas dos desempregados e a fome continuavam a crescer.
Sentimentos de impotência e medo do futuro eram comuns, e não é nenhuma surpresa que especulações sobre o objetivo da vida - ou sua ausência -, sobre a dura batalha diária pela sobrevivência, sobre o declínio, desintegração e morte, sobre a alienação e isolamento do indivíduo, sobre a distância, o vazio e o silêncio preocupassem o jovem Hansen e contribuíssem para sua formação como artista. A destruição e os horrores da Segunda Guerra Mundial justificaram seus medos. E, a partir de então, Hansen enfocou esses temas em sua arte - o imutável, os mutilações, as mortes, o isolamento, os solitários, os que buscam algo, a espera, a batalha humana.
A intensidade da crença do pós-guerra na habilidade de reconstrução partindo das ruínas, a devolução da ordem ao caos para construir um mundo novo e melhor, nunca contaminou Wiig Hansen. Com independência, ele se manteve distante dos ensinamentos da Academia de Arte e criou uma grande figura clássica - Torso -, uma figura humana incompleta, sem membros nem cabeça. Em uma tentativa de se afastar da herança clássica e começar do zero, com elementos puros e não-contaminados, buscou inspiração na arte asteca e criou Mãe Terra, uma grande e pesada figura feminina em posição de parto - um símbolo da força da natureza. Seguindo o mesmo impulso, criou o grupo de esculturas Humanos na Praia, um monumento à pureza do homem que consiste de cinco figuras isoladas, passivas e à espera, como se fossem os primeiros seres humanos do mundo. |
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| A importante exposição fotográfica A Família do Homem, exibida em meados dos anos 50 em vários locais, exerceu profunda influência sobre Wiig Hansen. Eram 503 fotos de pessoas de países e culturas diferentes. O fator que o influenciou mais profundamente foi a apresentação e a revelação da condição humana.
Emergir das sombras dos anos de guerra, porém, foi difícil para ele. Em companhia de Jean-Paul Sartre e dos existencialistas, ele questionava a possibilidade de um mundo melhor e via a vida como uma situação absurda. Existe uma evidente associação entre o trabalho de Wiig Hansen e os de seu contemporâneo Samuel Beckett. A peça de Beckett "Esperando Godot", de 1953, refere-se pura e simplesmente à espera em um mundo vazio, mas também à vã esperança, sentimento que ninguém pode retirar do ser humano. Em um palco quase vazio, dois vagabundos esperam Godot, o pequeno deus, que nunca aparece. O tempo e o espaço ficam suspensos. O senhor e o escravo também estão representados na peça, mostrando o ser humano atormentado, correndo em seu ímpeto de continuar, porém sem senso de direção nem objetivo.
As pinturas de Wiig Hansen produzidas na segunda metade dos anos 50 - como Procurando, Esperando, Perdido, Refreado, Decadente e A Travessia Humana - expressam o mesmo universo que Beckett tentava revelar com palavras. Seres humanos se desintegrando, uma situação em que tudo o que é supérfluo foi retirado. Tratam-se de puras existências assexuadas, sem emoções, que se movem, isoladas em si mesmas, incapazes de se comunicar entre si ou com o mundo à sua volta e que são cercadas pelo vazio e pelo silêncio. O tempo e o espaço foram suspensos. As figuras estão localizadas em um mundo vazio onde existe uma premonição do abismo. Mas sua batalha instintiva pela sobrevivência os mantêm de pé e lhes dá uma vaga esperança de salvação.
Em 1957, o ano em que Beckett escreveu Fim de Jogo, em que o homem é representado como material decadente e em ruínas, Wiig Hansen viajou para a Grécia. Não foram tanto as ruínas da Antiguidade que o impressionaram, mas as ruínas humanas, os inválidos da guerra - havia muitos deles na Grécia. Ele viu muitos homens sem pernas e braços, torturados e mutilados, mas que ainda tinham forças para sobreviver e se arrastar, mancando, ou rastejar sobre seus braços, como fazem os animais. Em muitos desenhos e pinturas - como em O Mutilado e Figura de pé Figure - ele mostra seu fascínio pela força desses seres caídos. "Acredito que aqueles que vivem uma vida harmoniosa, sem oposições, não são, nem de longe, tão fortes quanto os alquebrados. A vontade de viver e de crescer é muito mais visível entre os alquebrados e mutilados." |
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| Apesar da consciência que Wiig Hansen tinha da capacidade de sobrevivência do homem, os lados obscuros da mente humana tornaram-se de fundamental importância para ele. Estava obcecado por representar as forças demoníacas localizadas nos subterrâneos da vida. Em pinturas como, por exemplo, Pessoas numa Paisagem Demoníaca, produzida para a Bienal de Veneza de 1964, o espaço cênico claramente construído cede lugar ao caos de formas e cores que se movem em círculos. Suas figuras humanas não estão mais de pé, mas se projetam sobre os quatro membros, como animais, circulando, dominados por forças animalescas e entregues a poderes superiores.
A dúvida e o medo dominam claramente a imagética de Wiig Hansen, assim como nos trabalhos de Goya. As pessoas que povoam seu universo são seres que sofrem e buscam, pessoas sem identidade, herança ou civilização, deslocadas do espaço e do tempo; são pessoas forçadas a conviver constantemente com o medo e a insegurança e a lutar como loucas para sobreviver em um mundo onde praticamente a única coisa que resta, e com a qual se pode contar, é a força inata do homem.
Wiig Hansen desviou sua atenção do medo da bomba atômica e de sua capacidade de destruição da humanidade nos anos 50 para o crescente medo de uma catástrofe ambiental global nos anos 70. Pinturas como O Sol Assassinado, que integra as séries que ele pintou para uma apresentação na Igreja Nikolai, em Copenhague, e Os Gemidos da Terra, quadro que pintou quando estava em frente às obras O Sol e Alma Mater, de Munch, no Hall Cívico do Munch Museum, representam universos estéreis surgidos depois da catástrofe, com figuras humanas nuas, deformadas e em sofrimento, seres assexuados, com pernas e braços incompletos, sentados ou dobrados sobre si mesmos à beira de um abismo sob um céu escuro e ameaçador, que não permite a entrada de nenhum raio de luz. Todas as figuras vivas estão morrendo. A figura que representa a Mãe Terra está exausta, e dá à luz somente criaturas que se assemelham a fetos, seres inviáveis e sem futuro. Em A Vítima do Medo, três desses humanóides deformados estão sentados em uma paisagem desolada ao redor de um túmulo aberto onde um quarto ser, que sucumbiu, está sendo recolhido pelo horrível monstro negro do medo. O vermelho, o cinza, o branco ou o negro são presságios de sangue, cadáveres e de um destino cruel. A esperança não existe. Essa é uma visualização do Apocalipse.
Ao mesmo tempo em que criava essas depressivas imagens pictóricas, Wiig Hansen trabalhava como escultor no âmbito de uma abordagem clássica, produzindo figuras femininas grandes, sentadas ou deitadas, nas quais enfocava novamente a pureza, a força primária do útero feminino, uma catedral que é a porta de entrada para a vida e a fertilidade. Em contraste agudo com Pórtico para o Inferno, de Rodin, onde a luz da vida é extinta lentamente e é seguida pelo inferno, Portal do Amor, de Wiig Hansen, na grande porta de entrada de bronze do Royal Theatre de Copenhague, apresenta seres humanos tão saturados de amor que são capazes de se mover livremente e sem esforço para cima, na direção da entrada, onde se tornam figuras alongadas e sem peso que flutuam no espaço em direção à salvação. A decoração do foyer do teatro feita pelo artista é denominada Jornada para o Paraíso; seu tema é a jornada de um homem em direção à salvação. As figuras humanas tornam-se cada vez mais transparentes e sem peso, liberando-se da matéria e adquirindo formas que se assemelham a nuvens - puro espírito - à medida que encontram a luz divina. |
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| Wiig Hansen opera, portanto, em uma zona de sombras entre a vida e a morte. É compelido a desafiar repetidas vezes a mente e a alma. Enfoca sempre a solidão irremediável do ser humano. Para ele fica claro que o homem nasce e vive dolorosamente só, apesar do casamento, dos filhos, dos amigos etc. O Homem - Este Animal Solitário é o título que o artista deu a uma de suas séries, que contém figuras grandes e fortes representadas em movimento, mas sempre sozinhas; elas não dançam, amam ou lutam entre si.
Apenas o indivíduo pode lutar contra os demônios internos e contra todas as condições existenciais externas. Essa convicção está expressa nos milhares de rostos cruamente representados por ele. Esses rostos muitas vezes parecem auto-retratos. O artista, nesses casos, está sempre sozinho, no escuro, entregue à sua própria sorte, aos seus medos e às suas dúvidas. Ele tentou incansavelmente conhecer seu próprio ser, abrir sua alma, e em incontáveis variações registrou suas alterações de humor, seus estados psicológicos, seu espírito de luta e resignação, devoção, amor e alegria, e é capaz de imprimir à esfera particular uma relevância universal.
Assim como Goya, seu antecessor, Wiig Hansen pinta rostos distorcidos e horrorizados, onde o medo e o desespero, a impotência e a perda, a premonição do desastre e a morte surgem com força para chamar a atenção sobre a nossa vaidade. É como se Wiig Hansen tivesse tomado para si todo o sofrimento da humanidade. Ele fala do medo opressivo, do espaço fechado que é a mente, que muitas vezes ameaça esmagá-lo física ou espiritualmente. Ele mesmo afirma esperar que a morte o alcance, atingir o patamar onde não há mais responsabilidade e o ser humano torna-se livre, onde não há paredes e onde se pode flutuar. Antes disso não há liberação possível. Ele se refere, porém, ao mesmo tempo, à resistência e à esperança, sentimentos que o sustentam nos momentos difíceis e que lhe dão capacidade para continuar.
Allis Helleland é diretor do Statens Museum of Modern Art |
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Depoimento do Artista, concedido a Henrik Sten Moller | |
| Sou a ferida aberta que é suscetível.Não tenho limites. O perigo está precisamente nessa duplicidade. É essa suscetibilidade que abre caminho para a inspiração.
Minha vida move-se em trilhas paralelas. Mas, pouco depois, estou em curso de colisão. Pois a selvageria e a respeitabilidade não podem encontrar-se.
Sou muitas pessoas diferentes. Não tenho defesa contra o universo de pessoas que entram em mim. Mas vivo com o sonho e a esperança de fazer tudo aquilo que me delicia. Como todo mundo, experimento a fragrância, a paixão erótica que tudo alcança.
Até a Criação. Estar presente à Criação. Estou em seu centro, com Deus e o Diabo à minha volta, com equilíbrio de poder.
Os amigos morrem. Está ficando tarde. Logo, talvez, a Morte também venha apertar a minha mão. É agora. Estou vivendo isso agora. Não devemos ter medo dessa honestidade. Devemos ter forças para confrontá-la diretamente. Estamos aqui agora e depois teremos ido embora. Seria bom se tivéssemos um tempo um pouco mais longo.
Mas estamos intensamente presentes e, mais tarde, de repente, não estamos mais. Muitas vezes me senti tão completamente perdido que a vida e a alegria se foram.
A angústia tem sido minha parceira. A angústia física chegou a destruir o mundo que me cercava. Há muito a vivenciar - mas a angústia não tem permitido que isso ocorra.
Existe essa angústia quando estamos no teatro, e tudo isso entra no nosso corpo e depois temos de ir embora. Ficamos com medo e vamos embora. Deveríamos ser sinceros e falar sobre isso.
Somos demasiadamente reservados. Tente não dizer nada. Está tudo bem, dizemos, quando na realidade está tudo muito mal e tomamos a maior distância possível.
Vejo tudo em forma de imagens. Já era assim quando era garoto. É por isso que me interessei tarde por garotas. Via sua presença figurativa constantemente. Minha infância foi plena de experiências inacreditáveis. Participei e ao mesmo tempo não tomei parte delas. No entanto, vi tudo. Estava envolvido, mas era como se estivesse olhando de fora. De novo essa estranha duplicidade. Ativo, mas também sempre registrando tudo. |
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| Talvez eu seja um tanto covarde. Não interfiro fisicamente, mas noto exatamente o que está acontecendo. E preservo essa experiência.
Cada pessoa é uma história. Todos carregamos um livro não-escrito em volta de nós. Podemos escrevê-lo. Todas as coisas são encontradas em tudo. Como pessoas, somos semelhantes uns aos outros. O maior drama passa por você sem que você o veja.
Como jovem, passei por tudo e esqueci tudo novamente. Que bom.
Você poderia dizer que tenho uma certa inteligência. Mas não sou um intelectual. Hoje você precisa saber tudo. Mas todas as novas criações surgem de erros anteriores. Não posso ter a postura que todos assumem. Preciso experimentar todas as outras possibilidades. Posso sonhar que estou longe, que desapareci, que ninguém sabe onde estou. Posso optar pelo caminho da paixão. Encontrar a paz e a quietude na direção daquilo que denominarei concentração.
Se uma pessoa é suficientemente privilegiada para vivenciar coisas, ela pode descobrir algo que está escondido. Pense em tudo que é voltado para a morte dentro de nós.
Há muitos investimentos. Apaixono-me por todos - até certo ponto. Porque agora preciso devotar minhas energias ao trabalho. Em um grande número de aspectos, amar pode ser muito cansativo. No entanto, acontece. Também investimos quando perseguimos nossos desejos, é claro. É uma batalha que, na minha opinião, é positiva. Não acho que resistências ou críticas negativas vindas de fora indiquem falência.
A vida é passada entre as pessoas e talvez conheçamos melhor uma pessoa que não conhecemos do que aqueles a quem conhecemos. É necessária uma certa dose de concentração quando conhecemos uma pessoa nova. É nesse ponto que surge a distorção, o aspecto criativo. Ele se evidencia de vários modos quando estamos nesse tipo de situação. Diria quase que criamos alguém quando voltamos nossa atenção ao outro.
É necessário que nos revelemos, o que é o contrário de ficarmos fechados em nós mesmos.
Em outras palavras, sou um dos artistas de Deus. Podemos fazer mágica. Não podemos encontrar outras pessoas sem que algo aconteça. Quando vemos algo decisivo, apagamo-nos, embora recebamos uma exuberante alegria de viver. Também podemos influenciar as pessoas, irradiar algo em sua direção, dar-lhes um poder até então desconhecido, assim como uma moça que foi minha modelo e em cujo corpo tracei a trilha com as mãos cheias de barro. Ela disse: "Você está deixando marcas".
Não sou naturalista. Construo a partir do que vejo na própria experiência. Que sou capaz de encontrar em qualquer lugar. Que posso levar para casa para continuar o trabalho. Poderíamos dizer que estou constantemente caçando. Posso transformar qualquer coisa em algo grande e universal. Isso pode ser feito em qualquer lugar, por qualquer pessoa, de qualquer modo. Basta que a visão e a filosofia estejam presentes. Fazer filosofia sobre as coisas? Sim, a filosofia atualmente incorporou grande parte da arte. A filosofia substituiu grande parte do campo pictórico. Até mesmo uma pintura ruim pode chamar atenção se contiver bastante verborragia. É essa a arma daquele que não tem talento, a responsável por fazer com que o nada cresça no interior de tudo. Essa filosofia não me interessa.
Uma pessoa tem somente uma vida. Não há reciclagem possível. Quando você me diz que sou uma pessoa afetuosa - e eu sinto, bem, que sou e que não sou, como você -, aí fico angustiado. Da mesma maneira que não posso falar sobre minha felicidade por medo de perdê-la. Posso ficar com ciúme das pessoas que aspiram pelo verdadeiro amor durante toda a sua vida. Há uma busca disso, dessa idílica situação, mas, em geral, ela também é uma situação repulsiva.
Existe também o problema decorrente do fato de que querer não traz satisfação. É a grande dramaticidade contida no pequeno incidente. Em cada vida humana. Nós completamos o círculo. Tanto ao cuidar de outro ser humano como ao escondermos nosso sentimento.
Já nascemos com culpa. Não conseguimos evitar a culpa nem por um dia sequer. É por esse motivo que deveríamos desculpar a nós mesmos. Você pode magoar sem ter consciência disso - espontaneamente. Há algum tempo, o amanhã seria o dia prometido e maravilhoso da humanidade. Ela só experimentou o primeiro dia. Hoje, já conhecemos também o décimo dia. Não podemos lidar com isso. Isso acaba com toda nossa força. Aí está o vazio. Sabemos da nossa sentença de morte. E o dia em que não nos sentirmos mais como crianças - é este o dia em que morremos.
Wiig Hansen escreveu o seguinte poema: "Era eu um prisioneiro ou objeto da minha imaginação, ou o que seria eu, será que seria mesmo algo, seria eu o artista que tinha arrancado sua própria pele, e deixado sua alma, sua mente, sair de seu corpo, seria eu aquele ser sobre quem você, ao me ver, diria: lá está ele, aquele tolo." |
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Wiig Hansen por Ib Munkvad | |
| A ligação entre o gênio e os desvios psicológicos foi debatida, sendo objeto de teses durante mais de 150 anos. Em geral, esse é um mito que afirma que há muitas pessoas com desvios, entre os quais podemos encontrar alguns gênios, enquanto entre eles há poucos verdadeiros gênios que não são portadores de desordens mentais no sentido psicológico da palavra.
É o trabalho o que realmente conta, de modo que não é importante sabermos se Soren Kierkegaard era maníaco-depressivo ou uma personalidade de tipo esquizofrênico, ou se H.C. Andersen tinha uma disposição neurótica ou outra desordem qualquer, ou se Van Gogh sofria de alguma doença mental.
Tendo afirmado isso, devo dizer que pode ser útiltentar analisar o que um artista pensou e sentiu, apesar de o resultado de tal esforço ser fatalmente uma conclusão subjetiva.
Chega-se ao conceito de que angústia e arte estão intimamente ligadas pelo fato de a angústia ser um sentimento presente em muitas pessoas, incluindo os artistas. Ao contrário dos outros, os artistas possuem a capacidade de expressar essa emoção humana tão comum com maior profundidade e força.
Existem referências à representação pictórica da angústia, sendo o purgatório e o inferno vistos como realidades extremamente concretas. Essa angústia é vivenciada de maneira totalmente diferente nos trabalhos do holandês Hieronymus Bosch. Suas pinturas abordam visões de pesadelo e talvez experiências alucinógenas, onde diabos, vampiros, pessoas com formas de animais e animais com formas humanas circulam em uma narrativa caótica. A característica geral dos trabalhos é de ansiedade, esta claramente manifesta em todos os seus detalhes.
Se voltarmos nossa atenção para Guernica, de Picasso - na época seu mais importante trabalho -, que agora pode ser vista em Madri, poderíamos dizer que se trata de uma evidente representação daquilo que denominamos angústia e que alguns psicólogos denominam medo. Essa é a verdadeira causa da angústia, o sofrimento concreto que temos à nossa frente.
Em alguns casos uma solidão extrema e a angústia então interligadas. A solidão pode ser um fator desejável; porém, em situações extremas, pode resultar em angústia, assim como a angústia pode conduzir à solidão.
O Grito, de Edward Munch, pode ser visto como uma clara manifestação de angst (ansiedade) - uma ilustração de ansiedade sem limites. Todos sabem que Munch isolava-se periodicamente, sem manter contato com ninguém.
A ansiedade é um fenômeno psicológico comum que, em doses apropriadas, determina o desenvolvimento normal de uma pessoa. Soren Kierkegaard escreve a respeito: "Por outro lado, trata-se de uma aventura na qual cada pessoa precisa sobreviver, aprender a conviver com a ansiedade, para não ficar perdida e deprimida por nunca ter ficado ansiosa nem por ter sido dominada pela ansiedade; portanto, aquele que aprende a ansiedade bem, aprendeu aquilo que é mais importante". Outra citação de Kierkegaard: "Quanto menor for o espírito, menor o medo".
Os trabalhos de Wiig Hansen podem ser vistos no âmbito dessa perspectiva. Durante um longo período, a arte internacional se expressou por meio de uma linguagem denominada 'expressionismo abstrato', na qual o homem está ausente. Porém, na arte de Wiig Hansen, as pessoas sempre estiveram no centro dos trabalhos.
Ib Munkvad é psiquiatra |
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Cronologia
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| Exposições
1994 Rufino Tamayo Museum, Cidade do México; Museo de Monterrey, México. 1993 Inferno, Royal Museum of Fine Arts, Copenhague, Dinamarca. 1990 Royal Museum of Fine Arts, Copenhague, Dinamarca; Galeria Zacheta, Varsóvia, Polônia. 1989 Stadtmuseum, Düsseldorf, Alemanha; Aarhus Kunstmuseum, Aarhus, Dinamarca. 1988 Lunden, Horsens Kunstmuseum, Horsens, Dinamarca; Hjorring Kunstmuseum, Hjorring, Dinamarca; Esbjerg Art Society Collection, Esbjerg, Dinamarca. 1987 The Biennial, Rostock, Alemanha; Salon de Mai, Paris, França. 1986 FIAC 86, Gallery Torso, Paris, França; Salon de Mai, Paris, França; The Danish Show, Yorkshire Sculpture Park, Cartwright, Canadá. 1985 FIAC 85, Gallery Torso, Paris, França. 1984 The Nicolai Church, Copenhague, Dinamarca; FIAC 84, Gallery Torso, Paris, França; Bienal Internacional de São Paulo, Brasil. 1983 Scandinavia Today, Nova York e Los Angeles, Estados Unidos. 1982 Sonderjyllands Kunstmuseum, Tonder, Dinamarca. 1981 The Munch Museum, Oslo, Noruega; The Gothenburg Konsthall, Gotemburgo, Suécia; The International Print Exhibition, Baden-Baden, Alemanha. 1980 Royal Print Collection; Royal Museum of Fine Arts, Copenhague, Dinamarca. 1978 Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal; Nordjyllands Kunstmuseum, Aalborg, Dinamarca. 1976 Esbjerg Art Society Collection, Esbjerg, Dinamarca. 1972 Louisiana, Humlebaek, Dinamarca; Bienal Internacional de São Paulo, Brasil. 1969 Esbjerg Art Society Collection, Esbjerg, Dinamarca. 1967 Kunstverein, Hannover, Alemanha. 1965 Kunstnernes Hus, Oslo, Noruega. 1964 Biennale di Venezia, Veneza, Itália. 1963 The Gothenburg Konsthall, Gotemburgo, Suécia. 1962 Malmö Museum; Bienal de Lugano, Suíça. 1961 La Maison Danoise, Paris, França. 1954 Biennale di Venezia, Veneza, Itália; Biennial of Drawings, Lugano, Suíça. 1946 The Artists Autumn Exhibition, Charlottenborg, Copenhague, Dinamarca.
Prêmios
1960 Guggenhein International Award, St. Louis University, Washington, Estados Unidos. 1956 Diploma de Honra, Bienal Grafiki Kraków, Polônia. | |
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